By C. Portinari
NOSSAS MUITAS FOMES...
"Do meu cômodo posto de observadora - e o duro posto de cidadã, onerada de
altíssimos impostos, contas a pagar, perplexidade e insegurança, e otimismo
anêmico -, quero expandir o conceito de fome.
A fome, as fomes: de dignidade, a essencial.
De casa, saúde e educação, as básicas.
Mas - não menos importantes -
a fome de conhecimento, de possibilidades de escolha.
Fome de confiança, ah, essa não dá para esquecer.
Poder confiar no guarda, nas autoridades, nos pais e no país, e também nos filhos.
Em nós mesmos, se nos acharmos merecedores.
by C. Portinari
Confiar em quem votei, e em quem não recebeu meu voto:
ser digno não é vantagem, é obrigação básica.
Andamos tão desencantados, que ser decente parece virtude,
ser honesto ganha medalha, e ser mais ou menos coerente merece aplausos.
Fome de conhecimento:
não é alfabetizado quem apenas assina o nome,
mas quem assina o que leu e compreendeu.
De outro modo, perigo a vista.
Não cursa uma verdadeira escola quem dela sai para a vida
sem saber pensar, argumentar e discernir.
Informar-se é também ler: ler como se come o pão cotidiano...
By C. Portinari
Não creio que a violência que assola este país e nos transforma em ratos assustados
seja simplesmente fruto da fome de comida, mas da fome de auto-estima.
(...) Andamos acuados pela brutalidade que transcende os limites urbanos,
atingindo lugares bucólicos que antes pareciam paraísos intocáveis...
Teremos paz, esta nossa grande fome?
(...) Tudo começa, como dizem, em casa:
desde quando ela era uma primitiva caverna, e nós uns trogloditas
um pouco menos disfarçados do que hoje,
com fomes bem mais simples de satisfazer.".
(Lya Luft em "Em Outras Palavras" - Record 2006)
O Cão by Giacometti
O texto acima é de 2006...
Nossas muitas fomes apontadas pela autora continuam fomes...
E a lista cresce...
Que cada um acrescente, às fomes apontadas acima,
suas próprias muitas fomes...
Rosanna Pavesi/janeiro 2018
Fonte: WEB
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