sábado, 31 de maio de 2014

SOBRE CONIUNCTIO...

Os Noivos vão à Cidade (by Rosan)

CONIUNCTIO...
ALGUMAS NOTAS...

" (...) A relação macrocósmica é uma grande dificuldade.
Ela se apresenta sintomaticamente e em primeiro lugar na forma de uma pressão
para tornar objetiva, externa e palpável a relação microcósmica.

A coniunctio das metades masculina (espírito) e feminina (vida) do si-mesmo poderia
 dominar o indivíduo e forçá-lo a uma manifestação física, isto é, cósmica. 

Mas cada arquétipo antes de ser integrado conscientemente,quer manifestar-se fisicamente
e por isso força o sujeito a entrar na forma dele.

O si-mesmo em sua divindade (isto é, o arquétipo) está inconsciente de si mesmo. (grifo nosso)
Ele só pode tornar-se consciente dentro da nossa consciência.
E só pode conseguí-lo se o eu permanecer firme.

Ele (o si-mesmo) deve tornar-se tão pequeno, e menor ainda, quanto o eu, 
ainda que seja o mar da divindade.

Deve tornar-se o Pequeno Polegar em seu coração.
O hierosgamos realiza-se no vaso.

Nós só podemos dar-nos as mãos e conhecer algo sobre o interior do homem.
As possibilidades sobre-humanas não são de nossa alçada..."

(C.G. Jung - CARTAS - 1906-1945 - volume I  - Vozes 2001)
Carta a Aniela Jaffé/Zurique - 03.09.1943)


Há textos que, a meu ver, são impossíveis de comentar, a risco de sermos reducionistas...
O texto acima, a meu ver, é um deles...

Deve ser lido de mente aberta, porém presente...
O que cativar sua atenção...
É isso...

Rosanna Pavesi - maio 2014

domingo, 18 de maio de 2014

SOBRE SUBLIMATIO...

O Jardim de Afrodite (by Rosan)

SUBLIMATIO...

" (...) Sublimatio faz parte da arte regia de como se faz o verdadeiro ouro.

(...) Não é nenhum traslato voluntário e forçado de um instinto para um campo de uso impróprio, mas uma transformação alquímica (grifo nosso) para a qual são necessários o fogo e a matéria-prima negra.

A Sublimatio é um grande mistério.
Mas quem hoje em dia entende dessas coisas? 
Por isso permanece na obscuridade."

Notas

"O "ouro verdadeiro" é uma das idéias básicas da alquimia.
 Ele não se refere ao metal, mas é símbolo de um estado de perfeição que combina 
o ctônico e o espiritual, o corpo e a alma, a luz e a escuridão,
 tudo numa totalidade polar.

Como união dos opostos, o ouro alquímico é denominado " res simplex". 
É a tão procurada "substância simples" que alguns textos também relacionam a Deus.
 Psicologicamente, poderíamos interpretar o "ouro verdadeiro" como símbolo do si-mesmo." 
(Cf. C.G. Jung -  "Sobre as raízes da consciência", 1954, p. 185, nota 147 - OC Voume. XIII)

"A verdadeira sublimatio é um processo de transformação
 que pode acontecer tanto no espiritual como na matéria 
e cujo objetivo está numa união dos opostos, 
na obtenção do "ouro verdadeiro".

Ao contrário da concepção alquímica,
 o conceito freudiano de sublimação delimita uma mudança que só ocorre
 numa direção, isto é, do ctônico para o espiritual: 
uma transformação de moções instintivas biológicas, 
como a sexualidade, em modos de proceder ditados pelo espírito, 
onde os objetivos naturais são substituídos por outros 
como, por exemplo, sociais, artísticos, etc."

(C.G. Jung - CARTAS - 1906-1945 - Volume I - Vozes, 2001
Carta a Hermann Hesse/Montagnola, Tessin - 18;09.1934)

Pessoalmente, compartilho mais da visão alquímica de sublimatio do que 
do conceito de "sublimação" como mecanismo de defesa do ego...

Rosanna Pavesi/maio 2014

sábado, 10 de maio de 2014

A SOMBRA... ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...

O Mago Negro by P. Klee


SOBRE A SOMBRA...
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...


" (...) O que o senhor chama de técnica de uma confrontação com a sombra 
toca uma questão bastante difícil e importante.
Realmente NÃO existe uma técnica geral, enquanto técnica significar 
uma regra conhecida e talvez mesmo prescrita para resolver 
uma determinada dificuldade ou tarefa.
É, antes, um procedimento comparável à diplomacia.
(...) Se for possível falar de técnica em geral (em relação à sombra), 
ela consiste exclusivamente numa atitude (grifo nosso).

Em primeiro lugar, é preciso aceitar e levar a sério a existência da sombra.
Em segundo lugar, é preciso estar informado sobre suas propriedades e intenções.
E, em terceiro lugar, são necessárias longas e difíceis negociações. (...)
Ninguém pode saber como terminarão essas negociações. 
Sabe-se apenas que o problema em si vai sofrendo transformações 
através de colaboração cuidadosa.

Muitas vezes, as intenções aparentemente impossíveis da sombra 
são apenas ameaças,como resposta à recusa do eu de prestar-lhe uma atenção real.
Estas ameaças costumam diminuir quando são enfrentadas com seriedade.

Os pares de opostos têm uma tendência natural de encontrar-se na linha do meio, mas 
o meio nunca é um compromisso inventado pelo intelecto e imposto aos partidos em luta.
É antes o resultado do conflito que se pretende resolver. (grifo nosso).

Em nenhum caso os conflitos se resolvem através de  truques habilidosos ou de mentiras, 
mas sim pelo fato de nós os suportarmos.
Eles precisam ser esquentados, por assim dizer, até que a tensão fique insuportável; 
então os opostos se fundem aos poucos mutuamente.
É uma espécie de procedimento alquímico, mas não uma escolha e decisão racionais.

Sofrer faz parte imprescindível.Toda solução real só será encontrada 
através de sofrimento intenso.

O sofrimento indica até que ponto nós somos insuportáveis a nós mesmos.
(...) Concordo que não é fácil encontrar a fórmula correta: 
mas, se a encontrarmos, teremos feito uma totalidade de nós,
e isto, acredito eu, é o sentido da vida humana."

(C.G. Jung - CARTAS - 1906-1945 - Volume I - Vozes, 2001
Carta a Mr. P.W. Martin/Genebra - 20.08.1937)

Sobre a Sombra pessoal

Na carta acima, fica claro que Jung está se referindo à nossa sombra pessoal e individual
 e não à Sombra coletiva ou arquetípica...

No caso da sombra pessoal, trata-se dos aspectos ocultos ou inconscientes  de si mesmo, 
bons ou mausque o ego jamais conheceu 
ou então reprimiu, por não estarem de acordo com o "ego ideal" ou
com a Persona, a face que mostramos em público.

Há impulsos não civilizados, motivos moralmente inferiores, 
fantasias e ressentimentos infantis, enfim, 
todas aquelas coisas das quais não nos orgulhamos...

Estas características pessoais não reconhecidas ou não aceitas como nossas
são muitas vezes experimentadas nos outros, através do mecanismo de projeção...
Vale lembrar que a projeção é sempre inconsciente...

Na medida em que nos identificamos com uma persona exclusivamente brilhante, 
a sombra é correspondentemente escura. 

Assim, sombra e persona situam-se num relacionamento de compensação e o conflito 
entre ambas está invariavelmente presente na eclosão de uma neurose.
A depressão característica de tal momento indica a necessidade 
de constatarmos que não somos tudo o que fingimos ou que gostaríamos de ser.

Ao ego incumbe a responsabilidade pela sombra.
 É por essa razão que a sombra é um problema moral. 
Uma coisa é perceber seu aspecto - do que somos capazes; 
outra, bem diferente, é determinar o que podemos prescindir ou incluir.

Quando "tudo é sempre culpa do outro"... Quando a responsabilidade "é sempre do outro"...
Quando é sempre "o outro que está errado, o outro que nos sacaneou, etc.etc."
ou vivemos - definitivamente - na inconsciência de quem somos,
ou, então, está na hora " de botar a mão na massa..."

O trabalho com a sombra não é uma etapa, é um trabalho contínuo e para a vida toda,
posto que a vida é movimento, é mudança,
 e o que está correto hoje pode estar errado amanhã, 
dependendo das contingências e das situações...

É UM GRANDE DESAFIO...

Rosanna Pavesi/maio 2014

terça-feira, 6 de maio de 2014

SOBRE IMAGENS DE FANTASIA...ALGUMAS CONSIDERAÇÕES,,,

O Inverno (by Rosan)

SOBRE IMAGENS DE FANTASIA...
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...

" (...) Quanto à sua dificuldade com a questão da causalidade das imagens da fantasia, 
gostaria de dizer o seguinte:

é certo que as condições externas são causa de reações internas, 
mas a causa externa é apenas uma das condições da reação; 
a outra condição é sempre o traço característico do reagente.

Não se deve admitir que aquilo que reage seja uma coisa sem qualidade.
 Em outras palavras: como qualidade pertencente ao corpo vivo, 
a psique tem desde o início sua natureza específica, 
que se distingue da natureza do objeto externo.

Como o senhor sabe, uma imagem psiquica do objeto externo não é idêntica a ele.

A afirmação de que a psique se constitua apenas 
da ação de fatores externos sobre ela 
 é tão incorreta quanto aquela de que 
todos os objetos externos são meras imagens projetadas pela psique. 

Uma observação cuidadosa da psique do primitivo
 mostra que ele não se ocupa  (conscientemente) de sua personalidade, 
mas é sua personalidade que se ocupa intensamente consigo mesma:
 as ações e as imagens do primitivo procedem diretamente do inconsciente, 
sem participação da consciência, exatamente como acontece em nossos sonhos.

Evidentemente, as imagens oníricas são respostas a fatores e condições externos,
mas são respostas da psique e, assim, cópias fieis de fatos psíquicos.

Quando se compara o mito do Sol com a experiência real dos sentidos,
então a diferença fica bem clara.
 A consciência percebe o sol como um corpo celeste esférico; 
o inconsciente cria um mito cuja representação figurativa 
tem uma relação pouco consistente 
com a percepção real dos sentidos.

(...) A suposição de que a psique só assimile o que se origina de objetos externos 
ou aquilo que se impõe a ela de fora, baseia-se num grande erro.
Se assim fosse, 
nosso inconsciente só produziria imitações exatas de fatos externos;
 mas isto não é o caso."

(C.G. Jung - CARTAS - 1906-1945 - Volume I - Vozes, 2001
Carta a Dr. Henry A. Murray//Cambridge (Mass) USA - 10.09.1935)


As respostas oníricas são respostas da psique...
De forma que, mesmo quando se trata de imagens oníricas como "resíduos do dia", 
nunca são representações figurativas tão só,
 mas sim " respostas da psique" a partir de seu próprio ponto de vista...

No sonho, uma cama é uma cama, um carro é um carro, uma árvore é uma árvore, 
MAS NÃO SÓ....

Rosanna Pavesi/Maio 2014



quinta-feira, 1 de maio de 2014

FRAGMENTOS...


FRAGMENTOS...


C.G. Jung (Fonte: Web)

As CARTAS, como são hoje conhecidas, representam um complemento e uma espécie de comentário da obra de C.G. Jung.

A seguir, alguns fragmentos que me pareceram significativos e que compartilho...


CARTAS
 1906-1945 - Volume I

Vozes, 2001


By A. Piza


To Francis Wickes/EUA - 06.11.1926

Ninguém está livre do sofrimento enquanto  nada na torrente caótica da vida.
(...) Não existe nenhuma dificuldade em minha vida que não seja exclusivamente eu mesmo.
Ninguém deverá carregar-me  (
grifo nosso)
enquanto eu puder manter-me sobre meus próprios pés...


By A. Piza


Ao Dr. Paul Maag/Adelboden, Suiça - 12.06.33

(...) Minha atitude subjetiva (grifo nosso)  é respeitar toda convicção religiosa, mas traço uma rigorosa linha divisória entre o conteúdo da fé e as exigências da ciência
.
Considero imprópria a mistura dessas incomensurabilidades.
Considero também pretensioso atribuir ao conhecimento humano uma capacidade que ultrapassa comprovadamente os seus limites.


(...) O que a humanidade denominou Deus desde os tempos mais antigos é simplesmente o inescrutável  
(grifo nosso).
Como vê, sou totalmente incorrigível e incapaz de fazer uma mistura de teologia e ciência...



By A. Piza


À Sra. R./Suiça - 15.12.1933

Suas perguntas são irrespondíveis, pois a senhora quer saber como se deve viver.
A gente vive como pode.

Não existe um único caminho determinado para o indivíduo, que lhe fosse prescrito ou adequado.
(...) Se quiser trilhar  seu caminho próprio, então será o caminho que a senhora há de fazer, que não é prescrito por ninguém, que não se conhece de antemão mas que surge simplesmente por si mesmo quando se dá um passo depois do outro.


Se fizer sempre aquilo que se apresenta como o passo seguinte,
então andará da forma mais certa e segura ao longo das linhas prescritas pelo seu inconsciente.
Aí não adianta nada especular sobre o que se deve viver.
Sabe-se então também que isto não se pode saber.


O importante é fazer silenciosamente a coisa mais próxima e mais necessária.
(...) Quando se faz com convicção o mais próximo e o mais necessário, então se faz sempre o que tem sentido de acordo com o destino.

By A. Piza


To P.W.Martin/Colwyn Bay/North Wales/Inglaterra - 28.08.1945

(...) O senhor tem razão em dizer que o interesse principal do meu trabalho não está no tratamento das neuroses, mas numa aproximação do numinoso (grifo nosso).
O fato é que o acesso ao numinoso é a verdadeira terapia e na medida em que se chega às experiências numinosas, há uma libertação da maldição da doença.
A própria doença assume um caráter numinoso.




As nossas " rachaduras" são ouro puro...
Imagem: web


AS CARTAS cairam no meu colo... 
Isto costuma ser frequente... Respeito...
Há com certeza algo que preciso ler, ou reler, como é o caso aqui...

Carregar a si mesmo, teologia e ciência, como se deve ou pode viver, o caminho a seguir, a doença e o numinoso...
Questões que têm estado particularmente presentes ultimamente...
Um bem-vindo material...

Boa leitura e boa reflexões, caso estas questões também lhe toquem e afetem...

Rosanna Pavesi/Maio 2014