segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

CONTOS DE FADA PARA ADULTOS; O VELHO ALQUIMISTA (DE BURMA)

Senex - by Paul Klee


O VELHO ALQUIMISTA

(Resumo do conto Use o Thorn to draw a Thorn extraído da obra de E. Brochett, 
Burmese and Thai Fairy Tales (Londres, Frrederick Muller, 1965) 

Era uma vez um velho que vivia com uma linda filha.
Ela se apaixonou por um belo rapaz e ambos casaram, com a benção do pai.
O jovem casal viveria feliz, se não fosse um problema:
o marido dedicava todo o seu tempo à alquimia,
sonhando com uma maneira de transformar elementos comuns em ouro.
Logo seu patrimônio acabou e a jovem esposa tinha que lutar diariamente 
para comprar o que comer.
Afinal, pediu ao marido que procurasse emprego, mas ele protestou.
- Estou às portas de uma grande descoberta! - insistia -
Quando eu terminar seremos mais ricos do que sonhamos!


by Rothko


A jovem esposa, por fim, contou seu problema para o pai.
Este ficou admirado ao saber que seu genro era alquimista,
mas prometeu ajudar a filha e pediu que
o jovem viesse vê-lo no dia seguinte.
O rapaz foi contrariado, esperando uma reprimenda.
Para surpresa sua, o sogro lhe confiou:
- Eu também fui alquimista quando jovem! -
O sogro perguntou ao moço sobre o seu trabalho e 
os dois passaram a tarde conversando.
Finalmente, o velho ergueu-se animado. 
- Você tem feito tudo o que eu fiz! - exclamou. 
- Está, sem dúvida, às portas de uma grande descoberta.
Mas, para transformar elementos comuns em ouro você precisa
de mais um componente, e só recentemente eu descobri esse segredo.
- O velho fez uma pausa e suspirou -
Sou, porém, muito velho para realizar essa tarefa. 
Requer muito esforço.


by Paul Klee


- Eu posso fazê-lo, querido pai! - disse o moço espontaneamente.
O rosto do velho se iluminou - Sim, talvez você possa . 
- E, então, curvando-se, sussurrou: 
- O componente que você precisa encontra-se no pó prateado que cresce na folha das bananeiras.
Esse pó se torna mágico quando você mesmo as planta e lança 
um certo encantamento sobre elas.
- De quanto pó precisamos? - o moço perguntou.
- Duas libras - o velho respondeu.
O genro raciocinou em voz alta: - Isso requer centenas de bananeiras!
- Sim - suspirou o velho - e é por isso que eu não posso terminar o trabalho sozinho.
- Não tema! - o jovem disse. - Eu o farei! - 
E assim o velho ensinou ao genro as palavras mágicas e lhe emprestou
o dinheiro para o empreendimento.


Dream Catcher


No dia seguinte o moço comprou o terreno e o carpiu.
Ele mesmo cavou a terra de acordo com as instruções do velho,
plantou as bananeiras e dirigiu-lhes as palavras mágicas.
Cada dia ia examinar as plantas, livrando-as das  doenças
e das ervas daninhas e, quando deram frutos, 
recolheu pó prateado de suas folhas.
Havia muito pouco em cada planta e então o moço 
comprou mais terra e plantou mais bananas.
Depois de muitos anos, conseguiu juntar duas libras de pó mágico.
Correu à casa do sogro.


Cacos e Farrapos by Rosan


- Consegui o pó mágico - o moço exclamou.
- ótimo! - o velho respondeu exultante.
- Agora vou lhe mostrar como transformar elementos comuns em ouro!.
Mas, primeiro, você precisa chamar sua esposa. Precisamos de sua ajuda.-
O jovem  ficou surpreso, mas obedeceu.
Quando a filha chegou, o velho perguntou-lhe:
- Enquanto seu marido juntava o pó de bananeira, o que você fez com os frutos?
- Ora, vendi-os - a filha respondeu -, e foi assim que ganhamos a vida.
- Você economizou algum dinheiro? - perguntou o pai.
- Economizei - ela respondeu.


by G.Klimt


- Posso vê-lo? o velho perguntou.
A filha então correu até sua casa e voltou com diversas sacolas.
O velho abriu-as, viu que estavam cheias de ouro 
e despejou as moedas no chão.
Pegou, depois, um punhado de poeira e colocou ao lado do ouro.
- Veja - disse, voltando-se para o genro - , você transformou a poeira em ouro!


Stardust - WEB


Seguiu-se  um momento de tensão, no qual o moço permaneceu calado.
Depois riu, ao compreender a sabedoria implícita no truque do velho.

E, desse dia em diante, 
ele e a esposa prosperaram muitíssimo.
Ele cuidava da plantação 
enquanto ela ia ao mercado vender as bananas.
E ambos reverenciavam o velho como o mais sábio dos alquimistas...


A Caminho da Cidade by Rosan

E todos viveram felizes para sempre...

Degustem o conto...
Retirem dele o que acharem melhor...
Ou, não retirem nada...
Simplesmente curtam...

Rosanna Pavesi/Janeiro 2016

No próximo post: algumas reflexões sobre o tema
"Sabedoria"
(se é que ela existe...)