domingo, 24 de junho de 2012

REENGENHARIA DO TEMPO...


by Candido Portinari


REENGENHARIA DO TEMPO...

A palavra reengenharia entrou na língua inglesa ao longo dos anos 90 quando, em função da competitividade internacional e da globalização, as grandes corporações fizeram tabula rasa  de seus métodos de produção e gestão, para tornar-se mais eficientes.
A isso chamaram de reengineering...
Mudaram seus procedimentos e grande parte de seus efetivos foi despedida.
O impacto social foi penoso, enquanto os lucros das empresas aumentavam.

Ou tudo que precisava de reengenharia foi reengenherado, ou a palavra saiu de moda...
Ou a reengenharia do tempo, se é que foi feita, não deu certo?

Pois resta o  fato  que o tempo continua sendo uma aflição constante no mundo contemporâneo.
Temos a sensação de que não há tempo para fazer nem o que nos cabe, nem o que nos apraz...
O cotidiano de homens e mulheres trabalhando a tempo integral deu visibilidade à importância
do privado e ao tempo que ele requer.
Um repensar as relações de genêro, o futuro da família e uma nova articulação
 entre mundo do trabalho e vida privada torna-se necessário.

Tempo não é dinheiro - como costuma-se dizer...
Tempo é a a matéria-prima da vida, esgotável,
por demais preciosa para ser malbaratada...

O tempo é então a primeira conquista...

(Rothko)


GANHANDO A VIDA...

De forma geral, a expressão "ganhar a vida" significa garantir a sobrevivência
graças a um trabalho remunerado.
Mas a mesma expressão, lida ao pé da letra, pode significar recuperar a vida,
trazê-la de volta em suas múltiplas dimensões de fruição do mundo, 
andando na contramão da inclemente invasão da mentalidade produtivista,
 que expropria a vida privada, tragando os momentos do amor e do lazer.

Ganhar a vida significa, antes de mais nada, reapropriar-se de sua matéria-prima:
o tempo...

O tempo, esse bem tão raro que não pode ser comprado, pelo menos não além de um certo limite...
Porque o tempo, a morte não vende...

Antes ganhávamos a vida no trabalho.
Hoje é o trabalho que ganha nossa vida.
Na medida em que a vida produtiva ganha terreno sobre o tempo da vida afetiva,
é o cotidiano das pessoas que vai moldando uma sociedade em que encolhem os vínculos fundamentais, esvaziados assim de sua própria humanidade.  

Há quem reconheça na época do avanço tecnológico em que vivemos um novo Renascimento.
Mas, no plano social, deslizamos para uma pré-história, em que a sobrevivência era o único objetivo.
Recriou-se no mundo contemporâneo uma selva em que a agressividade e a competição são valores centrais, a seleção natural reinventada em seleção cultural e economica.
Cada um de nós é transformado diariamente em um predador, tanto mais bem-sucedido quanto mais feroz e astuto, empenhado na destruição do outro, condição mesma do sucesso.
E, mais espantoso e estarrecedor ainda, é o fato de que esse gigantesco retrocesso
é apresentado ao mundo como modernidade...

A convivência humana, construida sobre normas e comportamentos múltiplos, é uma conquista permanente, criacão ativa e cotidiana, uma rebelião original contra a fera ancestral que nos habita.
Mas não nos enganemos...
Domesticada, ela pode enlouquecer a qualquer momento, excitada pelas ameaças dessa nova selva
e nos levar de volta à barbárie.
A reengenharia do tempo é uma tentativa de repensar o cotidiano de homens e mulheres,
com vistas a aumentar sua qualidade de vida e seu produto de felicidade bruto.

A conciliação entre vida privada e vida profissional é tarefa difícil...
A reengenharia do tempo é uma aposta em que está em jogo o reconhecimento da diversidade dos homens e das mulheres, de sua incontornável igualdade de direitos e
de aspiração à liberdade e à felicidade.
É um exercício cujo objetivo último é reabrir a discussão sobre o sentido da vida,
relembrando a importância dos atos gratuitos, dos laços de afeto e solidariedade.

A reengenharia do tempo é a condição de eficiência na produção de si e de uma felicidade revitalizada...

É uma nova arte de viver...

Boa reengenharia... de seu tempo... de sua vida...


Rosanna Pavesi/junho 2012

(Notas: Rosiska Darcy de Oliveira - Reengenharia do tempo - Rio de Janeiro, RJ, Rocco, 2003)


 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

TER OU NÃO TER NAMORADO? EIS A QUESTÃO...

Os Noivos Vão à Cidade (Rosan)



TER OU NÃO TER NAMORADO? EIS A QUESTÃO...

A seguir um belo texto de Carlos Drummond de Andrade sobre a questão...

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado mesmo é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem quer se proteger
e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção.
A proteção dele não precisa ser parruda, decidida, ou bandoleira;
basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor:
é quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem três pretendentes. dois paqueras, um envolvimento e dois amantes,
mesmo assim pode não ter nenhum namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai,
sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho,
Quem acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa
 e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor das mãos dadas,
de carinho escondido na hora em que passa o filme,
de flor catada no muro e entregue de repente;
de poesia de Fernando Pessoa,Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar;
de gargalhada quando se fala junto ou se descobre meia rasgada;
de ansia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado,
tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compras junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor,
nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele,
abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado
e sai com ela pelos parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton Nascimento,
bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros,
quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato do seu bem ser paquerado.
Não tem namorado quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir,
quem curte sem se aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana,
na madrugada, ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo,
e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre
e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos:
ponha a saia mais leve, aquela de chita,
e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove alma com leves fricções de esperança.

De alma escovada e coração estourado,
saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui
e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos
e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta
e do céu descesse uma névoa de borboletas,
cada qual trazendo uma pérola falante a dizer sutis frases e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado
é porque ainda não enloqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar
e de repente parecer fazer sentido.
Enlou-cresça! "
(Carlos Drummond de Andrade)


Bonito, não é...
E aí, vai ou não querer ter um namorado?

Rosanna Pavesi/Junho 2012

domingo, 3 de junho de 2012

AMOR... IMAGENS .....


(by Martha Telles)








Quando começamos a gostar de alguem?...

AMOR...IMAGENS...

Neste mês de junho, uma homenagem em imagens ao Amor, a Eros, o grande Cosmogono...

O Amor, que move o Sol, como as outras Estrelas...
(Dante Alighieri)


Candido Portinari














Marc Chagall






Chico Stockinger















Gustav Klimt

















Fragmentos de um discurso amoroso, imagens captadas pelo olhar do artista...



A Teia da Vida...



(by Dirce Schüler)




Rosanna Pavesi/Junho 2012