domingo, 11 de março de 2012

MULHER...


8 de Março: Dia Internacional da Mulher

Em homenagem a todas as mulheres, transcrevo a seguir alguns trechos de Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke, escrito entre 1903 e 1908, bem antes da 2.a Guerra Mundial, que marca o ingresso "oficial" da mulher no mercado de trabalho, que ela nunca mais deixou, e bem antes do movimento feminista...

Em sua visão, o poeta vislumbrou desdobramentos, principalmente no campo amoroso que, a meu ver,  ainda não se completaram de todo e estão cada vez mais incipientes...



Os Noivos vão à Cidade - Rosan


"(...) Como para a morte - que é difícil - também para o difícil amor ainda não foi encontrada até hoje uma luz, uma solução, um aceno ou um caminho.

(...) As exigências feitas à nossa evolução pela tarefa diíficl do amor são sobre-humanas e, quando estreantes, não podemos estar à sua altura.

Mas se perseverarmos apesar de tudo, e aceitarmos esse amor como uma carga e um tirocínio em vez de nos perdermos na fácil e leviana brincadeira que serve aos homens para se substrairem ao problema mais grave de sua existência então -  talvez - 
 um leve progresso e alguma facilidade venham a ser experimentados por
aqueles que chegarem muito tempo depois de nós - e isto já é muito.
(grifo nosso)

A moça e a mulher, em sua nova e peculiar evolução, apenas transitoriamente imitarão os hábitos e os vícios masculinos.

 Depois de passada a incerteza dessa transição, é que se poderá perceber que as mulheres não adotaram toda aquela multidão de desfarces senão para limpar sua profunda essência das influências deformadoras do outro sexo.

A mulher, em que a vida habita mais direta, fértil e cheia de confiança deve, na realidade, ter-se tornado mais amadurecida, mais humana do que os homens, criaturas leves a quem o peso de um fruto carnal não fez descer sob a superfície da vida e que, vaidosos e apressados, subestimam o que pensam amar.
Esta humanidade da mulher,
levada a termo entre dores e humilhações,
há de vir à luz, uma vez despidas - nas transformações de sua situação exterior -
 as convenções da exclusiva feminilidade.

Os homens que não a sentem vir ainda, serão por ela surpreendidos e derrotados.

Um dia, alí estará a moça, alí estará a mulher cujo nome não mais significará apenas uma oposição ao macho, nem suscitará a idéia de complemento e de limite, mas a de vida, de existência: a mulher-ser-humano...
(grifo nosso)

Esse progresso há de transformar radicalmente a vida amorosa de hoje, tão cheia de erros, numa relação de ser humano para ser humano, não de macho para fêmea.

E esse amor mais humano (que se produzirá de maneira infinitamente atenciosa e discreta, num atar e desatar claro e correto) assemelhar-se-à àquele que nós preparamos lutando fatigosamente,

 um amor que consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões.
(grifo nosso)

Como esquecer os mitos antigos que se encontram no começo de cada povo:
 os dos dragões que num  momento supremo se transformam em princesas?
Talvez todos os dragões de nossa vida sejam princesas
que aguardam apenas o momento de nos ver, um dia, belos e corajosos..."

(Cartas a um Jovem Poeta - Rainer Maria Rilke)


Rosanna Pavesi/março 2012