sábado, 26 de novembro de 2011

SOBRE RESILIÊNCIA


A Árvore da Vida - Rosan


RESILIÊNCIA:
UM CONCEITO POR MUITO TEMPO IGNORADO...
 
Resiliência é um conceito ainda relativamente novo e pouco conhecido.  Os artistas e filósofos expressaram e expressam frequentemente as profundezas do humano bem antes que os cientistas. Traços de resiliência podem ser encontrados na história da arte, na religião e na literatura.

Resiliência deve ser compreendida, pelo lado prático, como a integração de dois elementos:
  •  a atitude de resistir à destruição, isto é, preservar a integridade em tempos difíceis,
  • a atitude de reagir positivamente, apesar das dificuldades.
Para a ciência: resiliência é o poder ou a habilidade de uma substância retomar sua forma original depois de danificada por alguma razão (torcida, amassada, puxada ou empurrada).

Pessoas resilientes têm esse mesmo poder ou habilidade. As vicissitudes da vida podem abatê-las ou elas podem magoar-se com pessoas ou acontecimentos; entretanto, retomam rapidamente sua integridade, quando não se tornam mais fortes e mais resistentes.



RESILIÊNCIA NÃO É:

Sobrevivência
Muitas pessoas que sobrevivem a desastres naturais e pessoais, fracassos, divórcio, são confundidas com resilientes. O fato de aparentemente estarem bem não garante que internamente se dê o mesmo; elas podem tornar-se ambivalentes em relação à vida.

Comportamento despreocupado
O indivíduo despreocupado parece ter muito mais em comum com as pessoas que não assumem riscos e simplesmente se escondem com medo da vida,  do que com os resilientes. Ao avaliar como lida com os riscos, este tipo perde.

Residir no passado
Gastar muito tempo com o passado não é um comportamento resiliente, mesmo que se trate de analisar ou compreender esse passado. Evocá-lo é um instrumento adequado, se for  um meio de compreender o presente e influenciar positivamente o futuro.



 Pessoas resilientes têm padrões de resposta que revelam componentes emocionais e comportamentais, componentes esses que funcionam como "os músculos" condicionados da resiliência.
Indivíduos resiliêntes não  se deixam dominar pela raiva, ou pelo medo e especialmente pelas dúvidas que os angustiam. Eles não são ambivalentes com a vida, que nunca precisa ser renegociada ou reconsiderada.



RESILIÊNCIA É:

OS DEZ COMPONENTES DA RESILIÊNCIA

1. - Comprometimento não ambivalente com a vida - A característica comum e fundamental das pessoas resilientes é a crença transcendente que lhe dá paixão e coragem para voltar sempre. Elas não perdem tempo questionando se a vida vale ou não vale a pena ser vivida. Elas creêm  que vale!

2. - Autoconfiança - Resilientes compreendem o mundo que os cerca, estabelecem metas realistas nesse mundo e desenvolvem as capacidades necessárias para alcançar seus objetivos. É essa confiança que lhes dá força psicológica para lutar por suas aspirações sem nunca perder o senso de integridade. Os problemas e mudanças que a vida lhes apresenta são como oportunidades para que crescam e aprendam, não as ameaçam  ou ferem e não devem ser evitadas ou delegadas a ninguém mais.

3. - Adaptabilidade - Pessoas adaptáveis alteram seus hábitos pessoais e profissionais quando necessário. Tendem a ser cooperativas e evocam respostas positivas das pessoas a seu redor.

4. - Desembaraço - Pessoas resilientes são cientes dos recursos para a solução de problemas e onde encontrá-los. Sabem como e quando procurar a ajuda de familiares, amigos, colegas, instituições educacionais e outros.São criativas e inventivas na medida em que se servem dos recursos para resolver problemas.

5. - Disposição para arriscar - Nem sempre é possível antever o resultado de uma ação ou de um comportamento, particularmente em situações complexas. Por essa razão, muitas vezes uma ação ou uma decisão são arriscadas. A pessoa resiliente nem sempre age "com segurança", mas assume riscos inteligentes, centrados em possibilidades reais e bastante chance de sucesso.

6. - Aceitação de responsabilidade pessoal - Indivíduos resilientes são muito bem fundamentados filosófica e psicologicamente, na sua autodeterminação. Nunca se dispõem ao papel de vítimas. Se erram, assumem e transformam os erros em experiências de aprendizado.

7. - Perspectiva - Os resilientes sabem o que é e o que não é importante. Investem sua energia em tentativas sérias. Muito frequentemente são dotados de bom senso de humor, que usam para aliviar a dor e a tensão em situações de conflito. 

8. - Abertura a novas idéias - Os resilientes absorvem com avidez e sem preconceito novas informações: investigam, avaliam, selecionam e estocam as novas informações para o futuro. Estão sempre abertos a tudo que possa incrementar sua capacidade de aprender e adaptar-se.

9. - Disposiçao a ser proativo - A resiliência é mais proativa que reativa. Os resilientes determinam mudanças com ação positiva, sem esperar que o único recurso possível seja a reação a ações já desencadeadas por outros. Nada se paralisa por medo do desconhecido, da confusão, das crenças inflexíveis ou da convicção de que "nada pode ser feito". Tudo pode funcionar num sentido de ação orientada.

10. - Atenção - Pessoas resilientes prestam atenção ao mundo ao seu redor e sempre consideram as outras opiniões. Ouvem-nas com muita atenção. Traçam o plano de ação que contemple todas as perspectivas além de sua própria.



ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS...

A resiliência não é um tapete mágico...
Às vezes os resilientes podem achar o processo de crescimento e aprendizagem bastante desonfortável; entretanto, estão sempre dispostos a tolerar o desconforto por um certo período de tempo para alcançar seus objetivos a médio e longo prazo.

A resiliência é um resultado...
Alguns dos fatores que contribuem para a resiliência  devem ser levados em consideração:

Não idealizar a resiliência:  ela não é uma panaceia...

Verificar, em cada contexto, o significado concreto dos fatores que contribuem para a resiliência: ela se constroi de forma diferente em cada quadro socio cultural

Cultivar a resiliência: ela nunca é absoluta. 

Pessoas resilientes não estão imunes ao estresse: elas somente são capazes de controlar o próprio caminho e o próprio tempo num grau maior que os não-resilientes.As pessoas resilientes controlam melhor as passadas para evitar desgaste desnecessário.

NÃO SERIA POIS O DESGASTE SENÃO PERDA DE RESILIÊNCIA?





NOTAS:
Tessa Albert Warschaw, - Resiliency, (New York/USA, Editora Mastermedia, 1996)

Já lançado em português (16/11/2011):

Org.: Ceres A. Araujo, Maria A. Mello, Ana Maria G. Rios, - Resiliência - Teoria e Prática de Pesquisa em Psicologia, (São Paulo, SP, Editora Ithaka, 2011).

Imagens-  Fonte: Google




Rosanna Pavesi/Nov. 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

CLARICE LISPECTOR: POEMAS E IMAGENS...

Blue Moon - Rosan


APRENDENDO A VIVER...


Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.
Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar.
Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes
é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.

Não nos temos entregues a nós mesmos, pois isso
seria o começo de uma vida larga e nos a tememos.

Vou continuar, é exatamente da minha natureza
nunca me sentir ridícula, eu me aventuro sempre,
entro em todos os palcos.

... E quando acaricio
a cabeça de meu cão - sei que ele não exige
que eu faça sentido ou me explique.

Gosto e preciso de ti
Mas quero logo explicar
Não gosto porque preciso
Preciso, sim, porque gosto
(Clarice Lispector - Aprendendo a Viver, (Rio de Janeiro, RJ, Editora Rocco,2005)





Se você gosta de Clarice Lispector, acesse também a Página permanente  "Poesia e Prosa" no topo do blog. Lá você encontrará outros poemas de Clarice, Drummond, Rilke e outros...


Rosanna Pavesi

sábado, 5 de novembro de 2011

A OUVIRTUDE...

Pote Partido - Rosan



SOBRE "OUVIRTUDE"...
(baseado em um artigo antigo de Arthur da Távola)



Uma das grandes questões da comunicação - tanto de massa como interpessoal - consiste em descobrir como  e o que o outro ouve, se é que houve...

A mesma frase pode permitir diferentes níveis de compreensão e entendimento. Raras, bastante raras, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que o outro está dizendo, ou tentando dizer.


Eis algumas considerações sobre o tema:


  • Em geral, quem escuta, não ouve o que o outro fala...O que ele ouve então?  Ele:
                           - ouve o que o outro não está dizendo,
                           - ouve o que quer ouvir, 
                           - ouve o que já escutara antes, o que já lhe é  familiar e conhecido,
                           - ouve o que imagina que o outro iria  ou irá falar,
                           - ouve o que gostaria de ouvir,
                           - ouve o que ele gostaria que o outro dissesse,
                           - ouve apenas o que ele próprio está sentindo,
                           - ouve o que ele já pensava a respeito daquilo que ouve,
                           - ouve o que confirma ou rejeita o seu próprio pensamento: ou seja, transforma quem fala
                              em objeto de concordancia ou discordância,
                           - ouve apenas os pontos que possam fazer sentido para as idéias e visões que o estejam
                              influenciando ou emocionando no momento.

  • Numa discussão, salvo raros casos, as partes não ouvem o que o/s outro/s estão falando: cada um deles ouve o que ele próprio está pensando, para dizer em seguida.

  • Quem escuta não ouve o que o outro fala: ele retira da fala apenas as partes que tenham a ver consigo mesmo e que concordem, emocionem, agradem ou molestem.

Vai ficando claro como é raro e difícil conversar...Como é raro e difícil se comunicar!
O que há, na maioria das vezes, são monólogos simultâneos em guisa de conversa, ou monólogos paralelos em guisa de diálogo.O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação.

A verdadeira comunicação só pode se dar quando ambos os polos ouvem-se, não somente no sentido material de "escutar", mas principalmente no sentido de realmente procurar entender em sua extensão e profundidade o que o outro está dizendo.

Ouvir, portanto, é uma arte: é necessário limpar a mente de todos os ruidos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia. O filtro do preconceito não está na mente e sim no ouvido.

Ouvir implica numa entrega ao outro, numa diluição nele. Daí a dificuldade de as pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A inteligência em funcionamento, o hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar, interferem como ruido na recepção plena do que vem de fora. E mesmo de dentro... Ouvir-se é tão raro   e difícil quanto ouvir ao outro...

Não é só a inteligência a atrapahar; outros elementos perturbam o ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa... Há pessoas que se defendem de ouvir o que o outro está dizendo por medo de se perderem a si mesmas, medo de perder suas "verdades absolutas" frequentemente recém-conquistadas, seus pontos de referência que oferecem segurança. Elas precisam "não ouvir" porque "não ouvindo" livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades e verdades diferentes das próprias. Essas pessoas tentam livrar-se do novo, que é saúde, mas que assusta. Não ouvir é, pois, um sólido mecanismo de defesa: aquilo que não é ouvido, não existe...  

Ouvir implica em  presença: estar presente para si mesmo e para o outro é  um desafio de abertura interior e de abertura em direção ao próximo, troca, compartilhamento, confiança mútua, comunhão...Como Arthur da Távola costumava dizer: " Ouvir é proeza e virtude. Deveria haver a palavra 'ouvirtude'Ouvir é raridade, até sabedoria, pois é só depois que se aprende a ouvir que a sabedoria começa. Descobre-se então o que os outros estão dizendo a propósito de falar...".


Já passei pela experiência de monólogos e diálogos paralelos diversas vezes e sempre me senti humilhada ao perceber que não estava sendo ouvida...Antes eu costumava me perguntar se eu não estava sendo clara ou se minha conversa era de tal forma desinteressante ao ponto de aborrecer meu interlocutor... Hoje, já não ligo mais, encerro a conversa.


No consultório,  procuro estar presente e disponível para o outro da forma mais plena possível, que inclui ouvir o outro de forma atenta e diferenciada, mas isso não é nehuma virtude, nem sabedoria ainda: é o que norteia meu trabalho, é minha obrigação profissional mínima e um hábito treinado e adquirido ao longo do tempo. Um genuino interesse e empatia para com a pessoa que está sentada à minha frente e está me dando um voto de confiança, de que será vista, ouvida, levada a sério... Há  4 H's (como eu carinhosamente os apelidei) que norteiam meu trabalho: humanidade, honestidade, humildade e uma pitada de humor...

Impossível me desfazer disso quando não estou trabalhando... assim, sempre procuro estar presente, atenta e disponível quando alguém quer conversar, para que não aconteça com o outro aquilo que já aconteceu comigo: de se sentir "não ouvida", não levada em consideração... E tenho também notado o quanto é grande a necessidade das pessoas em geral de serem realmente e de fato ouvidas quando falam...

Então, vamos todos treinar um pouco mais a "ouvirtude" em nossas vidas?


Rosanna Pavesi

sábado, 29 de outubro de 2011

DIA D (RUMMOND) : 31/10

(Rio de Janeiro)

Carlos Drummond de Andrade
31/10/1902 - Itabira - Minas Gerais
                 17/08/1987 - Rio de Janeiro - RJ - aos 84 anos



Sem título - Rosan


Gostaria de deixar aqui uma singela homenagem a Carlos Drummond de Andrade, por ocasião da comemoração da data de seu nascimento: dia 31 de Outubro, carinhosamente apelidado de "Dia D"...

Drummond foi o primeiro escritor e poeta brasileiro que me cativou e com quem aprendi a apreciar a vasta literatura deste país...
Vim para o Brasil já adulta, sem siquer conhecer uma palavra da lingua portuguêsa e sem nada saber da literatura, cultura e costumes deste país. Na época, eu era Tradutora-Intérprete (minha primeira formação) e até aprender razoavelmente o português, eu dava aulas para estrangeiros nos idiomas que eu conhecia, driblando a necessidade de um português fluente. Com facilidade para idiomas, aprendi rápido, apesar de manter um leve sotaque que persiste até hoje...

Porém, com o passar do tempo, percebi algo curioso: eu podia, claro, ler e apreciar as obras da literatura brasileira, mas só de uma forma  intelectual;  eu não conseguia "degustá-las", sentir-lhe o aroma, o gosto...elas não me afetavam, não tocavam minha alma... havia uma distância que parecia intransponível... Me continuavam estrangeiras...De forma que sempre acabava dando prioridade a autores cujos idiomas eu dominava, me sentia a vontade, em casa...

Até que um dia, conversando com alguém, comentei sobre isso e a pessoa me respondeu: "É uma pena, você não sabe o que está perdendo... tente a poesia... leia Drummond de Andrade...". Acolhi o desafio... O primeiro livro que se apresentou foi  Amar se Aprende Amando... O título me cativou...

E aqui estou eu, tanto anos depois, prestando uma homenagem ao poeta que me cativou, me encantou, me fez sonhar, companheiro de muitas horas solitárias, o poeta que soube, com palavras suaves, sensíveis e delicadas, desfazer o feitiço ...



Sem título - Rosan

AO POETA QUE TOCOU MINHA ALMA E SOUBE DESPERTÁ-LA,
MEU MUITO OBRIGADO E MINHA IMENSA GRATIDÃO...


 
 Álém das postagens recentes, também publiquei alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade, que me são especialmente caros, na Página "POESIA E PROSA" (que você acessa no topo do blog).  Com o tempo, com certeza, mais e mais poemas serão acrescentados...

Para quem quiser saber mais, sugiro acessar:   http://www.carlosdrummond.com.br/
com belos depoimentos e o próprio Drummond falando...

Rosanna Pavesi

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NOTAS SOBRE FRACASSO...

Marte - Rosan


SOBRE O FRACASSO...

Em uma sociedade onde o que mais se encontra - e se busca - são fórmulas, proposições e receitas mágicas para alcançar o sucesso, falar sobre fracasso se coloca na contramão das demandas coletivas...

É fácil constatar na história que família, sociedade e coletivo exigem e se interessam somente pelo sucesso. Onde o único lema é o sucesso, o sucesso torna-se assim um dever: temos que vencer, seguir em frente, sempre, a qualquer custo...
 Na chamada consciência coletiva e suas demandas, a possibilidade de fracasso não entra.

Quando acontece um revés que poderíamos sentir como um fracasso, muito rapidamente fugimos disso, sem nos dar conta de que, muito provavelmente, esta seria uma magnifica oportunidade e a melhor forma de evitarmos, ou prevenirmos novos fracassos. Não conseguimos ver o fracasso como um possível aliado, provendo reflexão e amadurecimento psicológico.

Como tema, o fracasso não está na moda: palavra pesada, evitada, nem mesmo pronunciada, cria desconforto e traz inquietude, temor, um certo desassossego. Frente a uma sociedade polarizada exclusivamente no sucesso, o termo fracasso está reprimido e descartado.

Assim foi que uma frase se fez voz e presença:
"Tudo a que se resiste, persiste..."

Resistir ao medo do fracasso, faria o fracasso desaparecer ou tornaria este medo maior ainda?
A busca exagerada de sucesso seria uma das formas de aquietar o medo do fracasso?
E por que temos tanto medo do fracasso?
E por que precisamos "ser um sucesso" a qualquer custo?
Sem sucesso, acaso deixamos de existir?
Uma coisa é certa: onde quer que o sucesso esteja, o fracasso também sempre estará por perto, e viceversa...
Se eu não sou um sucesso, eu seria necessariamente um fracasso?
Como falar em vitórias, derrotas, ganhos, perdas, empreendimentos bem e/ou mal sucedidos sem confundir o ter com o ser?

Recentemente, duas frases chamaram minha atenção:

"10 anos sem vitória e o fracasso nunca me subiu à cabeça..."
(folder de divulgação de uma artista plástica)

"Mais amor, dinheiro, saúde e sucesso: O segredo está aqui!"
(na capa de uma Revista de Atualidades)

Na primeira frase, o que me chamou a atenção foi o trocadilho entre as palavras sucesso e fracasso: achei original e interessante...
Sim porque tanto o sucesso quanto o fracasso, quando sobem à cabeça, quando tomam conta de nos, podem ter efeitos nefastos. Se o sucesso pode nos deixar inflacionados, vaidosos, seguros e até arrogantes para além da medida, o fracasso por outro lado pode nos deixar arrasados, abatidos, desmotivados e frustrados, também para além da conta.

Na segunda frase, o que me chamou a atenção foi a palavrinha "mais" : o apelo sedutor, para se ter mais disto, daquilo, do outro...O segredo revelado que vai mudar a nossa vida!
Ao que tudo indica, ter amor, dinheiro, saúde, sucesso, não é o suficiente... precisamos ter mais...

O que nos remete todos a uma vala comum: salvos alguns raros privilegiados, ninguém tem o bastante, somos todos deficitários...Viver bem, aproveitar aquilo que já se tem não é o suficiente: isto hoje recebe o nome de acomodação, resignação, falta de ambição e outros rótulos mais...Uma voracidade insaciável, uma fome de "mais" que envenena o presente, e sempre nos remete ao desejo de um futuro com mais disto, daquilo, do outro... Na maioria das vezes, não somos um fracasso, nem fracassamos, mas é preciso nos fazer sentir que isto não é o bastante, para desejar, alcançar, consumir, ter,  mais e mais...Se sair bem, não é o suficiente, precisamos ser um "sucesso"...

Talvez W. Shakespeare tenha razão ao escrever que :

"SOFREMOS DEMAIS PELO POUCO QUE NOS FALTA E
ALEGRAMO-NOS POUCO PELO MUITO QUE TEMOS"
(W. Shakesperare)

Não se trata de fazer a apologia do fracasso, mas sim de devolver a esta experiência humana a sua legitimidade, seu lugar dentre as possibilidades, sua dignidade, seu valor e, principalmente, retirar-lhe o rótulo de "inimigo"...

A meu ver, é preciso sair de uma perspectiva exclusiva e demasiadamente triunfalista. É preciso, de certa forma, reconciliar-se com a possibilidade de fracasso e diferenciar-se dela: ter um revés, um fracasso, não significa que nos somos um fracasso, mas sim que talvez o fracasso veiu para nos ensinar algo, promover uma reflexão sobre aquilo que pauta - ou deveria pautar - nossas atitudes perante a vida  como um todo.

 "ser um sucesso" seria  a única possibilidade de alegria e gratificação?





Rosanna Pavesi

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Helen Fisher tells us why we love + cheat | Video on TED.com

Helen Fisher tells us why we love + cheat | Video on TED.com





A Paixão - Rosan
 "POR QUE AMAMOS E TRAIMOS..."

A Antropóloga Helen Fisher fala sobre um assunto inesgotável e que sempre desperta nosso interesse: O AMOR...Explica, a partir de seu ponto de vista, a evolução do amor, suas fundações bioquímicas e sua importância social, cobrindo três eixos principais: o desejo sexual, o amor romantico, o apego e a interação ( ou não) desses  fatores. 
Também  comenta a influência dos anti-depressivos sobre os três elementos acima e chega a conclusões surpreendentes...

VIDEO COM LETREIROS EM PORTUGUÊS"



Rosanna Pavesi

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

PARA A MULHER



O Jardim de Afrodite - Rosan



PARA A MULHER

"Mulheres vão em busca do grande amor,
Enfrentam a noite escura da dúvida, da dor...
As perseverantes com a força de suas almas,
A delicadeza e sabedoria de seu espírito,
Vestidas de coragem e seus pés iluminados
Ora pelo extasiante encanto do amor
Ora pelo etéreo canto do noivo amado.
Continuam fortalecidas sempre na certa direção.

As vazias, frágeis, insensatas se aprofundam
Na escura amplidão, sem certa direção.
Suas almas confusas, não reconhecem o canto
A luz emanada do amor do coração.
Vagam em uma inútil busca
Encontram medo e solidão
E seguem iludidas por luzes
Soltas, ocas, frias, sem salvação.

Enquanto as mulheres repletas de luz
Abastecidas do óleo balsâmico que alimenta
O brilho da candeia eterna,
Iluminando a caminhada da vida,
Saciando a sede na fonte da inspiração
Se deleitam nas infinitas possibilidades
Do grande amor."

(Dirce Schüler)




Rosanna Pavesi

domingo, 9 de outubro de 2011

O SONHO...


A Pérola do Amor - Rosan


O SONHO E A LÓGICA 



"O SONHO DESPROVIDO DE LÓGICA É FRÍVOLO...

A LÓGICA, DESPROVIDA DE SONHO, É DESERTA..."

(Eduardo Giannetti, em O Valor do Amanhã)

 Rosanna Pavesi

MAIS ALGUMAS DIVAGAÇÕES...


O Bosque (1) - Rosan



SABEDORIA ANTIGA...
"Qualquer um pode ficar zangado. Isto é fácil...
Mas zangar-se com a pessoa certa, na intensidade correta, no momento adequado, pelos motivos justos e da maneira mais apropriada,
isto não é fácil..."
(Aristóteles)


PROVÉRBIO AFRICANO
"Quando não sabemos para onde vamos, é bom lembrar de onde viemos..."


QUEM SOU EU?
"Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta:
caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der"
(Autor desconhecido)


"UMA ANÁLISE..."

"Uma análise é, sem dúvida alguma, uma longa conversa sobre o amor..."
(Ginette Paris, em The Wisdom of the Psyche)

A VIDA QUE ESPERA POR NOS...

"We must be willing to get rid of the life we've planned
so as to have the life that is waiting for us"
(Joseph Campbell)

(Devemos estar dispostos a nos desfazer da vida que planejamos
para que possamos ter acesso à vida que espera por nos...)







 Rosanna Pavesi

DIVAGAÇÕES...



O Bosque - Rosan


"NÃO ENTENDO..."
"Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.
Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom.
Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender.
É uma benção estranha, como ter a loucura sem ser doida".
(Clarice Lispector)


LIBERDADE
"A liberdade é a possibilidade de isolamento.
Se te é impossível viver só, nasceste um escravo".
(Fernando Pessoa)

"A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará a seu tamanho original"
(Amit Goswami)

"Nós vivemos a temer o futuro, mas é o passado que nos atropela e mata"
(Mario Quintana)

"NOSSOS FANTASMAS
têm o pé no real porque se manifestam nas escolhas que fazemos"
(Autor desconhecido)

"O VALOR DAS COISAS
não está no tempo em que elas duram, mas sim na intensidade com que acontecem.
Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis"
(Autor desconhecido)

FELICIDADE ?
Alguem que é feliz a vida toda é um cretino.
Por isso antes de ser feliz, prefiro ser inquieto"
(Umberto Eco)











 Rosanna Pavesi

Vinte e Seis Pérolas e Outras Fantasias


Flor de Cerejeira - Rosan

 " Vinte e Seis Pérolas e Outras Fantasias"

"representa nova contribuição de  L.F. Barros às mesmas causas que vem defendendo há anos: o combate ao estigma que cerca os portadores de transtornos mentais e a demonstração do valor terapêutico da escrita.

Característica das mais marcantes do processo de estigmatização, e das mais perversas, é a redução a um único aspecto  - aquele que se desvia da normalidade - da percepção que temos da pessoa diferente, momento em que perdemos a condição de compreendê-la em sua complexidade e plenitude.

"Louco", "doente mental", "portador de transtorno mental"(e outros rótulos mais), se não estivermos atentos, são categorias que podem estar a serviço de nos afastar do entendimento das pessoas que mais conhecem o sofrimento psiquíco, ao invés de nos auxiliar a compreendê-las.

Neste livro, o autor reafirma sua condição de escritor de forma independente de sua produção de caráter memorialista em relação à loucura.

Criatividade e "loucura" são amiúde relacionadas - em geral de maneira equivocada. A loucura é o caos e dela nada mais advém do que, eventualmente, a inspiração de uma obra.
A transpiração que produz a obra, o ato criativo, representa justamente o esforço de organização do caos... Este é o valor terapêutico que a escrita proporciona... (Fonte: orelhas do próprio livro)



A Chuva - Rosan

"FLOREZINHAS BRANCAS"

" A vida me é amiga e generosa. Presenteia-me a cada dia com nova esperança. E se a cada noite me manda o frio e a névoa é para que eu saiba apreciar o novo amanhecer.

...Moro num espinheiro cerrado, com parcas passagens seguras...Este labirinto de espinhos onde se esconde minha alma mantém florezinhas brancas perenes e de sauve odor. É este aroma que a brisa da tarde espraia aos campos atraindo peregrinos desgarrados.

Crêem estes seres errantes poderem em minha morada aprender como viver entre espinhos sem se ferir, como descer despenhadeiros no escuro sem despencar, como andar no pântano sem se afogar, como viver nas trevas sem se obscurecer.
Estas almas todas comigo se iludem.
...O que não entendem os peregrinos, e por isto é que se mantêm sempre errantes à busca de não sabem direito o quê, é que os mistérios que as trevas desvendam para cada um só servem para ele mesmo..."

(L.F. Barros - Vinte e Seis Pérolas e Outras Fantasias - pp.21-25 ( Rio de Janeiro - RJ - Editora Imago, 1998)

Do mesmo Autor:
Memórias do Delírio - Confissões de um Esquizofrênico - Anjo Carteiro - A Correspondência da Psicose.





"AQUELES QUE SOFREM CONTINUARÃO MEU TRABALHO..."
(C.G. Jung - em algum lugar de sua obra...)


 Em comemoração ao Dia Mundial da Saúde Mental (10 de Outubro) 

Rosanna Pavesi

sábado, 8 de outubro de 2011

O MUNDO É GRANDE...


Amor/Dream Box- Face Anterior - Rosan

Amor/Dream Box - Face Posterior - Rosan

"O MUNDO É GRANDE E CABE
NESTA JANELA SOBRE O MAR.

O MAR É GRANDE E CABE
NA CAMA E NO COLCHÃO DE AMAR.

O AMOR É GRANDE E CABE
NO BREVE ESPAÇO DE BEIJAR"

(Carlos Drummond de Andrade)
(Amar se Aprende Amando - 10.a edição (Rio de Janeiro, RJ, Editora Record, 1990)







Rosanna Pavesi

Amar Se Aprende Amando...

Amor - Rosan


'O AMOR QUE MOVE O SOL,
COMO AS ESTRELAS."

"O verso de Dante
é uma verdade resplendescente,
e curvo-me ante a sua magnitude.
Ouso insinar,
sem pretensão a contribuir
para se que desvende o mistério amoroso:

Amar se aprende amando.
Sem omitir o real cotidiano
também matéria de poesia."
(Carlos Drummond de Andrade)
(Amar se Aprende Amando - 10.a edição (Rio de Janeiro - RJ, Edit. Record, 1990)

 Rosanna Pavesi                                                                                                                                                                      
                           
                                                                                             

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Dream Catchers - Origem e Lendas


ORIGEM E LENDAS

DREAM CATCHERS OU "CATASONHOS" EM PORTUGUÊS

 O QUE É:

O Catasonhos ou Apanhador de Sonhos é um amuleto da cultura indígena ojibwa (ou chippewa), que consiste em um aro construido com uma vara de salgueiro-chorão, ao qual são atrelados e pendurados vários fios, formando uma sorte de teia de aranha, propositalmente irregular em sua forma, segurando algumas poucas penas e/ou outros pequenos objetos de significância pessoal especial.






ORIGEM E LENDAS

Diz a lenda que antigamente havia duas tribos em guerra. A raiva e o rancor gerou energias desarmônicas, que faziam com que as crianças tivessem pesadelos. A grande mãe búfala desceu à terra e pediu ao xamã da aldeia que fizesse um aro com um galho de salgueiro-chorão e deixasse uma aranha fazer uma teia dentro dele.O xamã obedeceu e pendurou o filtro na teto da cabana em que as crianças dormiam. As energias desarmônicas ficavam perdidas na teia e consequentemente presas, enquanto as boas energias sabiam para onde ir, passando pelo furo central. Aos primeiros raios de sol, as energias desarmônicas se dissipavam.

Apesar dos catasonhos terem se originado entre o povo Ojibwa Nation durante o período do Movimento Panameríndio (Pan-Indian Movement) das décadas de 1960 e 1970, esses objetos foram adotados por muitos outros grupos e nações indígenas da América do Norte, sendo considerados um símbolo de união e de confraternização entre os povos ameríndios do norte do continente.

O povo Ojibwa (Chippewa) acredita que quando um catasonhos é pendurado no local onde se dorme, ele se move livremente, acampanhando o movimento natural do ar e "apanhando" os sonhos que por alí passam... Os bons sonhos têm passagem livre pelo furo central, enquanto os maus sonhos ficam presos na teia, se dissipando ao raiar do sol... 

Apesar das diversas variantes da lenda e dos diversos materiais e desenhos utilizados para os catasonhos, sua simbologia tornou-se universal, superando diferenças culturais e idiomáticas. O catasonhos parece continuar  encantando e cativando milhares de pessoas, despertando nossa curiosidade e fantasia  e retendo sua magia... 

Cada um de nos pode montar seu próprio catasonhos, usando sua criatividade e carinho, utilizando os mais variados materiais... Tente...
Afinal todos sonhamos...


(Rosanna Pavesi- Outubro 2011)





domingo, 18 de setembro de 2011

Excêntrico

Catavento - Rosan
"Excêntrico...

Quero acertos e erros novos...
Passo minha vez à gratidão...
Devolvo todo sentimento seu...
Anulo as correntes da solidão...
Encomendo tradições do acaso...
Facilito um breve adeus...
Injeto a força dos prazeres...
Comunico a intenção sem garantia...
Pactuo com o absoluto invisível...
Comemoro toda vitória...
Rejeito o poder dos poderosos...
Cancelo os porquês com suas próprias memórias...
Flutuo no instante condicionado...
Abro a porta da desgraça crua...
E sofro na coragem que falece meus pecados...
Atinjo tudo que penso sem sentir...
Protejo o nobre calado...
Envio meu destino antecipado...
                                                                Movo a montanha dos apesares...
                                                                Possibilito compromissos sem ideais...
                                                                Atuo na parte do senso retraido...
                                                                Emociono o letal pudor...
                                                                Ameaço sua vida febril...
                                                                Contenho toda distância que acaricio...
                                                                Imortalizo a promessa dos profetas...
                                                                Mistifico bases de tratados convenientes...
                                                                Me aguento na opinião...
                                                                E VOCÊ? "

                                                                (Camilo Malatesta/maio 2011) 


"EU...
Com o passar do tempo, tornei-me modesta em minhas pretensões...
Perdi a onipotência e a arrogância...
Não busco mais a Verdade final e derradeira...
Nem as respostas definitivas...
Fico feliz com as descobertas de cada dia...
Tirei do meu vocabulário as palávras Nunca Mais e Para Sempre...
Vivo o tempo que me resta sem me preocupar com o quanto resta...
Me amo e me respeito de paixão...
Sou grata pelo que já fui, pelo que eu sou e, de antemão, pelo que virei a ser...
Mas principalmente,
Aprendi a amar os mistérios da alma,
Os acolho e os deixo me ensinar, me conduzir..."

(Rosan/maio 2011)

E VOCÊ?


Rosanna Pavesi

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Agressividade - Crueldade - Maldade e... Tolerância


A Pérola do Amor - Rosan
 

Agressividade

"... permitam-me uma pequena digressão: um dos termos mais maltratados da psicologia do século (sec. XX)  é "agressividade"; o abuso que dele se faz é suficientemente convincente. Até nos dias recentes, as idéias referentes à agressão provenientes dos estudos da conduta animal, da antropologia, etc. nos dizem que o homem tem uma agressividade instintiva como a dos animais.

De acordo com essas idéias, o que falha no homem é que os chamados complexos primitivos aparecem no "homem civilizado"e se apoderam dele, colocando-o fora de controle.
Isto, em tom de reprovação e com certa hipocrisia, é projetado sobre o homem primitivo que todos levamos dentro em alguma parte. Todo tipo de teorias têm sido elaboradas a este respeito, até a do velho cerébro e a do novo cérebro. Sem dúvida, hoje em dia, os novos livros sobre evolução nos oferecem idéias mais psicológicas e sofisticadas, mais adequadas ao espírito de nossos tempos.

Se o homem só possui uma agressividade instintiva, então esta poderia estar contida na ecologia de seus instintos.
Porém, a coisa é mais complexa. A agressividade no chamado homem primitivo, que sabe mais ou menos como manejá-la, não nos serve para explicar e muito menos aceitar o que nos oferece o mundo atual.
Através dos testemunhos da história, o que chamamos de agressividade no homem parece que surgiu de seus conflitos colturais, uma expressão de sua ansiedade cultural.

E se os livros recentes sobre evolução apresentam a agressividade primitiva como algo mais do que instinto, um produto da cultura, então não resta nada a comparar com o chamado "homem civilizado", o qual, aplicada a ele, a palavra agressivo já não tem validade, está fora de contexto; poder-se-ia dizer que simplesmente não é suficientemente forte.
Então, já que a agressividade se vive no nível primitivo, para o homem civilizado, com seu excesso de conflito cultural, prefiro utilizar a palavra crueldade."

Crueldade

(...) "Ao aceitar o termo junguiano de sombra como campo de exploração, a psicologia profunda deve incluir a crueldade, um subproduto da cultura e da civilização, como elemento essencial da sombra.

Considero a crueldade como algo suficientemente acessível para ser mantida dentro de nossa consciência diária: a crueldade é cultural, e nela jaz a possibilidade de tornar-se psíquica. É como se a história mudasse constantemente nossa visão deste ponto.
É impossível ter hoje em dia a mesma visão desta característica humana que se tinha há cinquenta anos ou 100 anos: a crueldade está crescendo (grifo nosso). Historicamente falando, Jung e seus seguidores e colaboradores trabalharam sobre esta parte da natureza humana em termos de maldade. Eles a consideraram principalmente dentro da tradição religiosa das polaridades do bem e do mal, ou do mal como parte de nossa natureza com a qual não podemos lidar e, por isso, temos de rechaçar.

(...) Porém, para nossa sobrevivência pessoal, para a proteção de nossas almas, a crueldade é o nível sobre o qual devemos nos concentrar (grifo nosso). É nossa preocupação mais imediata, um aspecto demasiadamente evidente de nossa vida cotidiana, do mundo e de nossa prática psicoterapêutica, onde estamos acostumados a ver a crueldade dissimulada nos diagnósticos e tratamentos psiquiátricos.
A crueldade é um elemento de nossa constante ansiedade cultural. Todos somos cruéis em alguma parte. (...) Estamos bem longe dos tempos socráticos, quando, apesar da crueldade, o interesse era Eros. Borges foi muito explícito ao dizer que se pode conhecer tudo, até se pode ser um grande poeta, mas se não se conhece a crueldade não se sabe de nada. (grifo nosso)

Para resumir, com estas três facetas da natureza humana, estamos tratando de diferenciar o que pertence à parte mais obscura da sombra. A agressividade é uma atitude instintiva que aparece nos conflitos do homem primitivo e, assim mesmo, no nível primitivo da psique e de nossos complexos. A crueldade é um produto do homem civilizado e surge de sua ansiedade cultural. Certamente, a agressividade e a crueldade podem coincidir. E, por último, nos estudos de religião e filosofia ocidental, a maldade permanece dentro das polaridades do bem e do mal e este último, em psicologia junguiana, é a parte de nossas natureza que não podemos assimilar e temos de rechaçar. "

Tolerância

(...) "A ansiedade cultural é minha maneira de refletir sobre o conflito histórico entre o monoteísmo e os numerosos paganismos do mundo ocidental. A ansiedade cultural pode ser vista de muitas outras maneiras, e suponho que cada indivíduo tem sua própria maneira de aceitar e refletir essa ansiedade.Não é difícil pensar que o conceito de si-mesmo de Jung foi sua maneira de conter o Uno e os muitos.

Mas, como alguém que aprendeu dos ensinamentos de Jung, eu diria quanto a isso que seguir as pegadas da própria individuação é o que realmente vale. Pessoalmente, sinto que, no mundo em que vivemos, a tolerância, como entendimento e convivência é básica.

Todavia, também estou consciente de que dentro de mim existem elementos com tendência à tolerância e elementos que pertencem à intolerância, e tenho de sofrer a ansiedade gerada por esses dois opostos e experimentar o desafio de tratar de tolerar em mim o que, de per si, é intolerante". (grifo nosso)

(Fonte: Rafael López-Pedraza, "Ansiedade Cultural" em Rafael López-Pedraza,  Ansiedade Cultural, pp.57-59 e p. 64,  (São Paulo: Paulus, 1997).

A crueldade pode ter sua poética e sua estética mas, a meu ver, continua cruelmente cruel. De forma que acolher o desafio que López-Pedraza propõe no final do texto transcrito acima, é essencial,  por tão intolerável que nos pareça lidar com o intolerante em nos...

Rosanna Pavesi
setembro 2011