Cidade de Sonho by Rosan
SOBRE FANTASIA...
Por fantasia, C.G. Jung entende duas coisas distintas:
A)- O Fantasma (fantasia ativa e passiva)
B) - A Atividade Imaginativa.
C.G. Jung
A FANTASIA COMO FANTASMA
"Por fantasia enquanto fantasma
entendo um complexo de representações que se distingue
de outros complexos de representações
por não lhe corresponder externamente uma situação real.
Na realidade da experiência psicológica do dia-a-dia,
a fantasia ou é acionada por uma atitude intuitiva de expectativa
ou é uma irrupção de conteúdos inconscientes na consciência"
(C.G.Jung - XI.Definições - em Tipos Psicológicos, OC/Vol.VI - par.799)
É também possível distinguir entre fantasia ativa e fantasia passiva...
Tanto uma quanto a outra só podem ocorrer numa dissociação relativa da psique,
pois seu aparecimento pressupõe que uma quantidade considerável de energia
se tenha subtraido ao controle consciente
e se apossado de materiais inconscientes.
As fantasias ativas, características da mentalidade criativa,
são evocadas por uma atitude intuitiva
voltada para a percepção dos conteúdos inconscientes.
A fantasia ativa, enquanto produto de uma atitude consciênte
que NÃO é necessariamente oposta ao inconsciente,
requer mais compreensão do que crítica.
As fantasias passivas são manifestações espontâneas e autônomas
dos complexos inconscientes.
A fantasia passiva necessita sempre de uma crítica consciente,
para que não se reforce meramente o ponto de vista do inconsciente.
C.G. Jung
Segundo Jung:
"É provável que a fantasia passiva tenha sua origem
num processo inconsciente e oposto à consciência
mas que reune em si
quase tanta energia quanto a atitude consciente e, por isso,
é capaz de quebrar a resistência dessa.
A fantasia ativa, ao contrário,
não deve sua existência unilateralmente
a um processo inconsciente intenso e contraditório,
mas também a uma disposição da atitude consciente
de assumir os indícios ou fragmentos de relações inconscientes
e relativamente pouco acentuadas e,
por meio de associação de elementos paralelos,
apresentá-los numa forma visual plena.
Não se trata, portanto, na fantasia ativa,
necessáriamente de um estado de alma dissociado mas, antes,
de uma participação positiva da consciência."
(C.G. Jung - XI.Definições, em Tipos Psicológicos, OC Vol. VI - par.800-801)
Ainda:
"Resumindo, podemos dizer que a fantasia
deve ser entendida tanto causal como finalisticamente:
- À explicação causal, a fantasia aparece como sintoma
de um estado fisiológico ou pessoal
resultado, por sua vez, de acontecimento anterior.
- À explicação finalista, porém, a fantasia se apresenta como símbolo
que procura, com ajuda de materiais disponíveis,
caracterizar ou apreender certo objetivo ou, melhor,
certa linha de desenvolvimento psicológico futuro"
(C.G. Jung - XI.Definições em Tipos Psicológicos, OC, Vol.VI, par.808)
C.G. Jung
FANTASIA COMO ATIVIDADE IMAGINATIVA
"A imaginação é a atividade reprodutora ou criativa do espírito em geral,
sem ser uma faculdade especial,
pois se reflete em todas as formas básicas da vida psíquica:
pensar, sentir, sensualizar, intuir.
Para mim, a fantasia como atividade imaginativa
é mera expressão direta da atividade psiquica,
da energia psíquica que só é dada à consciência
sob a forma de imagens ou conteúdos.
(...) É um sistema de força manifestado à consciência..."
(C.G. Jung, XI. Definições, em Tipos Psicológicos, OC Vol. VI - par.810)
C.G. Jung
CONCLUINDO...
Segundo Jung:
"A partir desse ponto de vista, pode-se dizer, então, que
a fantasia enquanto fantasma
é uma determinada quantidade de energia que
não pode manifestar-se à consciência a não ser na forma de imagem.
O fantasma é uma idéia-força.
O fantasiar enquanto atividade imaginativa
é idêntico ao fluir do processo psíquico de energia"
(C.G. Jung - XI. Definições, em Tipos Psicológicos, OC Vol.VI - par. 810
Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1991)
IMAGENS DE FANTASIA E SONHOS...
Jung considerava as imagens de fantasia que atravessam
nossos sonhos acordados e nossos sonhos da noite -
e que estão presentes inconscientemente em toda nossa consciência -
como os dados primários de nossa psique.
Tudo o que sabemos e sentimos, e cada afirmação que fazemos,
estão baseados em fantasia,
ou seja, provêm de imagens psíquicas.
Estas não são simplesmente os destroços da memória,
a reprodução das percepções,
restos arranjados daquilo que impacta nossas vidas...
J. Hillman
Seguindo Jung e, posteriormente, Hillman,
podemos utilizar as palavras imagens de fantasia
no sentido poético, considerando as imagens
como os dados básicos da vida psíquica,
que se auto-originam, são inventivas, espontâneas,
completas e organizadas em padrões arquetípicos.
James Hillman , rumo a uma psicologia da alma,
baseada numa psicologia da imagem, vai sugerir,
tanto uma base poética da mente,
quanto uma psicologia que começa nos processos da imaginação...
Rosanna Pavesi/Fevereiro 2014 |