segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
sábado, 14 de dezembro de 2013
AS DUAS FORMAS DE PENSAMENTO SEGUNDO C.G. JUNG
(Fonte: C.G. Jung, Símbolos de Transformação, O.C. Vol. V- Parte I – Cap.II – Par. 04-46 e/ou p. 06-28 – Edit. Vozes, Petrópolis, RJ, 1989, 2.a edição).
Para Jung, o pensamento dirigido e o pensamento-fantasia coexistiriam
como duas perspectivas em separado e iguais,
embora o último seja mais enraizado, pode-se dizer,
nas camadas arquetípicas da psique.
Essa postura equitativa aproxima as ideias de Jung daquilo que ora conhecemos
sobre o funcionamento dos dois hemisférios cerebrais (esquerdo e direito)
cuja interação é básica para o funcionamento mental humano.
Os SONHOS podem ser considerados expressões típicas
de pensamento de fantasia
embora elementos de uma perspectiva lógica também possam aparecer nos mesmos.
Diz-se que às vezes a interpretação (ou transcodificação) de um sonho
introduz o pensamento dirigido;
porém, uma apreciação mais acurada seria que
a interpretação é realmente, ou deveria ser,
uma combinação de pensamento dirigido e pensamento de fantasia,
pois nela está envolvida a imaginação.
Ao falar de sonhos,
talvez sejamos mais inclinados a utilizar o pensamento dirigido
Porém, ao falar com os sonhos,
talvez uma linguagem mais onírica, imaginal, seja mais apropriada...
Atualmente, além de falar em hemisfério direito e hemisfério esquerdo,
fala-se também de cerébro em camadas, ou "fatias" horizontais...
Seja como for, as duas formas de pensamento citadas por Jung ainda fazem
bastante sentido para mim,
não importa de que hemisfério ou camada do cerébro provenham...
O mais importante, a meu ver,
é saber que precisamos de ambas,
porém sem confundir uma com a outra...
Rosanna Pavesi/Dezembro 2013
(Nota adicional:
Pensamento Dedutivo: da teoria para a prática; do geral para o particular;
parte de premissas e, destas, procura derivar conclusões práticas;
começa com as verdades estabelecidas.
Pensamento Dedutivo: da teoria para a prática; do geral para o particular;
parte de premissas e, destas, procura derivar conclusões práticas;
começa com as verdades estabelecidas.
Pensamento Indutivo: empírico, experimental; da prática para a teoria; d
o individual para o geral;
começa com os fatos e a observação e quer estabelecer padrões gerais para a mesma classe).
o individual para o geral;
começa com os fatos e a observação e quer estabelecer padrões gerais para a mesma classe).
terça-feira, 26 de novembro de 2013
SOBRE SONHOS...
domingo, 3 de novembro de 2013
SOBRE COMO TRATAR A TERRA: O CONVITE,,,
"O que vai semear aqui?" perguntei.
"Não vou semear nada" titio respondeu.
"Titio, por que vai deixar a terra nua e sem semear?"
"Para ser um convite", titio respondeu.
Os pinheiros e carvalhos não se dispõem a nascer nos campos
e formar novos bosques
se não deixarmos a terra sem semear.
"As sementes da vida nova não encontrarão nenhuma hospitalidade, nem motivo para pousar aqui,
a menos que a deixemos árida, que a deixemos nua,
para que uma floresta de sementes a considere hospitaleira".
"Pois a terra tem muita paciência...
Ela aceita a semente, a erva daninha, a árvore, a flor.
Aceita a chuva, o grão, o fogo.
Permite a entrada e nos convida.
Ela é o anfitrião perfeito", disse titio.
E foi assim que, com o tempo, esse campo aberto por uma queimada -
em pousio e à espera -
atraiu para si exatamente os estranhos certos,
exatamente as sementes certas.
No devido tempo, às árvores vieram e,com elas,
os pássaros, as borboletas, um lar vivo...
À primeira luz da manhã, o campo, outrora vazio, agora floresta,
reluzia como um palácio no qual todas as formas absorviam luz
e a devolviam multiplicada mil vezes...
Eu entendi...
As sementes da terra, as criaturas da terra,
as estrelas no firmamento e nós mesmos
todos éramos convidados desse campo..."
Sobre o que não pode morrer nunca...
"... Titio faleceu, mas suas histórias perduram em cada campo vazio,
em cada um e em qualquer um que assuma o papel de anfitrião,
que espere, paciente,
que a nova semente chegue e produza abundância.
Em cada campo em pousio novas vidas estão esperando para renascer...
E o que é mais expantoso, essa nova vida virá, quer queiramos ou não.
Podemos arrancá-la a cada vez,
mas ela enraizar-se-á e voltará a se fundar.
Novas sementes chegarão com o vento e não pararão de chegar,
dando muitas oportunidades para mudanças de sentimentos,
para a volta do sentimento, para a "cura" do coração e, afinal,
para uma nova opção de vida...
E o que não pode morrer nunca?
É aquela força que já nasce dentro de nós,
que é maior do que nós,
que chama as novas sementes para os lugares áridos, maltratados, abertos,
para que possamos nos ressemear"...
(Notas: Clarissa Pinkola Estés, O Jardineiro Que Tinha Fé,, Rocco Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1996).
Já fui campo em pousio, campo forçadamente em pousio,
após uma queimada que ocorreu, simplesmente ocorreu,
sem ser por mim promovida, nem desejada, nem convidada...
Meu campo ficou árido e abandonado por um bom tempo...
ou, assim me pareceu...
Até que, aos poucos, esse campo ainda potencialmente fértil,
voltou a hospedar vida, voltou a dar um novo quinhão de beleza e exuberância...
Rosanna Pavesi/novembro 2013
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Local: São paulo
São Paulo, Brazil
domingo, 20 de outubro de 2013
O CANTO DAS SEREIAS...
(sem título)
O CANTO DAS SEREIAS...
Quem é tão firme que nada possa seduzir?
O canto das sereias é uma imagem que remonta às fontes da mitologia e literatura gregas.
As versões e os detalhes da narrativa variam de autor para autor,
mas o sentido da trama é comum...
As sereias eram criaturas sobre-humanas:
ninfas de extraordinária beleza e de magnetismo sensual.
Viviam sozinhas numa ilha do Mediterrâneo, mas tinham o dom de chamar a si os navegantes,
graças ao irresistível poder de sedução do seu canto.
Atraidos pela melodia divina, os navios costeavam a ilha,
batiam nos recifes submersos da beira-mar e naufragavam...
As sereias então devoravam impiedosamente os tripulantes.
O litoral da ilha era um gigantesco cimitério marinho no qual estavam atulhadas
as incontáveis naus e ossadas tragadas por aquele canto sublime desde o início das eras.
Doce o caminho, amargo o fim...
Muitos tentaram, mas pouquíssimos conseguiram salvar-se.
A literatura grega registra duas soluções vitoriosas:
(1) Uma delas foi a saída encontrada por Orfeu,
o incomparável gênio da música e da poesia na mitologia grega:
Quando a embarcação na qual ele navegava entrou inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conseguiu impedir que a tripulação perdesse a cabeça
tocando uma música ainda mais doce e sublime do que aquela que vinha da Ilha...
(2) A outra solução foi a encontrada e adotada por Ulisses no poema homérico.
O heroi da Odisséia, que não era dotado de talento artístico sobre-humano,
no momento em que a embarcação que comandava começou a se aproximar da ilha,
mandou que todos os tripulantes tapassem os próprios ouvidos com cera
e ordenou que amarrassem-no ao mastro central do navio.
Avisou ainda que, se por acaso ele exigisse que o soltassem dalí, o que deveriam fazer
era prendê-lo ao mastro com mais cordas e redobrada firmeza.
Quando chegou a hora, Ulisses foi seduzido pelas sereias mas seus subordinados souberam
- contudo - cumprir fielmente sua ordem.
Ulisses, é verdade, por pouco não enloqueceu de desejo mas as sereias,
desesperadas diante daquela derrota para um simples mortal, afogaram-se de desgosto no mar...
Orfeu escapou das sereias como divindade...
Ulisses como mortal...
Ulisses não tampou seus próprios ouvidos com cera, ele quis ser seduzido, ele quis ouvir...
Ulisses não se furtou à experiência de ouvir e desejar desperadamente
aquilo que o levaria ao naufrágio e à morte certa.
A verdadeira vitória de Ulisses foi contra ele mesmo...
O embate entre Ulisses e as sereias dramatiza e dá proporções épicas
a um conflito que acompanha a nossa prosaica odisséia pela vida.
Preferir o que quer que esteja presente em relação ao que está distante e remoto,
que nos faz desejar os objetos mais de acordo com a gratificação imediata
do que com o seu valor intrínseco...
A toda hora, a cada instante, em cada esquina, em cada shopping, em cada publicidade,
há um canto de sereia esperando, de pequenas ou grandes proporções...
Saberemos discernir quando dizer "sim" e quando dizer "não"?
Rosanna Pavesi/Outubro 2013
Quem é tão firme que nada possa seduzir?
O canto das sereias é uma imagem que remonta às fontes da mitologia e literatura gregas.
As versões e os detalhes da narrativa variam de autor para autor,
mas o sentido da trama é comum...
As sereias eram criaturas sobre-humanas:
ninfas de extraordinária beleza e de magnetismo sensual.
Viviam sozinhas numa ilha do Mediterrâneo, mas tinham o dom de chamar a si os navegantes,
graças ao irresistível poder de sedução do seu canto.
Atraidos pela melodia divina, os navios costeavam a ilha,
batiam nos recifes submersos da beira-mar e naufragavam...
As sereias então devoravam impiedosamente os tripulantes.
O litoral da ilha era um gigantesco cimitério marinho no qual estavam atulhadas
as incontáveis naus e ossadas tragadas por aquele canto sublime desde o início das eras.
Doce o caminho, amargo o fim...
Muitos tentaram, mas pouquíssimos conseguiram salvar-se.
A literatura grega registra duas soluções vitoriosas:
(1) Uma delas foi a saída encontrada por Orfeu,
o incomparável gênio da música e da poesia na mitologia grega:
Quando a embarcação na qual ele navegava entrou inadvertidamente no raio de ação das sereias, ele conseguiu impedir que a tripulação perdesse a cabeça
tocando uma música ainda mais doce e sublime do que aquela que vinha da Ilha...
(2) A outra solução foi a encontrada e adotada por Ulisses no poema homérico.
O heroi da Odisséia, que não era dotado de talento artístico sobre-humano,
no momento em que a embarcação que comandava começou a se aproximar da ilha,
mandou que todos os tripulantes tapassem os próprios ouvidos com cera
e ordenou que amarrassem-no ao mastro central do navio.
Avisou ainda que, se por acaso ele exigisse que o soltassem dalí, o que deveriam fazer
era prendê-lo ao mastro com mais cordas e redobrada firmeza.
Quando chegou a hora, Ulisses foi seduzido pelas sereias mas seus subordinados souberam
- contudo - cumprir fielmente sua ordem.
Ulisses, é verdade, por pouco não enloqueceu de desejo mas as sereias,
desesperadas diante daquela derrota para um simples mortal, afogaram-se de desgosto no mar...
Orfeu escapou das sereias como divindade...
Ulisses como mortal...
Ulisses não tampou seus próprios ouvidos com cera, ele quis ser seduzido, ele quis ouvir...
Ulisses não se furtou à experiência de ouvir e desejar desperadamente
aquilo que o levaria ao naufrágio e à morte certa.
A verdadeira vitória de Ulisses foi contra ele mesmo...
O embate entre Ulisses e as sereias dramatiza e dá proporções épicas
a um conflito que acompanha a nossa prosaica odisséia pela vida.
Preferir o que quer que esteja presente em relação ao que está distante e remoto,
que nos faz desejar os objetos mais de acordo com a gratificação imediata
do que com o seu valor intrínseco...
A toda hora, a cada instante, em cada esquina, em cada shopping, em cada publicidade,
há um canto de sereia esperando, de pequenas ou grandes proporções...
Saberemos discernir quando dizer "sim" e quando dizer "não"?
Rosanna Pavesi/Outubro 2013
sábado, 5 de outubro de 2013
O "EU-AGORA" E... O "EU-DEPOIS"...
Sem Título
O "EU-AGORA"...
"Jovem, entusiasta, frequentemente inebriado de desejo, sempre disposto a desfrutar
o que o momento pode oferecer de melhor...
generoso, sem dúvida, mas com a vista curta, certa miopia temporal,
e forte inclinação a descontar pesadamente o futuro.
O bem imediato é sua razão de ser...
O eu-agora vive de forma intensa e tende a encarar a vida não em seu conjunto,
mas como uma sequência de situações-oportunidades isoladas,
sem um fio condutor que lhes dê maior coerência ou unidade.
O "EU-DEPOIS"...
Um adulto desconfiado, frequentemente avinagrado de preocupações,
sempre com um olho na própria saúde e no carnê da previdência...
Cioso de seu horizonte profissional, cauteloso em meio a um mar de dúvidas,
mas capaz de enxergar um pouco mais longe do que o eu-agora,
ainda que ao custo de muitas vezes descontar pesadamente o presente.
O bem remoto é o seu único foco...
O eu-depois, tenta estabelecer uma boa distância crítica de si mesmo,
faz uso de certa hipermetropia temporal,
e procura encar sua vida, se não como um todo e do princípio ao fim,
ao menos como uma sequência razoavelmente estruturada e coerente de opções estratégicas.
O eu-depois é, no fundo, o eu-agora visto de longe e de fora,
à luz do seu próprio passado, mas no silêncio das paixões do momento
e a parte de um ponto futuro.
Excessos e Abusos
Os excessos e abusos podem advir de ambos os lados...
O eu-agora sem a perspectiva disciplinadora do eu-depois é, no limite,
um "primata" desmiolado e impulsivo - ração de sereias e de seu canto...
Mas o eu-depois, sem o entusiasmo sonhador do eu-agora não passa de
um autômato calculista e previsível - um ente surdo a qualquer chamado
que ameace a sua existência futura em condição indolor de conforto.
O "robô" e o "macaco" precisam um do outro...
O abuso de poder por parte do eu-agora se apresenta como astúcia persuasiva
quando se trata de legitimar a sua forte preferência pelo bem aparente da gratificação imediata;
isso tende a suscitar a reação das forças contrárias, algum "golpe autoritário" de eu-depois...
Como é uma via de mão-dúpla, o eu-agora reage, em seguida o eu-depois também,
e assim por diante, numa gangorra infernal...
Na mente de um jovem, a disputa pela autoridade entre o eu-agora e o eu-depois
pode resultar tanto:
(a) na exploração do velho que ele um dia será pelo jovem que ele é, como
(b) na exploração do jovem que ele é pelo velho que ele imagina um dia ser...
A passagem é estreita..."
(Notas:Eduardo Giannetti em Auto-Engano, Cia das Letras, São Paulo, SP, 1997)
A Árvore da Vida (by Rosan)
Reconhecer a presença tanto do eu-agora como do eu-depois dentro de nos, a nível intrapessoal ,
em qualquer idade, me parece fundamental...
Porém, a partir da perspectiva de um eu-agora que já se tornou um eu-ontem
no presente de um eu-depois,
confesso que gosto de ter sido um pouco sensata, porém não muito, quando jovem,
e de ter feito apostas totalmente "insensatas" quando jovem e já na vida adulta também...
apostas que não respondiam a uma lógica calculista mas sim à força de um sonhar a vida,
além de simplesmente vivé-la...
Pessoalmente, não me arrependo...
Finalizando...
Em outro livro do mesmo autor (O Valor do Amanhã, Cia das Letras, São Paulo, SP, 2005),
há duas frases que me inspiram até hoje e que transcrevo aqui, deixando a reflexão
por conta de cada eventual leitor desse texto:
"A vida é um intervalo finito de duração indeterminada..."
"O futuro responde à ousadia do nosso querer.
A capacidade de sonho fecunda o real, re-embaralha as cartas do provável
e subverte as fronteiras do possível.
OS SONHOS SECRETAM FUTURO...
Fico com a "versão 2005 "...
(Rosanna Pavesi/Outubro 2013)
sábado, 14 de setembro de 2013
SOBRE COMO TRATAR A TERRA: O JARDIM DO ÉDEN...
(by G. Klimt)
SOBRE COMO TRATAR A TERRA:
O JARDIM DO ÉDEN...
"... Titio conhecia a terra como as rugas no seu rosto, como conhecia as veias nas costas de suas mãos
- o quintal dos fundos, o pátio lateral, depois a saída para o campo mais próximo,
para os campos médios e distantes.
Quando caminhávamos por esses campos, nossas botas ficavam cada vez mais pesadas,
cheias de lama negra grudada. A parte superior dos músculos da coxa era muito forçada.
Cada vez mais tensão era necessária para desgrudar o último passo e poder dar o seguinte.
Mas isso nós adorávamos - essa pequena luta que não fazia mal a ninguém.
Caminhávamos, com os ouvidos atentos para para a saúde das plantas,
das árvores e das lavouras ao redor.
Aquela mata estava ocupada pelo número necessário de borboletas?
As árvores estavam cheias da quantidade certa de pássaros canoros?
Nós sabíamos que tanto os pássaros quanto as borboletas eram importantes
para o transporte do pólen entre as árvores frutíferas,
para que fosse abundante a colheita de cerejas e houvesse uma quantidade apreciável
de peras, ameixas e pêssegos a conservar para o inverno.
Enquanto caminhávamos, titio matutava:
"Já ouvi pessoas perguntando onde fica o jardim do Éden.
Ora! Qualquer lugar que se pise nesta terra é o jardim do Éden.
Toda esta terra, por baixo dos trilhos de trens e das rodovias,
da sua roupagem gasta, de seu entulho, de tudo isso,
é o jardim do Éden, com todo o frescor do dia em que foi criado...
Capins (by Rosan)
Não importa o tamanho do jardim - seja ele de um côvado por um,
tenha ele campos tão imensos que não se veja o fim -
quando se está plantando direito deve-se afagar a terra, sem parar,
remexendo pequenos punhados dela.
Ser delicado... Ser econômico...
É assim que se deve tratar a terra,
com consideração, com delicadeza e presença de espírito."
Foi assim que aprendi que esta terra, da qual dependíamos para nossa alimentação,
nosso ganha-pão, nosso descanso, para a oportunidade de ver a beleza,
deveria ser tratada da mesma maneira que esperaríamos tratar os outros e a nós mesmos.
O que quer que seja que aconteça a este campo,
de algum modo, também acontecerá a nós..."
(Fonte: Clarissa Pinkola Estés, O Jardineiro que Tinha Fé: Uma Fábula Sobre o Que Não Pode Morrer Nunca,
Rio de Janeiro, RJ, Rocco, 1996)
Brotos (by Rosan)
"... Titio conhecia a terra como as rugas no seu rosto, como conhecia as veias nas costas de suas mãos
- o quintal dos fundos, o pátio lateral, depois a saída para o campo mais próximo,
para os campos médios e distantes.
Quando caminhávamos por esses campos, nossas botas ficavam cada vez mais pesadas,
cheias de lama negra grudada. A parte superior dos músculos da coxa era muito forçada.
Cada vez mais tensão era necessária para desgrudar o último passo e poder dar o seguinte.
Mas isso nós adorávamos - essa pequena luta que não fazia mal a ninguém.
Caminhávamos, com os ouvidos atentos para para a saúde das plantas,
das árvores e das lavouras ao redor.
Aquela mata estava ocupada pelo número necessário de borboletas?
As árvores estavam cheias da quantidade certa de pássaros canoros?
Nós sabíamos que tanto os pássaros quanto as borboletas eram importantes
para o transporte do pólen entre as árvores frutíferas,
para que fosse abundante a colheita de cerejas e houvesse uma quantidade apreciável
de peras, ameixas e pêssegos a conservar para o inverno.
Enquanto caminhávamos, titio matutava:
"Já ouvi pessoas perguntando onde fica o jardim do Éden.
Ora! Qualquer lugar que se pise nesta terra é o jardim do Éden.
Toda esta terra, por baixo dos trilhos de trens e das rodovias,
da sua roupagem gasta, de seu entulho, de tudo isso,
é o jardim do Éden, com todo o frescor do dia em que foi criado...
Capins (by Rosan)
Não importa o tamanho do jardim - seja ele de um côvado por um,
tenha ele campos tão imensos que não se veja o fim -
quando se está plantando direito deve-se afagar a terra, sem parar,
remexendo pequenos punhados dela.
Ser delicado... Ser econômico...
É assim que se deve tratar a terra,
com consideração, com delicadeza e presença de espírito."
Foi assim que aprendi que esta terra, da qual dependíamos para nossa alimentação,
nosso ganha-pão, nosso descanso, para a oportunidade de ver a beleza,
deveria ser tratada da mesma maneira que esperaríamos tratar os outros e a nós mesmos.
O que quer que seja que aconteça a este campo,
de algum modo, também acontecerá a nós..."
(Fonte: Clarissa Pinkola Estés, O Jardineiro que Tinha Fé: Uma Fábula Sobre o Que Não Pode Morrer Nunca,
Rio de Janeiro, RJ, Rocco, 1996)
Brotos (by Rosan)
Fui criada no campo mas me tornei urbana...
Hoje, morando em uma grande cidade como São Paulo,
meu jardim se resume a orquídeas, samambaias, peperônias
e algumas frutíferas que cultivo em vasos, como carinho, afinco e muita adubação...
Me considero sortuda, tenho algum verde, algumas flores
e passarinhos que me visitam no 15.o andar...
É meu pequeno jardin do Éden no coração da cidade...
Rosanna Pavesi/setembro 2013
Hoje, morando em uma grande cidade como São Paulo,
meu jardim se resume a orquídeas, samambaias, peperônias
e algumas frutíferas que cultivo em vasos, como carinho, afinco e muita adubação...
Me considero sortuda, tenho algum verde, algumas flores
e passarinhos que me visitam no 15.o andar...
É meu pequeno jardin do Éden no coração da cidade...
Rosanna Pavesi/setembro 2013
domingo, 8 de setembro de 2013
AMAR... SOBRE JURAS E PROMESSAS...
Vamos Amigo... (by Rosan)
AMAR...
SOBRE JURAS E PROMESSAS...
Há momentos que redimem o existir...
E... estar apaixonado é um deles...
Os apaixonados perdem o sono, dançam na chuva e ouvem as estrelas...
A carícia é benção, o beijo é reza, e o sexo é comunhão...
O que está escrito, seria pecado negar, era o que tinha que ser...
O prometer apaixonado engana, mas não mente...
Considere o jovem apaixonado que jura amor eterno...
Estaria mentindo?
Quanto ao cumprimento efetivo do que foi prometido, só o tempo dirá...
Mas da integridade da intenção e do valor de verdade da promessa,
no momento em que é feita, como duvidar?
A lógica paradoxal do jurar apaixonado é flagrada por Shakespeare
na peça dentro da peça encenada em Hamlet.
À promessa de amor e fidelidade eterna da rainha,
o rei implacável, replica:
Acredito sim que penses o que dizes agora;
Mas aquilo que decidimos, não raro violamos.
O propósito não passa de servo da memória,
De nascer violento mas fraca validade,
E que agora, como fruta verde, à arvore se agarra,
Mas quando amadurecida, despenca sem chacoalho.
Imprescindível é que não esqueçamos
De nos pagar a nós mesmos o que nós é devido.
Aquilo que a nós mesmos em paixão propomos,
A paixão cessando, o propósito está perdido...
(W. Shakespeare, Hamlet, Ato III, cena 2)
A paixão cessando, o propósito está perdido...
Se ficarmos juntos:
Vamos amigo, cantar o amor, a jura, o beijo...
...Mentir, ainda, o amor, a jura, o beijo...
A escolha é de cada um...
Rosanna Pavesi/setembro 2013
sábado, 31 de agosto de 2013
O DOM DA HISTÓRIA: A HISTÓRIA COMO DOAÇÃO...
domingo, 18 de agosto de 2013
AJUDAR E SERVIR...
Psicologia (by Rosan) |
AJUDAR E SERVIR...
AJUDAR
Ajudar é uma experiência de força...
Quando você ajuda, você usa, ou "empresta" sua própria força para ajudar alguém
que você considera mais fraco, ou frágil, do que você...
É, de certa forma, uma relação desequilibrada e as pessoas sentem isto.
Quando ajudo, mesmo sem me dar conta,
eu estou ao par de minha força e da fraqueza do outro.
Ajudar incorre frequentemente em débito.
Quando ajudo, tenho frequentemente um sentimento de satisfação própria,
que pode substituir um préstigio que posso não ter,
ou seja, isso faz bem a nosso próprio EGO...
SERVIR
É um sentimento de gratidão, é uma experiência de mistério,
de rendição, entrega e reverência.
A partir dessa perspectiva, quando ajudo, sei que estou sendo um instrumento
de algo maior e me sinto a serviço desse algo maior,
ou de um valor essencial para mim mesma.
Quando você ajuda, você vê a fragilidade da vida...
Quando você conserta, você vê a vida de forma fragmentada...
Quando você serve, você enxerga a vida como um todo...
É uma forma de enxergar as coisas a partir de pontos de vista diferentes...
Consertar e ajudar são a base do remediar.
Servir é a sua base do cuidar da vida e do próximo...
Nós só podemos servir àquilo a quem estamos conectados e àquilo que desejamos "tocar"...
Nós servimos à vida não porque ela "está um pedaços" ou "quebrada",
mas sim porque ela é sagrada...
Podemos e devemos, sim, ajudar e consertar quando necessário,
mas, do meu ponto de vista, só a partir da perspectiva de servir...
Servir à vida
Servir à sua profissão, à sua vocação
Servir à sua comunidade, a seus semelhantes
Servir a seu compromisso social, de cidadão, a um ideal,
Servir àqueles que amamos...
Ajudar, consertar sim,
mas sabendo-se sempre tão só um instrumento a serviço de algo maior.
Só assim, penso eu, sentiremos um sentimento de gratidão...
Só assim ajudar deixará de ser uma experiência de força egóica
para se tornar generosidade, escolha, protagonismo..
Rosanna Pavesi/Agosto 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
COMO LIDAR COM NOSSOS PRÓPRIOS SONHOS?
Presentes do Mar...
COMO LIDAR COM NOSSOS PRÓPRIOS SONHOS?
"... Em geral, não se deve interpretar os próprios sonhos...
Os sonhos costumam tocar nosso ponto cego.
Eles nunca nos dizem o que já sabemos, mas sim o que não sabemos.
Quando interpretam seus próprios sonhos, as pessoas tendem a dizer:
"Sim, eu sei o que isto quer dizer." Então projetam no sonho aquilo que já sabem.
Interpretar os próprios sonhos é muito diícil.
Por isso Jung recomendava aos analistas junguianos que procurassem colegas
para discutir sonhos.
A dificuldade em interpretar nossos próprios sonhos é que não podemos ver nossas próprias costas...
Se o mostrarmos para outra pessoa, ela poderá vê-las; nós não.
Os sonhos tocam as costas, aquilo que não se pode ver...
Pergunta: "Mas se é tão benéfico ver as próprias costas, porque a humanidade sempre teve "medo" do mundo dos sonhos?"
Resposta: Há boas razões para isso. O inconsciente pode devorar o ser humano.
O mundo dos sonhos é o que há de mais benéfico sobre a face da Terra
e observar os próprios sonhos é a coisa mais salutar que se pode fazer.
Enretanto, o mundo onírico pode também "devorar" uma pessoa que fique sonhando acordada,
tecendo fantasias neuróticas ou perseguindo idéias irreais o tempo todo...
O mundo onírico só é benéfico e terapêutico se estabelecermos um diálogo com ele,
sem, no entanto, abandonar a vida terrena, "real".
Não se pode esquecer de viver. A vida terrena não deve ser posta de lado.
No momento em que se começa a esquecer a vida terrena - o próprio corpo, a alimentação, o trabalho diário - o mundo dos sonhos pode tornar-se perigoso.
O mundo onírico só é positivo quando em diálogo vivo e equilibrado com uma vida realmente vivida."
(Fonte: O Caminho dos Sonhos, Marie-Louise von Franz em Conversa com Fraser Boa - Cultrix, 1993)
Tenho por hábito manter um registro de meus sonhos. Dou um número, um título e a data.
Tenho dificuldade em lembrar de meus sonhos ao acordar mas, devo dizer que
os sonhos realmente "importantes", aqueles que mudaram minha vida,
sempre causaram um forte impacto ao acordar...
Me acompanham até hoje...
Não fazia nenhuma tentativa de interpretar...
Como um fio de Ariadne, permiti que eles me guiassem no Labirinto...
MAS, percebo hoje que só descobri que estava no Labirinto
depois que os sonhos me guiaram para fora dele...
Retrospectivamente...
Rosanna Pavesi/julho 2013
"... Em geral, não se deve interpretar os próprios sonhos...
Os sonhos costumam tocar nosso ponto cego.
Eles nunca nos dizem o que já sabemos, mas sim o que não sabemos.
Quando interpretam seus próprios sonhos, as pessoas tendem a dizer:
"Sim, eu sei o que isto quer dizer." Então projetam no sonho aquilo que já sabem.
Interpretar os próprios sonhos é muito diícil.
Por isso Jung recomendava aos analistas junguianos que procurassem colegas
para discutir sonhos.
A dificuldade em interpretar nossos próprios sonhos é que não podemos ver nossas próprias costas...
Se o mostrarmos para outra pessoa, ela poderá vê-las; nós não.
Os sonhos tocam as costas, aquilo que não se pode ver...
Pergunta: "Mas se é tão benéfico ver as próprias costas, porque a humanidade sempre teve "medo" do mundo dos sonhos?"
Resposta: Há boas razões para isso. O inconsciente pode devorar o ser humano.
O mundo dos sonhos é o que há de mais benéfico sobre a face da Terra
e observar os próprios sonhos é a coisa mais salutar que se pode fazer.
Enretanto, o mundo onírico pode também "devorar" uma pessoa que fique sonhando acordada,
tecendo fantasias neuróticas ou perseguindo idéias irreais o tempo todo...
O mundo onírico só é benéfico e terapêutico se estabelecermos um diálogo com ele,
sem, no entanto, abandonar a vida terrena, "real".
Não se pode esquecer de viver. A vida terrena não deve ser posta de lado.
No momento em que se começa a esquecer a vida terrena - o próprio corpo, a alimentação, o trabalho diário - o mundo dos sonhos pode tornar-se perigoso.
O mundo onírico só é positivo quando em diálogo vivo e equilibrado com uma vida realmente vivida."
(Fonte: O Caminho dos Sonhos, Marie-Louise von Franz em Conversa com Fraser Boa - Cultrix, 1993)
Tenho por hábito manter um registro de meus sonhos. Dou um número, um título e a data.
Tenho dificuldade em lembrar de meus sonhos ao acordar mas, devo dizer que
os sonhos realmente "importantes", aqueles que mudaram minha vida,
sempre causaram um forte impacto ao acordar...
Me acompanham até hoje...
Não fazia nenhuma tentativa de interpretar...
Como um fio de Ariadne, permiti que eles me guiassem no Labirinto...
MAS, percebo hoje que só descobri que estava no Labirinto
depois que os sonhos me guiaram para fora dele...
Retrospectivamente...
Rosanna Pavesi/julho 2013
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