domingo, 6 de maio de 2012

NOTAS SOBRE A TRISTEZA...


(Paul Klee)


SOBRE A TRISTEZA...


Falar sobre tristeza, uma das grandes banidas de nossa sociedade contemporânea, sempre é um desafio... Defendá-la, então, parece no mínimo excêntrico...

Quando a tristeza nos visita, queremos logo que se vá, queremos nós despedir dela o mais rápido possível...e perdemos uma oportunidade impar de aprender com ela...

Tristeza:
o que é, a que ela veio?
Há um belo texto sobre tristeza que transcrevo a seguir:

"(...) Parece-me que todas as nossas tristezas são momentos de tensão que consideramos paralisias porque já não ouvimos viver nossos sentimentos que se nos tornam estranhos.

Porque estamos a sós com o estrangeiro que veio nos visitar...
Porque, num relance, todo o sentimento familiar e habitual nos abandonou...
Porque nos encontramos no meio de uma transição onde não podemos permanecer.

Eis porque a tristeza também passa:
A novidade em nos, o acréscimo, entrou em nosso coração, penetrou no seu mais íntimo recanto.
Não podemos dizer quem/o que veio, talvez nunca venhamos a saber, mas muitos sinais fazem crer que é o futuro que entra em nos dessa maneira para se transformar em nos mesmos muito antes de vir a acontecer.

Por isto é tão importante estar só e atento quando se está triste.
O momento aparentemente anodino e imóvel, em que o nosso futuro entra em nos, está muito mais próximo da vida do que aquele outro, sonoro e acidental, em que ele nos sobrevem como se chegasse de fora...

(...) Por que deseja excluir de sua vida toda e qualquer inquietação, dor e melancolia, quando não sabe como tais circunstâncias trabalham no seu aperfeiçoamento?
Não sabia estar em transição? Desejava algo melhor do que transformar-se?

Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se libertar de um corpo estranho...
É só ajudá-lo a ficar doente, ter toda a doença e deixar a esta o seu curso...
Deve ter a paciência de um doente e a confiança de um convalescente, pois talvez seja um e outro.
Não se observe demais. Não tire conclusões demasiadamente apressadas do que lhe acontece...
Deixe as coisas acontecer pois, de qualquer forma,
a vida tem sempre razão..."
(Rainer Maria Rilke, em Cartas a um Jovem Poeta)

Um belo texto, que devolve à tristeza sua legitimidade, dignidade e altivez...
Eu quero, sim, ter de volta o direito à minha tristeza ...
E você?

Rosanna Pavesi/maio 2012