sábado, 2 de maio de 2020

"21 LIÇÕES PARA A SÉCULO 21" - YUVAL N. HARARI

By Miró


Após lançar um olhar original sobre o passado (Sapiens) e o futuro (Homo Deus) da humanidade, neste livro (21 lições para o século 21), o historiador volta sua atenção para o presente,
abordando questões contemporâneas que vão desde o equilíbrio mental, a compaixão e a resiliência até a guerra nuclear, os desastres ambientais, as fake news e as disrupções tecnológicas.



Fonte: WEB



Transcrevo, a seguir, trechos retirados da "Introdução" do livro...

"Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder.
Em teoria, qualquer um pode se juntar ao debate sobre o futuro da humanidade, mas é muito difícil manter uma visão lúcida.

Muitas vezes nem sequer percebemos que um debate está acontecendo, ou quais são suas questões cruciais.
Bilhões de nós  dificilmente podem se permitir o luxo de investigá-las, pois temos coisas mais urgentes a fazer, como trabalhar, tomar conta das crianças, ou cuidar dos pais idosos.

Infelizmente, a história não poupa ninguém.

SE o futuro da humanidade for decidido em sua ausência, porque você está acupado demais alimentando e vestindo seus filhos - você e eles não estarão eximidos das consequências.

Isso é muito injusto, mas quem disse que a história é justa?



Fonte: WEB


(.. .) O QUE ESTÁ ACONTECENDO  NESTE MOMENTO?

QUAIS SÃO OS MAIORES DESAFIOS E ESCOLHAS DE HOJE?

QUAL DEVE SER O FOCO DE NOSSA ATENÇÃO?

O QUE  DEVEMOS ENSINAR A NOSSOS FILHOS?

Mas a questão mais abrangente em todos é  a mesma:

o que está acontecendo no mundo hoje, 
e qual o significado profundo dos eventos?



Dream Catcher...


(...) No capítulo final eu me permito algumas observações pessoais,
falando de um Sapiens para outro, antes que a cortina desca sobre nossa espécie
 e comece um drama completamente diferente..."





Sem título - by Rosan


Estou longe de chegar ao capítulo final do livro...
Lendo devagar, com certo assombro, um pouco por dia....

Por enquanto, algumas perguntas me acompanham ao longo da leitura: 

"Seria o futuro dos algoritmos tão só? "
" Haverá humanos divergentes, não convergentes com o que os algoritmos apontam?"

"Os novos homens das cavernas?"



by Rosan - Detalhe 



Rosanna Pavesi/Maio 2020

domingo, 29 de março de 2020

A HUMANIDADE SEGUE JUNTA. MESMO A DISTÂNCIA...

O Fogo Sagrado - by Rosan


A HUMANIDADE SEGUE JUNTA. MESMO A DISTÂNCIA.

SÓ NÃO IMAGINAVAMOS O QUANTO...


Reproduzo a seguir alguns trechos do texto para a temporada de 2020 de
Fronteiras do Pensamento, publicado em 20 de Março de 2020.



Imagem: WEB


"(...) Ao enfrentar a pandemia global do Covid-19, fica cada vez mais claro que o
distanciamento físico fundamental neste momento praticamente nos impôe
uma postura de reflexão.

Estamos isolados fisicamente em nossas casa, mas juntos em um mesmo propósito:
preservar a vida.
Preservar os valores que nos tornam sociedade.

Ao vivermos a nova realidade em defesa da vida de todos, percebemos
também a recuperação do conceito de sermos humanos.
A humanidade é uma só.
Não existem os cidadãos e os não cidadãos.
Cada um de nós compõe o todo.
E as consequências de nossas ações individuais refletem no geral, como temos visto.



Sem título - by Rosan



REINVENÇÃO DO HUMANO


(...) Construir um Novo Iluminismo ajudaria na resolução dos conflitos
e impulsionaria o progresso, a renovação e a preservação?

Uma nova corrente que poderia se adequar aos tempos atuais 
e privelegiar a sociedade como um todo, não apenas alguns setores.

Valorizar as pessoas por trás das inovações.
Iluminar as "trevas" e colocar o humano no centro de tudo,
ressaltando o pensamento, a ética, a dignidade, a igualdade, a justiça
e as capacidades humanas.

Manter o essencial e "iluminar" o que é indispensável para que possamos
descobrir, desvendar e reinventar o humano.

Michel de Montaigne, filosófo que iniciou a gênero ensaio e escreveu a partir de sua própria vida,
afirmava que a verdade é relativa, pois não existe uma universalidade aplicável a todas as pessoas.

Somos complexos e, também, somos únicos.
É, talvez, na autodescoberta, na ampliação das ideias e no olhar para dentro
antes de julgar que pode ser possível enxergar uns aos outros com alteridade,
empatia e tolerância.

E resgatar o que significa ser, verdadeiramente, humanidade."



by Martha Telles



Um novo Anthropos?
O Ser Humano Ecológico?

O Planeta Terra pode seguir muito bem,
 até melhor, sem nos do que conosco...

É isto que queremos?



Sem título - by Rosan



Rosanna Pavesi/Março 2020

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

"A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS" BY JOSÉ EDUARDO AGUALUSA


" A SOCIEDADE DOS SONHADORES INVOLUNTÁRIOS" 
José Eduardo Agualusa
(Ed. Planeta 2017)

O jornalista Daniel Benchimol sonha com pessoas que não conhece.
Moira Fernandes, artista plástica moçambicana encena e fotografa os próprios sonhos.
Hélio de Castro, neurocientista brasileiro, desenvolveu uma máquina capaz de filmar os sonhos de outras pessoas. Hossi Kaley, hoteleiro, com um passado obscuro e violento, tem uma relação com os sonhos muito diversa e ainda mais misteriosa: 
ele pode caminhar pelos sonhos alheios, ainda que não tenha consciência disso.

O livro é uma fábula política, satírica e divertida que defende a reabilitação do sonho
enquanto instrumento da consciência e da transformação.


Livro que li recentemente e que me impactou...
Transcrevo a seguir, um trecho específico e, a meu ver, bastante significativo...



Fonte: WEB




"40.

A porta do palácio estava fechada, mas nenhum soldado a defendia.
Então Hossi atravessou a parede. Cruzou-a com desenvoltura, num salto elástico e firme,
como se o destino das paredes fosse ser atravessadadas.
O presidente esperava-o, de pé, num gabinete enorme, diante de uma mesa atafulhada de papéis.
Era um homem ainda aprumado, com um porte de bailarino, não obstante ter ultrapassado os setenta anos e sofrer de uma grave doença óssea.

O Hossi e o presidente encararam-se como dois galos numa rinha, segundos antes de se lançarem um contra o outro.
- O que você quer - perguntou o presidente.
- Tudo! - respondeu Hossi.

Disse isso enquanto, com um simples gesto, rachava o presidente ao meio. Do interior do presidente irrompeu um presidente menor, mas ainda mais empertigado que o anterior:

- Por quê?  - perguntou o pequeno presidente.
- O senhor roubou-nos o país.

- Ninguém rouba o que é seu - contestou o pequeno presidente. - Somos todos angolanos.
- Somos sim, mas o que estava combinado era que as riquezas da nação seriam utilizadas em proveito geral. Você destruiu o futuro dos nossos filhos. Destruiu o nosso sonho. Diga a verdade.

- Que verdade?
- Por que prendeu os revus?
- São terroristas.

Com o mesmo gesto simples, Hossi rachou o pequeno presidente ao meio.
Logo um outro homenzinho, mínimo, que mal chegava aos joelhos do antigo guerrilheiro, emergiu do interior do pequeno presidente..

- Por que prendeu os revus? - insistiu Hossi.
- São perigosos - disse o mínimo presidente. A voz tremia-lhe. - Você viveu a guerra. Esses miúdos não. Eles não conhecem o horror da guerra. Estão a atear incêndios. A dividir a sociedade.Mandei-os prender porque não quero uma nova guerra.


Fonte: WEB

Hossi rachou o mínimo presidente ao meio. O que surgiu em seu lugar era um ser ínfimo, assustado, com uma minúscula voz de cana rachada. 

- Pare! - implorou o ínfimo presidente. - O que você quer?
- Diga a verdade. Por que prendeu os revus?

O ínfimo presidente rendeu-se:
- Eles não têm medo! Esses miudos não têm medo! Onde já se viu?! São malucos, não mostram medo, e isso é uma doença contagiosa.
- Isso, o senhor que dizer, a coragem?
- São malucos. Você não percebe que são malucos? Se os solto vão contagiar toda a gente. Vão destruir-me, a mim e à minha família. Vão destruir tudo aquilo que nós construímos.Não os posso soltar.

Hossi pisou o ínfimo presidente,  esmagando-o.

Pessoas começaram a atravessar as paredes: jovens com batuques; velhos carregando enxadas e catanas; mecânicos, com os macacões sujos de óleo; rapazes mucubais, com crinas de zebra na cabeça. Meninos descalços, quimbandeiros, soldados, estudantes pescadores. E também catorzinhas, quitandeiras, peixeiras, zungueiras, kinguilas, as antiquíssimas bessanganas, dobradas ao peso da idade; mamãs grávidas, com um filho às costas e outro pela mão; cozinheiras, lavadeiras e babás.



Fonte: WEB


Todas aquelas pessoas ficaram ali, no imenso gabinete presidencial, girando como peixes num aquário; comtemplando, com redondos  olhos de assombro, as telas nas paredes e os armários de portas abertas, dentro dos quais se podiam ver milhares de bustos do presidente, em ouro e prata; as cabeças empalhadas dos antigos fracionistas e inimigos do povo, desaparecidos havia tanto anos; boiões de vidro cheios de pequenos corações aflitos, ainda vivos e palpitantes e, ao lado, globos de cristal em que flutuavam, num céu tão azul quanto o da minha infância nos dias felizes, as brincadeiras por estrear das catorzinhas e dos meninos descalços.

- Está tudo aqui - disse uma das bessanganas apontando ao redor.
- Todos os dias que nos roubaram.

Começou a chorar.
Chorava e ria.
Aquela bessangana éramos todos nós".


Fonte: WEB


Segundo Mia Couto, "Agualusa é um tradutor de sonhos e seu livro é um 
romance tecido com os mais delicados materiais da poesia...".


Vale conferir...


Rosanna Pavesi/ - fevereiro 2020