quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

HOJE VOLTEI A PINTAR....

 

                                                 
Sem Título - by Rosan


HOJE VOLTEI A PINTAR...



Está tudo tão feio, sujo, malvado, superficial, pobre, injusto, confuso, atrapalhado, há tantos meses, 
que certa letargia foi tomando posse de mim...

Ao longo destes últimos meses, em casa devido à pandemia, só tinha tempo para cuidar 
das necessidades básicas diárias...

Não conseguia ler, nem estudar, nem me concentrar...
Parafusada ao chão, bem chão, 
sem nenhum voo possível...




 
                                  Terra  em Camadas - by Rosan                                        



Mas a vida não suporta longas paradas, só no "piloto automático",
na sobrevivência ....

Assim, "apesar de" :
 
Hoje voltei a pintar,
Hoje voltei a ler,
Hoje voltei a  estudar,
Hoje voltei a inventar novas receitas,
Hoje voltei a cuidar de minhas plantas,

Hoje voltei a ser eu....





Fonte: WEB



Tudo continua feio, sujo e malvado 
e, não, NÃO me "acostumei com isso"...
Muito pelo contrário...

Mas, hoje, reencontrei minha voz, meu gesto,
meu grito pessoal de revolta, minha forma de dizer

"Não, sobreviver não basta..." ...

A vida é grande demais para ser reduzida a sobrevivência...





O Espantalho - by Rosan



Eu sei, só pintar não basta,..
.
Mas hoje, ao voltar a pintar,
reconfirmei para mim mesma  de que

"APESAR DE"

devemos pintar, cozinhar, se enfeitar, rir, chorar, amar,

E LUTAR...




By G, Klimt - Detalhe




Rosanna Pavesi/Fevereiro 2021

 





sábado, 2 de maio de 2020

"21 LIÇÕES PARA A SÉCULO 21" - YUVAL N. HARARI

By Miró


Após lançar um olhar original sobre o passado (Sapiens) e o futuro (Homo Deus) da humanidade, neste livro (21 lições para o século 21), o historiador volta sua atenção para o presente,
abordando questões contemporâneas que vão desde o equilíbrio mental, a compaixão e a resiliência até a guerra nuclear, os desastres ambientais, as fake news e as disrupções tecnológicas.



Fonte: WEB



Transcrevo, a seguir, trechos retirados da "Introdução" do livro...

"Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder.
Em teoria, qualquer um pode se juntar ao debate sobre o futuro da humanidade, mas é muito difícil manter uma visão lúcida.

Muitas vezes nem sequer percebemos que um debate está acontecendo, ou quais são suas questões cruciais.
Bilhões de nós  dificilmente podem se permitir o luxo de investigá-las, pois temos coisas mais urgentes a fazer, como trabalhar, tomar conta das crianças, ou cuidar dos pais idosos.

Infelizmente, a história não poupa ninguém.

SE o futuro da humanidade for decidido em sua ausência, porque você está acupado demais alimentando e vestindo seus filhos - você e eles não estarão eximidos das consequências.

Isso é muito injusto, mas quem disse que a história é justa?



Fonte: WEB


(.. .) O QUE ESTÁ ACONTECENDO  NESTE MOMENTO?

QUAIS SÃO OS MAIORES DESAFIOS E ESCOLHAS DE HOJE?

QUAL DEVE SER O FOCO DE NOSSA ATENÇÃO?

O QUE  DEVEMOS ENSINAR A NOSSOS FILHOS?

Mas a questão mais abrangente em todos é  a mesma:

o que está acontecendo no mundo hoje, 
e qual o significado profundo dos eventos?



Dream Catcher...


(...) No capítulo final eu me permito algumas observações pessoais,
falando de um Sapiens para outro, antes que a cortina desca sobre nossa espécie
 e comece um drama completamente diferente..."





Sem título - by Rosan


Estou longe de chegar ao capítulo final do livro...
Lendo devagar, com certo assombro, um pouco por dia....

Por enquanto, algumas perguntas me acompanham ao longo da leitura: 

"Seria o futuro dos algoritmos tão só? "
" Haverá humanos divergentes, não convergentes com o que os algoritmos apontam?"

"Os novos homens das cavernas?"



by Rosan - Detalhe 



Rosanna Pavesi/Maio 2020

domingo, 29 de março de 2020

A HUMANIDADE SEGUE JUNTA. MESMO A DISTÂNCIA...

O Fogo Sagrado - by Rosan


A HUMANIDADE SEGUE JUNTA. MESMO A DISTÂNCIA.

SÓ NÃO IMAGINAVAMOS O QUANTO...


Reproduzo a seguir alguns trechos do texto para a temporada de 2020 de
Fronteiras do Pensamento, publicado em 20 de Março de 2020.



Imagem: WEB


"(...) Ao enfrentar a pandemia global do Covid-19, fica cada vez mais claro que o
distanciamento físico fundamental neste momento praticamente nos impôe
uma postura de reflexão.

Estamos isolados fisicamente em nossas casa, mas juntos em um mesmo propósito:
preservar a vida.
Preservar os valores que nos tornam sociedade.

Ao vivermos a nova realidade em defesa da vida de todos, percebemos
também a recuperação do conceito de sermos humanos.
A humanidade é uma só.
Não existem os cidadãos e os não cidadãos.
Cada um de nós compõe o todo.
E as consequências de nossas ações individuais refletem no geral, como temos visto.



Sem título - by Rosan



REINVENÇÃO DO HUMANO


(...) Construir um Novo Iluminismo ajudaria na resolução dos conflitos
e impulsionaria o progresso, a renovação e a preservação?

Uma nova corrente que poderia se adequar aos tempos atuais 
e privelegiar a sociedade como um todo, não apenas alguns setores.

Valorizar as pessoas por trás das inovações.
Iluminar as "trevas" e colocar o humano no centro de tudo,
ressaltando o pensamento, a ética, a dignidade, a igualdade, a justiça
e as capacidades humanas.

Manter o essencial e "iluminar" o que é indispensável para que possamos
descobrir, desvendar e reinventar o humano.

Michel de Montaigne, filosófo que iniciou a gênero ensaio e escreveu a partir de sua própria vida,
afirmava que a verdade é relativa, pois não existe uma universalidade aplicável a todas as pessoas.

Somos complexos e, também, somos únicos.
É, talvez, na autodescoberta, na ampliação das ideias e no olhar para dentro
antes de julgar que pode ser possível enxergar uns aos outros com alteridade,
empatia e tolerância.

E resgatar o que significa ser, verdadeiramente, humanidade."



by Martha Telles



Um novo Anthropos?
O Ser Humano Ecológico?

O Planeta Terra pode seguir muito bem,
 até melhor, sem nos do que conosco...

É isto que queremos?



Sem título - by Rosan



Rosanna Pavesi/Março 2020

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

"A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS" BY JOSÉ EDUARDO AGUALUSA


" A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS" 
José Eduardo Agualusa
(Ed. Planeta 2017)

O jornalista Daniel Benchimol sonha com pessoas que não conhece.
Moira Fernandes, artista plástica moçambicana encena e fotografa os próprios sonhos.
Hélio de Castro, neurocientista brasileiro, desenvolveu uma máquina capaz de filmar os sonhos de outras pessoas. Hossi Kaley, hoteleiro, com um passado obscuro e violento, tem uma relação com os sonhos muito diversa e ainda mais misteriosa: 
ele pode caminhar pelos sonhos alheios, ainda que não tenha consciência disso.

O livro é uma fábula política, satírica e divertida que defende a reabilitação do sonho
enquanto instrumento da consciência e da transformação.


Livro que li recentemente e que me impactou...
Transcrevo a seguir, um trecho específico e, a meu ver, bastante significativo...



Fonte: WEB




"40.

A porta do palácio estava fechada, mas nenhum soldado a defendia.
Então Hossi atravessou a parede. Cruzou-a com desenvoltura, num salto elástico e firme,
como se o destino das paredes fosse ser atravessadadas.
O presidente esperava-o, de pé, num gabinete enorme, diante de uma mesa atafulhada de papéis.
Era um homem ainda aprumado, com um porte de bailarino, não obstante ter ultrapassado os setenta anos e sofrer de uma grave doença óssea.

O Hossi e o presidente encararam-se como dois galos numa rinha, segundos antes de se lançarem um contra o outro.
- O que você quer - perguntou o presidente.
- Tudo! - respondeu Hossi.

Disse isso enquanto, com um simples gesto, rachava o presidente ao meio. Do interior do presidente irrompeu um presidente menor, mas ainda mais empertigado que o anterior:

- Por quê?  - perguntou o pequeno presidente.
- O senhor roubou-nos o país.

- Ninguém rouba o que é seu - contestou o pequeno presidente. - Somos todos angolanos.
- Somos sim, mas o que estava combinado era que as riquezas da nação seriam utilizadas em proveito geral. Você destruiu o futuro dos nossos filhos. Destruiu o nosso sonho. Diga a verdade.

- Que verdade?
- Por que prendeu os revus?
- São terroristas.

Com o mesmo gesto simples, Hossi rachou o pequeno presidente ao meio.
Logo um outro homenzinho, mínimo, que mal chegava aos joelhos do antigo guerrilheiro, emergiu do interior do pequeno presidente..

- Por que prendeu os revus? - insistiu Hossi.
- São perigosos - disse o mínimo presidente. A voz tremia-lhe. - Você viveu a guerra. Esses miúdos não. Eles não conhecem o horror da guerra. Estão a atear incêndios. A dividir a sociedade.Mandei-os prender porque não quero uma nova guerra.


Fonte: WEB

Hossi rachou o mínimo presidente ao meio. O que surgiu em seu lugar era um ser ínfimo, assustado, com uma minúscula voz de cana rachada. 

- Pare! - implorou o ínfimo presidente. - O que você quer?
- Diga a verdade. Por que prendeu os revus?

O ínfimo presidente rendeu-se:
- Eles não têm medo! Esses miudos não têm medo! Onde já se viu?! São malucos, não mostram medo, e isso é uma doença contagiosa.
- Isso, o senhor que dizer, a coragem?
- São malucos. Você não percebe que são malucos? Se os solto vão contagiar toda a gente. Vão destruir-me, a mim e à minha família. Vão destruir tudo aquilo que nós construímos.Não os posso soltar.

Hossi pisou o ínfimo presidente,  esmagando-o.

Pessoas começaram a atravessar as paredes: jovens com batuques; velhos carregando enxadas e catanas; mecânicos, com os macacões sujos de óleo; rapazes mucubais, com crinas de zebra na cabeça. Meninos descalços, quimbandeiros, soldados, estudantes pescadores. E também catorzinhas, quitandeiras, peixeiras, zungueiras, kinguilas, as antiquíssimas bessanganas, dobradas ao peso da idade; mamãs grávidas, com um filho às costas e outro pela mão; cozinheiras, lavadeiras e babás.



Fonte: WEB


Todas aquelas pessoas ficaram ali, no imenso gabinete presidencial, girando como peixes num aquário; comtemplando, com redondos  olhos de assombro, as telas nas paredes e os armários de portas abertas, dentro dos quais se podiam ver milhares de bustos do presidente, em ouro e prata; as cabeças empalhadas dos antigos fracionistas e inimigos do povo, desaparecidos havia tanto anos; boiões de vidro cheios de pequenos corações aflitos, ainda vivos e palpitantes e, ao lado, globos de cristal em que flutuavam, num céu tão azul quanto o da minha infância nos dias felizes, as brincadeiras por estrear das catorzinhas e dos meninos descalços.

- Está tudo aqui - disse uma das bessanganas apontando ao redor.
- Todos os dias que nos roubaram.

Começou a chorar.
Chorava e ria.
Aquela bessangana éramos todos nós".


Fonte: WEB


Segundo Mia Couto, "Agualusa é um tradutor de sonhos e seu livro é um 
romance tecido com os mais delicados materiais da poesia...".


Vale conferir...


Rosanna Pavesi/ - fevereiro 2020










sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

REFLEXOÉS DE UMA ENERGÚMENA: SOBRE OS SONHOS QUE SONHAMOS ACORDADOS...

    

SOBRE OS SONHOS QUE SONHAMOS ACORDADOS...



Bienal de São Paulo - 2018


O post a seguir foi publicado em janeiro de 2012, um dos primeiros posts deste blog...

VEJA...
-----------------------------------------------------------------------------------------

Cidade de Sonho - Rosan

SOBRE OS SONHOS QUE SONHAMOS ACORDADOS...

 Gostaria de propor uma reflexão sobre os sonhos que sonhamos acordados, 
aqueles sonhos que tecemos para nos e nossa vida, 
a partir da frase de Mario Quintana que norteia esse blog, a saber:

       "Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada..."

O que seria sonhar uma vida? 
Qual a diferença entre uma vida só vivida e uma vida vivida e sonhada?
A meu ver, se só viver não basta, também só sonhar  não basta...
Devemos sim sonhar, fazer planos, 
mas também precisamos ter a coragem de realizá-los, 
com a ousadia que nossos sonhos reclamam para si...

É sabido que os pais já tecem sonhos a respeito do futuro dos filhos até mesmo antes deles nascerem; 
de forma que, por certo tempo, "vivemos" dos sonhos que nossos pais projetaram sobre nos... 
Mas vamos crescendo e somos chamados a tecer nossos próprios sonhos, 
nos apropriar deles e construir nosso futuro.

Às vezes, nos deparamos com "uma pedra no caminho", 
como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade...
Neste caso, é sabio não chutar a pedra, mas sim conversar com ela, 
perguntar a que veio e ter a coragem de escutar o que a pedra tem a dizer... 

Em seu livro O Valor do Amanhã  (São Paulo, SP, Edit. Companhia das Letras, 2005)
 Eduardo Giannetti retoma a fábula da Cigarra e da Formiga e escreve 
sobre a realidade dos juros e como ela se manifesta em todas as situações 
da vida prática 
nas quais os valores presentes e futuros medem forças em nossas escolhas e ações. 
O autor encerra seu livro com uma bela passagem sobre 
os sonhos que sonhamos acordados 
que transcrevo a seguir, por acreditar ser pertinente:

"... Os indivíduos perecem, mas a sociedade a que pertencem
 - obra aberta que une na mesma trama os valores dos mortos, dos vivos e dos que estão por vir - 
segue em frente. 
O passado condiciona, o presente desafia, o futuro interroga.

A previsão lida com o provável e responde à pergunta: O que será?
A delimitação do campo do possível lida com o exeqüivel, e responde à pergunta: 
O que pode ser?
E a expressão da vontade lida com o desejável e responde à pergunta: 
O que sonhamos ser?

As relações entre esses modos de conceber o futuro não são triviais: 
de um lado está a lógica: o desejável precisa respeitar a disciplina do provável e do possível. 
Mas, do outro lado, está o sonho. 
Se o sonho desprovido de lógica é frívolo, a lógica desprovida de sonho é deserta. 
Quando a criação do novo está em jogo, resignar-se ao provável ou ao exeqüível 
é condenar-se ao passado e à repetição.

No universo das relações humanas, 
o futuro responde à força e à ousadia do querer. 

A capacidade de sonho fecunda o real,
           reembaralha as cartas do provável 
e subverte as fronteiras do possível.

     "Os sonhos secretam futuro"

É bom lembrar que todas as invenções e descobertas da humanidade foram consideradas, 
em algum momento, impossíveis.....
De forma que, talvez, jamais se permitir sonhar acordado, ousar, apostar, arriscar, 
ou jamais se atrever, possa vir a ser a pior aposta possível.

E se algum sonho ou imagem de fantasia se apresentar, fique com ele/a...
Ele/a tem algo a lhe dizer, isso lhe diz respeito... 
Construa uma ponte entre a realidade psíquica e a realidade terrena pois, 
afinal, não são dois mundos separados, 
são apenas as duas faces de uma mesma realidade: a sua...


Quintana tinha razão... 
Por isto o nome do blog é Oficina de Sonhos, 
uma Oficina que se quer desejante e participante de "secretar futuro",
 assim como outros já fizeram no passado, o fazem no presente, 
cada qual a seu modo e, espero, continuarão fazendo no futuro...
           Sim: 
Uma vida não basta ser vivida. 
Ela precisa ser sonhada...


Rosanna Pavesi/jan.2012
                                                                                                            -----------------------------------------------------


Fonte: WEB


O QUE MUDOU DE JANEIRO 2012 PARA DEZEMBRO 2019?

Na realidade brasileira muita coisa mudou...,
Que cada um faça  sua própria reflexão e considerações...

De minha parte, descobri que sou uma "energúmena"...
Explico:
Continuo acreditando na capacidade do sonho fecundar o real,
reembaralhar as cartas do provável, 
e subverter as fronteiras do possível....


Fonte: WEB

"Os sonhos, ah, os sonhos!
Uma amiga disse-me uma vez que sonhar é o mesmo que viver,
mas sem a grande mentira que é a vida. Talvez seja isso.
Talvez seja o contrário disso.Nem sei.

Acontece-me, por vezes, acreditar numa determinada ideia e 
no oposto dela com idêntica paixão,ou sem paixão nenhuma.

Nos útimos anos, aliás, venho perdendo cabelos e paixão.
Também venho perdendo ideias e ideais.
Talvez seja a velhice, talvez seja o nirvana.
O que você acha?"

(José Eduardo Agualusa em  A Sociedade dos Sonhadores Involuntários,
São Paulo: Planeta 2017).


Fonte: WEB



Um livro que é uma fábula política, satírica e divertida
que defende a reabilitação do sonho enquanto instrumento 
da consciência e da transformação...

De minha parte, devo dizer que meus cabelos ficaram brancos, mas ainda não os perdi...
Só me tornei uma energúmena de cabelos brancos...


Rosanna Pavesi/Dezembro 2019






quarta-feira, 24 de julho de 2019

ESPIRITUALIDADE: ORIENTE E OCIDENTE

Web


VELHO DITADO CHINÊS:

"SE O HOMEM ERRADO USA OS  MEIOS CERTOS,
OS MEIOS CERTOS FUNCIONAM DE MANEIRA ERRADA".

A paixão ocidental pelas disciplinas orientais tem frequentemente como resultado, 
um transplante artificial dos valores orientais para o solo ocidental, levando a uma espécie de
"materialismo espiritual".

Assim como a Hidra mítica, cuja cabeça cortada é sempre substituida por duas outras,
o ego perpetuamente idêntico a si mesmo, enfadonho e ansioso por transcendência, 
parece reemergir fortalecido e solidificado , como resultado direto da tentativa
metódica de diminuí-lo.

As pessoas irão praticar yoga, observar regimes estritos de dieta, repetir mecanicamente textos místicos - 
somente por causa da descrença em qualquer coisa boa que pudesse advir de suas próprias almas.
Ao invés de tomar emprestado negligentemente os tesouros do Oriente,
talvez devessemos - primeiro - tentar modelar nossas vidas a partir 
de nossas próprias raízes psíquicas?

O espírito enraizado no Oriente, uma vez arrancado e importado para o Ocidente
aqui chega privado de seu rico solo imaginal, esterilizado e cheirando a sándalo?



Paixão Silenciada - by Rosan


Segundo Roberts Avens (Imaginação É Realidade -  Vozes - 1993):

"Primeiro imaginação, depois espírito. 
Não há, entretanto, nenhuma espiritualização sem imaginação porque, no fim,
é a imaginação que "imagina" o espírito, mesmo quando o último finge 
ser independente da imaginação; 
pois a independência ou separação espiritual, como tudo o mais criado pelo homem, 
é um produto e uma fantasia da alma.

(...) A alma NÃO existe separada do que faz, 
incluindo suas configurações espirituais e materiais,
Nem é ela um conglomerado de espírito e matéria. 
A alma está  precisamente , absolutamente, francamente no meio (esse in anima).

Este é o mysterium tremendum et fascinans:
a alma, que estritamente não é, dota tudo o mais com ser e sentido.".



A Chuva - by Rosan


Fica a dúvida e a pergunta:

O homem ocidental faria qualquer coisa para evitar encarar sua própria alma?



WEB


Rosanna Pavesi/Julho 2019.

domingo, 3 de março de 2019

SOBRE A VELHICE...

by Paul Klee



SOBRE A VELHICE...

"A velhice é uma etapa de nossa vida que tem, como todas as demais,
aparências específicas, atmosferas e temperaturas próprias, prazeres
e necessidades peculiares.

Assim como todos os nossos irmãos mais novos, nós, os velhos de
cabelos brancos, também temos uma tarefas que dá sentido à nossa
existência. 
Ser velho é uma tarefa tão bela e sagrada quanto ser jovem, da mesma
forma que aprender a morrer e saber morrer são atributos tão valiosos
quanto quaisquer outros, desde que os encaremos com o devido respeito
pelo significado e pela santidade da vida.

O velho que odeia e teme a velhice, os cabelos brancos e a proximidade
da morte é tão indigno de representar sua categoria quanto o ser
jovem e vigoroso que odeia a própria profissão e sua atividade
diária, delas tentando esquivar-se.

Resumindo:

Para dar sentido à velhice e fazer jus à tarefa nela contida, é preciso
concordar com ela e dizer sim a tudo o que a ela diz respeito.

Sem este sim, sem essa entrega ao que a natureza exige de nós, nossos dias
- sejamos velhos ou jovens - não têm valor nem sentido,
e passamos a enganar a vida.


by Chico Stockinger


Pobre e triste, no entanto, é aquele que se entrega por inteiro a esses processo
degenerativo, sem ver que a velhice também tem seu lado bom,
suas vantagens, seus consolos e suas alegrias.

Quando penso neste lado belo e positivo da vida na velhice e me
lembro de que nós, os encanecidos, também possuimos fontes de
força, paciência e alegria que não têm qualquer importância na vida dos jovens,
(...) posso nomear, agradecido, algumas das dádivas que a velhice nos concede.



by G. Klimt


A que mais aprecio, dentre todas, é o acervo de imagens que guardamos
na memória após uma longa vida e que, com o declínio da atividade,
passamos a enxergar de uma forma nunca antes imaginada.

Silhuetas e perfis de pessoas que já se foram há sessenta ou setenta anos
continuam vivas para nós, nos pertencem, nos fazem companhia e nos
olham com olhos de vivos.

Casas, jardins e cidades que nesse interim desapareceram ou
sofreram grandes mudanças nos parecem exatamente como outrora;
montanhas e praias que décadas atrás admirávamos durante as viagens
continuam frescas e coloridas em nosso album de fotografias.



by Paul Klee



A visão, a observação e a contemplação se transforam cada vez mais
em hábitos e exercícios; sem que o percebamos, a atitude e o interesse
do espectador passam a dominar todo o nosso comportamento.

(...) Aqui, no jardim dos velhos, brotam flores que outrora
nunca nos preocupamos em cuidar.

(...) e quanto menores os nossos anseios por ação e participação,
maior nossa capacidade de ver e ouvir a natureza e o próximo."
(1952).

(Hermann Hesse em Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem - Record - 2018).



by Rosan


Um dos textos mais singelo, poético e profundo que já li sobre
o tema...


Rosanna Pavesi/Março 2019







sábado, 23 de fevereiro de 2019

VER E SER VISTO

Fonte: WEB


VER E SER VISTO...

"(...) Em psicoterapia é crucial ver e ser visto, porque
isto oferece a possibilidade de conectar-se com o
que foi terrivelmente reprimido na cultura ocidental:

os deuses e deusas do ver e do tocar, do corpo:
Afrodite, Pã, Sileno.

Em última instância ver e ser visto incumbe mais
aos sentidos e não devemos esquecer Eros e Psiquê:
Psiquê necessita ver.


Fonte: WEB


Se o discurso limita-se aos ouvidos, a escutar,
excluem-se as múltiplas possibilidades do corpo
reprimido, a expressão do corpo físico, 
histórica e tão crucialmente reprimida.



by Vasco Prado



No que me concerne, analista e paciente têm que se ver
e ler as expressões do outro rosto,a outra máscara:
só assim há psicoterapia..

Se o analista é incapaz de aceitar a expressão de seu 
próprio rosto como uma forma de comunicação, é difícl
chamá-lo de psicoterapeuta:

é através do ver e ser visto que falar com o outro
significa falar com um ser humano;
de outro modo poderíamos acabar falando a uma "coisa".



Fonte: WEB



Antonio Machado diz assim:
O olho que vê não é
olho porque tu o vês.
É olho porque te vê.

Ver e ser visto é básico para o diálogo psíquico.
Não se trata apenas dos sentidos, é algo mais.

Quando chego a me dar conta de que não estou olhando os olhos
da pessoa com quem falo, detecto minha própria virgindade
atuando e tratando de me proteger dos olhos do outro.

Machado escreveu outro verso onde podemos compreender 
a mudança de pessoa à coisa:

A coisa que vês não é
coisa porque tu a vês.
Coisa é porque não te vê."

(Rafael López-Pedraza em Ártemis e Hipólito - Mito e Tragédia - Vozes - 2012).


 Fonte: WEB



O olho é olho porque te vê...
Quando não te vê, é coisa...



by Rosan




Rosanna Pavesi/Fevereiro 2019

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

LENDAS SOBRE A ORIGEM DA ESPERANÇA...

Fonte: WEB


LENDAS SOBRE A ORIGEM DA ESPERANÇA...


"Na Índia, a esperança pertence a Maia, a grande Deusa, que nos tenta
com a roda da ilusão.

Como Maia, a esperança tece as incontáveis fantasias de nosso destino.
Somos apanhados numa teia de esperanças que é a vontade de viver,
experimentada como projeções rumo ao futuro.

Como emoção fundamental, a esperança de Maia seria o que a 
psicologia moderna chama de a função projetiva da psique
que nunca nos abandona enquanto formos vivos.,
induzindo-nos para a frente.



Fonte: WEB


No Ocidente, Pandora é a contrapartida de Maia.
As lendas de criação de ambas mostram paralelos.

Na Grécia, Zeus fez Pandora como uma estátua de tamanho humano,
pintada com a beleza, o primeiro "doce engano", dotada de virtudes
por vinte das divindades gregas.

Na Índia, a Grande Deusa tomou  forma como um produto
composto pelo panteão hindu reunido para salvar o mundo do desespero.



Fonte: WEB


Em outra  lenda, apareceu sob forma de Aurora; e então, como Sati,
foi modelada por Brahma na presença de vinte divindades para tentar Shiva,
afastando-o do isolamento ascético, de modo que o eterno jogo da vida
pudesse continuar, procriando e esfoliando sem cessar.

Associadas às deusas grega e hindu  estão todas as loucuras e vícios
da paixão humana e todas as energias criativas
(Shiva e Brahma; Prometeu, Hefesto,  Zeus).



Fonte: WEB


Pandora, em sua forma original, era representada por uma jarra ou vaso grande.
Esse vaso, tornou-se uma caixa na tradição posterior.

No vaso de Pandora, jazem escondidos todos os males do mundo.
Quando este foi aberto (e ele deve sê-lo inevitavelmente da mesma maneira
que Eva trouxe o Pecado ao mundo ao ceder à tentação do proibido)
voaram para fora todos os males, todos menos a Esperança.

A criação do mundo fenomenal da ilusão é semelhante na Grécia,
na índia e no Velho Testamento.


Fonte: WEB


A lenda de Pandora narrada por Hesíodo diz-nos que  a esperança é um dos males que estava 
no vaso e é o único que permanece aí dentro.

Fica escondida onde não é vista, ao passo que todos os outros males,
fantasias e paixões são as projeções que encontramos fora, no mundo.

Esses podem ser recapturados, integrando-se as projeções;
mas a esperança está dentro, ligada ao próprio dinamismo da vida.
Onde há esperança, há vida.
Nunca podemos confrontá-la diretamente, do mesmo modo que 
não podemos agarrar a vida, pois a esperança é o anseio de viver no amanhã,
O DEBRUÇAR INSENSATO NO FUTURO...

Vai, vai, vai..."


(J. Hillman em Suicídio e Alma - Vozes - 1993).






Onde a vida está, há esperança. E esta esperança é a própria vontade de viver,
o desejo de futuro - ou como a define o dicionário: "esperar com desejo".

Como poderíamos continuar sem ela? O que é o amanhã sem ela?

Como já disse Carlos Drummond de Andrade:

... como viver em termos de esperança?

... e que palavra é essa que a vida nunca alcança?




Fonte: WEB


Rosanna Pavesi/Dezembro 2018