domingo, 3 de março de 2019

SOBRE A VELHICE...

by Paul Klee



SOBRE A VELHICE...

"A velhice é uma etapa de nossa vida que tem, como todas as demais,
aparências específicas, atmosferas e temperaturas próprias, prazeres
e necessidades peculiares.

Assim como todos os nossos irmãos mais novos, nós, os velhos de
cabelos brancos, também temos uma tarefas que dá sentido à nossa
existência. 
Ser velho é uma tarefa tão bela e sagrada quanto ser jovem, da mesma
forma que aprender a morrer e saber morrer são atributos tão valiosos
quanto quaisquer outros, desde que os encaremos com o devido respeito
pelo significado e pela santidade da vida.

O velho que odeia e teme a velhice, os cabelos brancos e a proximidade
da morte é tão indigno de representar sua categoria quanto o ser
jovem e vigoroso que odeia a própria profissão e sua atividade
diária, delas tentando esquivar-se.

Resumindo:

Para dar sentido à velhice e fazer jus à tarefa nela contida, é preciso
concordar com ela e dizer sim a tudo o que a ela diz respeito.

Sem este sim, sem essa entrega ao que a natureza exige de nós, nossos dias
- sejamos velhos ou jovens - não têm valor nem sentido,
e passamos a enganar a vida.


by Chico Stockinger


Pobre e triste, no entanto, é aquele que se entrega por inteiro a esses processo
degenerativo, sem ver que a velhice também tem seu lado bom,
suas vantagens, seus consolos e suas alegrias.

Quando penso neste lado belo e positivo da vida na velhice e me
lembro de que nós, os encanecidos, também possuimos fontes de
força, paciência e alegria que não têm qualquer importância na vida dos jovens,
(...) posso nomear, agradecido, algumas das dádivas que a velhice nos concede.



by G. Klimt


A que mais aprecio, dentre todas, é o acervo de imagens que guardamos
na memória após uma longa vida e que, com o declínio da atividade,
passamos a enxergar de uma forma nunca antes imaginada.

Silhuetas e perfis de pessoas que já se foram há sessenta ou setenta anos
continuam vivas para nós, nos pertencem, nos fazem companhia e nos
olham com olhos de vivos.

Casas, jardins e cidades que nesse interim desapareceram ou
sofreram grandes mudanças nos parecem exatamente como outrora;
montanhas e praias que décadas atrás admirávamos durante as viagens
continuam frescas e coloridas em nosso album de fotografias.



by Paul Klee



A visão, a observação e a contemplação se transforam cada vez mais
em hábitos e exercícios; sem que o percebamos, a atitude e o interesse
do espectador passam a dominar todo o nosso comportamento.

(...) Aqui, no jardim dos velhos, brotam flores que outrora
nunca nos preocupamos em cuidar.

(...) e quanto menores os nossos anseios por ação e participação,
maior nossa capacidade de ver e ouvir a natureza e o próximo."
(1952).

(Hermann Hesse em Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem - Record - 2018).



by Rosan


Um dos textos mais singelo, poético e profundo que já li sobre
o tema...


Rosanna Pavesi/Março 2019