quinta-feira, 23 de março de 2017

ENTREVISTA COM W. GIEGERICH: COMO DESCREVERIA UM ANALISTA JUNGUIANO (2)

Psi - by Rosan


COMO DESCREVER UM ANALISTA JUNGUIANO?

(Parte 2)

Continuação Resposta de Giegerich:

SE definirmos um "analista junguiano" na linha do
 "eu mais Jung" 
graças a um conjunto de determinadas convicções teóricas, 
esta definição poderia ser chamada de descrição horizontal, 
 um movimento a partir de mim em direção ao outro.

Em contraste,
 o movimento em direção àquilo que eu sou verdadeiramente,
o querer sem somente eu mesmo
é um movimento vertical,
um movimento da superfície em direção ao núcleo, à sua essência interior.

Penso que  este compromisso com a verticalidade
 que, quando não se limita, nem se fecha exclusivamente sobre si mesmo,
mas se oferece  como forma de estar no mundo, 
como caminho, 
em relação a toda e qualquer coisa, todo e qualquer evento e/ou fenômeno que se apresente
é a marca distintiva do analista junguiano.

É um compromisso com a unicidade de cada fenômeno,
a "agoridade" da situação deste paciente específico hoje,
a "unicidade" de minha compreensão, minha resposta 
àquilo que se apresenta aqui e agora...

(No lugar de conceitos universais - abstratos prontos,diagnósticos, imagens míticas 
ou técnicas prontas...).

Por outro lado, 
é um compromisso com algo que não salta à vista de imediato,
algo abaixo do nível dos fatos positivos,
um compromisso com a "alma" no real,
um compromisso com a vida lógica  o "opus alquímico" 
que permeia e perpassa tudo que se apresenta,
um compromisso com a profundidade histórica de cada momento presente.


Algo mais:

O analista junguiano encontra seu paciente olho no olho,
a um nível profundamente humano e pessoal,
mas seu foco psicológico  - precisamente - 
 é dirigido não à pessoa, mas sim ao conceito..."

(W. Giegerich em "Living with Jung- 'Enterviews' with Jungian Analysta"
Vo. 3 - by R. & J. Henderson - Spring 2010).

O consultório como um "Labor Oratorium"...
Um espaço sagrado, um temenos
tanto para o terapeuta como para o cliente...
Um "vaso alquímico" para ambos...
Ambos serão transformados...

Rosanna Pavesi/março 2017


domingo, 19 de março de 2017

ENTREVISTA COM W. GIEGERICH: COMO DESCREVERIA UM ANALISTA JUNGUIANO? (1)

                                Paixão Silenciada - by  Rosan  

COMO DESCREVER UM ANALISTA JUNGUIANO?

Robert & Janis Henderson conduziram entrevistas com analistas junguianos de diversas gerações e Países, que resultou numa Coletânea de  3 Volumes: "Living with Jung - 'Entreviews' with Jungian Analysts" -  Spring 2010. 

A seguir um trecho da entrevista com W. Giegerich  (Vol. 3) realizada via internet entre 2007 e 2008. Giegerich, na época tinha 66 anos. 
(tradução livre do original em Inglês).

"Pergunta: Você passou mais de trinta anos sendo um analista junguiano. 
Como você descreveria um analista junguiano?

Resposta: O mundo dos analistas junguianos apresenta um quadro de grande diversidade.
Sua pergunta, portanto, talvez queira se referir a um "tipo ideal".
Mesmo assim, não há como fazer uma descrição uniforme...

Não há como apresentar uma lista de artigos de fé, convicções teóricas e técnicas que constituam a essência de ser um analista junguiano. 
De forma que só posso dar uma "descrição" formal e, mesmo assim, 
uma descrição que traz em seu bojo uma contradição:

Um analista junguiano é alguém que é verdadeiramente si mesmo/a, mas que 
- justamente por ser ele/a mesmo/a - se sente comprometido com a "mesma" tarefa 
que representa o "spiritus rector" da psicologia de Jung.

Ser si mesmo, derradeiramente si mesmo, é algo essencial na descrição de um junguiano.
A abordagem junguiana é "a escola da individuação", como já afirmou Rudolf Blomeyer;
e isto também significa individualidade.
Jung afirmava, corretamente, que somente ele poderia ser um junguiano...

Isto significa que, para ser um junguiano, você não pode ser um junguiano,
você precisa ser você mesmo...
Qualquer imitação do modo como Jung pensava,
Qualquer adoção dogmática de suas ideias,
Qualquer aplicação das técnicas por ele desenvolvidas,
desqualificaria você como analista junguiano.

Portanto, a noção de "analista junguiano"  é inevitavelmente plural
e não - como sua forma linguística parece sugerir - singular.

A  própria descrição de um tipo ideal de analista junguiano implica - inevitavelmente - 
a diversidade.

Penso que aqui, no campo de indivíduos humanos reais, 
é que podemos encontrar
 o lugar correto, apropriado, de pertencimento do importante tópico do pluralismo em psicologia.

Jung se referia a este pluralismo como "equação pessoal".

Localizá-lo na alma ("a psique plural"), nos arquétipos ou nos deuses ("psicologia politeista")
não me parece adequado.

Agora surge a questão: O que torna todos estes indivíduos diversos e singluares,
que são realmente eles mesmos, mesmo assim "junguianos"?

A marca que os distingue não pode ser simplesmente um "algo" a ser acrescentado
("eu mais Jung");
deve ser então algo previamente intrínseco à própria noção de 
"ser verdadeiramente si mesmo"."


O Ovo - by Rosan



Eu mais Jung  (horizontalidade)
ou
eu, verdadeiramente eu mesmo tão só? (verticalidade).

A continuar no próximo "post"...


  Rosanna Pavesi/Março 2017