domingo, 29 de abril de 2012

MITO E CORPO (3): PARTE III, PARTE IV, PARTE V



 
Adão e Eva (by Martha Telles)


PARTE III

A JORNADA DO HEROI: O INCONSCIENTE SOMÁTICO
O mito do heroi fala do crescimento e da subjetividade do adulto


Os contos falam de como é possível usar a si mesmo física, emocional e imaginativamente, para organizar as três camadas que herdamos - a ecto, a meso e a endo - e, em seguida, compartilhar nossas experiências com os outros.
O mito do heroi é sobre corporificação e Keleman utiliza Parsifal como exemplo de um dos mitos formativos do Ocidente.

Segundo Keleman, Parsifal é uma história que fala de como usamos a nós mesmos e nos formamos diante dos desafios de nossa vida. A busca de Parsifal é encontrar uma maneira de desenvolver a compaixão e a empatia. Com essas novas qualidades, ele cria um relacionamento com o "rei", abrindo-se ao transcendente. Parsifal traz a compaixão, a compreensão e o respeito para dentro de nossa vida.

Há uma verdade emocional, biológica:
usar a si mesmo para gerar e expressar compaixão e compreensão, respeitar o próprio processo e reconhecê-lo no outro.
Nesse sentido, embriologia é cosmologia e o  processo somático é um drama evolucionário, a nossa cosmologia pessoal.

A quem o Graal serve?  


PARTE IV: INICIAÇÃO...


Aprofundando a nossa humanidade somática...

A humanidade somática é o reconhecimento de uma semelhança de respostas entre nós mesmos e os outros...
Segundo Keleman, nós nos distanciamos dos laços de sangue como referência e destino.
Mas tornar-se uma pessoa madura, a pessoa que você está designada  a ser, é saber quem você é: conhecer o seu destino - como ectomorfo, endomorfo ou mesomorfo.
A tarefa é reconhecer o divino mistério da reprodução, da comunicação, o mistério da morte e da transformação.
Sentir, realmente o gosto disso, é aprofundar a experiência de vida.

Nietzsche fala de Amor Fati...
"As Parcas guiam aqueles que querem. Os que não querem, elas arrastam..."

Contar uma história funciona como um organizador que ajuda a corporificar nossa experiência.
As histórias falam de como o nosso soma se cria, cresce e desaparece.
O organismo conta para si mesmo histórias sobre o crescer, sobre o preparar-se para crescer.

A experiência corporal é a chave. A experiência do seu corpo. O contar histórias sintetiza a experiência somática. Organiza os elementos da experiência numa forma corporal que nos dá uma configuração pessoal, uma direção e até mesmo um senso de significado que é possível vivenciar.
É por isso que Keleman insiste em dizer que é preciso procurar o corpo numa história, em lugar de procurar símbolos e seus significados tão só.

PARTE V: O RETORNO A UMA EXPERIÊNCIA SOMÁTICA






Ser corporificado é participar na migração de uma forma corporal para outra. Cada um de nós é um nômade, uma onda que dura por algum tempo e então assume uma nova forma somática. Essa transformação perpétua é o assunto de todos os mitos.
(S. Keleman)

"(...) Porque cada um de nós é como uma pequena chama de uma vida eterna que está em nós.
Nós somos funções de uma vida eterna. Há uma energia inexaurível para acumular essas formas. E é isso o que nós realmente somos. Você se apega a pequenas formas locais. Você precisa descer a uma caverna como aquela de Lascaux para ter essa evidência..."
(J. Campbell)

Quando aprendemos que a transmissão da experiência é somática, descobrimos nosso caminho de volta a uma referência somática.
O processo somático é a fonte primária de auto-referência.
Nós estamos enraizados num campo vivo palpável. É a biosfera, o oceano protoplásmico ao nosso redor, entre nós, em nós...
Pela vida corporal, descobrimos que somos parte de alguma coisa maior do que nós mesmos, algo que é contínuo, apesar de sermos descontinuos.

Sobre a Prática de Corpar

A Prática de Corpar restaura nosso senso de sanidade somática, restabelece o sentimento de sermos uma entidade somática e de estarmos corporificados.
Os Cinco Passos:

Observar:  o  padrão de comportamento identificado;  (Ex.: Postura de orgulho = observar torax, parte posterior do pescoço, boca, garganta, olhos..)
Exagerar : o padrão de comportamento identificado ,fazer mais intensamente;
Desintensificar:  tal padrão, desfazer ligeiramente, desorganizando o padrão,
Esperar : pausa, há um reembaralhamento; 
Reorganizar : dado padrão de comportamento...

Esses cinco passos são as regras para desorganizar e reorganizar formas.
Isto Keleman chama de Psicologia Formativa.

Dados Biográficos

Stanley Keleman, nasceu no Brooklyn, Nova York, em 1931. Diretor do Center for Energetic Studies em Berkeley, California. Pioneiro no estudo da vida do corpo, autor de diversos livros, alguns dos quais traduzidos para o português e editados pela Editora Summus.

Joseph Campbell, educador, autor e editor, estudou nas Universidades de Columbia, Paris e Munique. Autor de um estudo das mitologias mundias publicado em quatro volumes, intitulado As Máscaras de Deus, e de inúmeros outros. Faleceu em 1987.

Notas:
S. Keleman, Mito E Corpo - Uma Conversa com Joseph Campbell,
(São Paulo, Summus editora, 2001)


Ler o livro foi uma experiência notável...
Apliquei a Prática do Corpar a mim mesma, identificando diversos padrões de comportamento e seguindo os passos que Keleman propõe e fiquei surpresa com os resultados...

Mas, na verdade, o que mais apreciei foi essa coniunctio que os autores propõem entre soma e mito e a linguagem inspirada e poética usada ao longo de todo o texto...
Para mim, nem o mito nem o corpo jamais serão os mesmos...
Meu olhar e minha experiência se desorganizaram e reorganizaram de forma nova e surpreendente...
Gostei...

Rosanna Pavesi/Abril 2012






domingo, 15 de abril de 2012

MITO E CORPO (2): PARTE I E PARTE II

                                                 MITO E CORPO (2) : PARTE I  E PARTE II

Adão e Eva (by Martha Telles)


PARTE I: CORPO E MITO
Eu sou corporificado, portanto experiencio que sou...

"Para mim, a mitologia é uma função da biologia (...) um produto da imaginação do soma. O que os nossos corpos dizem? E o que eles estão nos contando? A imaginação humana está enraizada nas energias do corpo (...)  (Joseph Campbell)



Segundo Keleman, uma imagem mítica é a forma da anatomia falando sobre si mesma.
Os mitos são os scripts das nossas formas genéticas em linguagem social.
Os mitos evocam o nosso self  somático mais profundo, mais íntimo, uma estrutura somática com muitas camadas de formas que conferem profundidade e dimensão ao nosso corpo.

A nossa percepção da nossa continuidade, subjetivamente como um processo corporal, é muito semelhante ao sonho e aos estados poéticos que formam os mitos. A realidade mítica é uma organização móvel, com um coração batendo, com marés de sentimentos e de formas.

O mito é uma história contada numa linguagem específica que os seres humanos inventaram para si mesmos. Ao contar um mito, uma parte do organismo pode falar com outra e os indivíduos podem partilhar as suas experiências internas com as pessoas à sua volta.

O corpo organiza a sensação que emerge do metabolismo tissular e isso é o que chamamos de consciência. Esse processo somático é a matriz para as histórias e imagens do mito.
Como usamos a nos mesmos para encenar as imagens míticas conhecidas ou desconhecidas que são parte de nossa vida? Porque, tendo ou não conhecimento disso, estamos vivendo essas histórias herdadas.
A mitologia está estruturada nas células.
Cada espermatozóide, cada óvulo, contém a história que é recriada no crescimento total de cada célula.

Os tipos míticos:
Wilkiam Sheldon, em sua teoria dos tipos constitucionais, descreve três temperamentos baseados nas três camadas embriológicas do corpo, a saber:

O Tipo Endomórfico, metabólico, no qual predominam os hormônios e os tecidos da digestão e da respiração. O endomorfo brota da camada visceral do embrião.Segundo o autor, esse temperamento orienta-se para o cuidado e a intimidade.
O Tipo Ectomórfico, no qual predominam os neuro-hormônios e os orgãos da sensação. O ectomorfo brota da camada intermediária do embrião. Segundo o autor, esse temperamento está orientado para coletar informações sensoriais.
O Tipo Mesomórfico, no qual predominam os hormônios da ação, os grandes músculos e os ossos. O mesomorfo brota da membrana externa do embrião. Segundo o autor, esse temperamento orienta-se para a ação.
Essas organizações somáticas são herdadas e, segundo Keleman, determinam o modo como as pessoas experienciam a si mesmas e como o mundo faz sentido para elas.

Cada uma dessas organizações está ligada a um conjunto diferente de mitos.
O endomorfo está ligado aos mitos dos fundadores de comunidades agrícolas, o ectomorfo está ligado aos mitos dos sábios e ascetas e o  mesomorfo está ligado aos mitos do guerreiro.

Cada um de nós é uma combinação dos três tipos.Cada um de nós combina a suavidade do endo, a firmeza do meso e a fragilidade do ecto.

Na história da humanidade, passamos pela era mitológica endomórfica, bem como por uma herança mesomórfica, forjando mudanças.
Agora, começamos a explorar o ectomórfico, o papel do indivíduo.

PARTE II: ENTRANDO NA VIDA FORMATIVA

Cante em mim, Musa, e por meu intermédio conte a história daquele homem habilidoso em todas as formas de luta (Homero, Odisséia)



Houve uma transformação tão rápida nos contatos economicos e sociais da nossa vida - eles mudam tão depressa agora - que nada é estável e você precisa fazer tudo sozinho. Você precisa irromper nesse campo não-interpretado para descobrir a própria interpretação mítica.
Esse é um desafio. Um desafio difícil, mas do qual pode dar conta. Se você se perceber num papel arquetípico qualquer em sua vida profissional, e dramatizá-lo arquetípicamente, teremos uma visão muito mais instrutiva de nós mesmos. Sem essa visão estamos numa terra devastada.
(grifo nosso) ( Joseph Campbell)

Segundo Keleman, abandonamos o corpo em nome de racionalidade e linguagem, símbolos e signos. O cérebro organizou uma realidade de imagem e pensamento, ao venerar a vida inivisível da consciência. Nós existimos numa Terra Devastada, onde as imagens vampirizam a vitalidade do soma, onde o pensamento está enamorado pelo próprio reflexo.Vivemos na Terra Devastada, onde os nossos corpos existem apenas para os propósitos da mente...

Usamos o cérebro para tornar nosso corpo um objeto. Originalmente, esse processo de criação de imagens destinava-se a organizar a experiência. Agora ele tomou o lugar da experiência corporal.
Em certo ponto, a capacidade de formar imagens e então símbolos, começou a tomar conta de nós.
O significado do símbolo torna-se um substituto da própria experiência.

Quando idealizamos a imagem em lugar da experiência corporal, nós nos descobrimos vivendo na imagem. A natureza tornou-se uma fotografia, uma idéia, um símbolo, uma imagem no cérebro - e o mesmo aconteceu com o corpo. Vivemos na imagem do corpo, não no corpo. Estamos enamorados pelas imagens do corpo, desconhecemos o corpo mesmo.

A experiência é parte do processo auto-organizador do corpo. Mantemos em nossos tecidos o evento real e uma organização de uma imagem do evento. De um único evento, organizamos o experiencial e o simbólico.
Ao aprendermos a viver novamente das nossas respostas orgânicas, o soma se produz a si mesmo, aprofundando os seus sentimentos e imagens.
Dessa maneira, construimos uma maturidade a partir da Terra Devastada.

O nosso processo somático organiza suas próprias imagens herdadas. Ele organiza a imagem do corpo humano - dois braços, duas pernas, dois olhos, posição ereta. Ele também organiza diferentes imagens corporais: o jovem, o adulto, o adulto em envelhecimento e assim por diante.
O processo somático também organiza formas que dão expressão pessoal ao nosso corpo.
A imagem e uma estrutura viva...O soma é um sistema ecológico, como a Terra...

(Fonte: Stanley Keleman, Mito E Corpo, Uma Conversa com Joseph Campbell -
(São Paulo, SP, Summus Editorial, 2001) 


Enquanto estava transcrevendo Keleman,  uma frase de Jung - lida em algum lugar da obra dele que agora não lembro - se fez presença:

UMA IMAGEM, POR MAIS BELA QUE SEJA, NUNCA PODE SUBSTITUIR A VIDA...

Rosanna Pavesi/Abril 2012





domingo, 8 de abril de 2012

MITO E CORPO (1)

Adão e Eva  - by  Martha Telles



AFINANDO O OUVIDO
PARA A VOZ MÍTICA DO CORPO...


Em meados dos anos 70, dois homens se apertaram as mãos pela primeira vez, em meio à neblina de um pier à margem do Pacífico.
Desse encontro mítico nasce a amizade entre um homem já maduro, Joseph Campbell e o então jovem Stanley Keleman.
E por quatorze anos, ambos prosseguiram, fieis a essa afinidade inicial, gerando juntos os seminários anuais que são a base do livro Mito & Corpo, livro este que é o resultado da decantação e destilação dos registros desses seminários, uma edição desse intercâmbio de reflexões sobre mitologia e corpo, uma homenagem de Keleman a Campbell, falecido em 1987.

Ao longo de três postagens, (das quais esta é a primeira), apresentaremos em resumo as idéias principais contidas neste livro que resgata, de forma excepcional, tanto o corpo quanto a mitologia, num casamento feliz...

J. Campbell:
"Mitologia é uma canção, a canção da imaginação inspirada pelas energias do corpo..."

"Os mitos são sonhos coletivos e não devem ser tomados literalmente. Eles são metáforas..."

S. Keleman:
"A mitologia, para mim, é a poética do corpo, cantando sua verdade celular.

O mito é um poema sobre a experiência de ser corporificado e sobre a nossa jornada somática. 
É a canção da criação, a experiência genética que organizou um jeito de cantar, dançar, pintar, contar histórias, que transmitem essa experiência aos outros..."

"Sei que a experiência é um evento corporificado, e o mito, como um processo organizativo, o modo que temos para ordenar a experiência somática.
Os mitos dramatizam a experiência de nossa corporificação e identificam a voz que está falando mais alto em determinado momento..."

"A nossa estrutura corporal determina um modo mítico de pensar e nos dá identidade..."

"Os mitos falam do corpo. A metáfora baseia-se no corpo. Ela é experiencial.
No mito, eu busco o corpo - as suas formas, expressões e atitudes emocionais.
A produção de corpo, o aprofundamento dos repertórios de sentimento e ação, é o que os mitos prometem..."


Mito&Corpo é construido em cinco partes :

PARTE I: Estabelece a idéia de que os mitos descrevem as experiências do corpo. Eles são, na verdade, metáforas para estados corporais internos, experiências e desenvolvimento. Os mitos também ajudam o corpo a organizar e incorporar a experiência.

Nos dias de hoje, os mitos não estão mais enraizados na experiência corporal.
Nós priorizamos as imagens e os símbolos do corpo, as suas funções cerebrais. Isso nos conduz a uma Terra Devastada moderna. Nós negamos o corpo como fonte de conhecimento.

PARTE II: Explora o corpo como processo, fonte de imagens somáticas e histórias. Embora o mito fale do corpo e das suas respostas internas, na prática isso não é mais verdade para a maioria das pessoas.

Cada vez mais corporificamos e incorporamos imagens externas que não têm ressonância interior. Em nosso esforço para aceitar os papeis impostos pela sociedade, vivemos uma vida de imagens, desenraizada de nossa natureza. O propósito da Prática de Corpar é reestimular as imagens do próprio corpo.

PARTE III: Considera a nossa corporificação como a jornada do heroi - uma jornada essencial à nossa natureza somática, aprofundando-a e proporcionando-lhe individualidade.

PARTE IV: Considera o estágio seguinte da jornada do heroi - o sentido de ser um adulto maduro. Começamos a reconhecer que as histórias que contamos, as histórias de nossa vida, falam de nossa corporificação.

PARTE V: Explora as maneiras de viver uma vida somática, mítica. Com o corpo, podemos aprender a viver e a dar forma para suas respostas.
Viver uma vida somática é viver uma vida mítica.
(grifo nosso)


Rosanna Pavesi/Abril 2012

Fonte: Stanley Keleman, Mito & Corpo - Uma Conversa com Joseph Campbell -  ( São Paulo, SP, Summus Editorial, 2001)

IDENTIDADE, APERCEPÇÃO DE SI MESMO E O SENTIDO DA VIDA...

Envolvente - Rosan

 PREMISSA:
Fato ou princípio que serve de base a um raciocínio

SER HUMANO:
Às vezes imaginado como uma unidade bio-neuro-psico-social,
outras vezes como unidade evolutiva encarnada,
ou ainda como uma unidade corpo-mente-psique-espírito
e várias outras definições, dependendo da premissa, ou fantasia, que norteia a visão de ser humano.

 EGO/ EU:
Em psicologia análitica, um complexo:
o complexo do ego, cujo núcleo é arquetípico,
centro do campo da consciência tão só.
Sede das Funções Pensamento, Sentimento, Sensação, Intuição.
Apercepção, Percepção,Volicão, Motilidade, Fala, Sentidos, Função do Real.


Em Roots of Renewal in Myth and Madness de J.W. Perry (UMI - Books on Demand - Ann Arbor - Michigan/USA - 1997), lemos:


"SE A PREMISSA FOR:

O ser humano é fundamentalmente um animal biológico, então o ego é o orgão psiquico responsável pela percepção, compreensão, motricidade, sendo que todas estas atividades terão como finalidade última e exclusiva a adaptação à realidade externa.

Neste caso, o interesse e finalidade principais do ego se concentrarão em torno das relações objetais, que serão tratadas de forma realista e objetiva, ou seja, o ego possuirá uma capacidade bem desenvolvida de testar a realidade de forma objetiva.

A fim de alcançar tal capacidade, um ego desta ordem precisará desenvolver técnicas de defesa contra o poder de impulsos instintuais de natureza diversa - sacrificando-os se necessário - em favor e privilegiando uma boa adaptação ao meio social e suas demandas.

ENTRETANTO, SE A PREMISSA FOR:

O ser humano tornou-se um ser fundamentalmente psicológico, cujo impulso básico é a expansão e o desenvolvimento da consciência de si mesmo e do significado de sua vida, então o ego assume um aspecto diferente. 
Neste caso, a estruturação e a expansão da consciência do ego torna-se a finalidade e o objetivo de muitos processos internos complexos.
Estes processos internos estarão a serviço de uma harmonização entre minha consciência dos significados de meu mundo psiquico interno e o mundo objetivo externo, além da diferenciação das diversas influências, pressões e identificações sofridas a partir do nascimento.

Neste caso, o ego torna-se o portador de meu sentido de identidade, de minha especificidade e unicidade que leva uma vida inteira para se realizar plenamente, e a unicidade de minha visão de mundo que é a expressão substancial de minha natureza.

A busca de significado que vai se desenrolando, ano após ano, é da mesma espécie dos esforços para me tornar a pessoa que eu sou.
O processo envolve tanto uma compreensão e apreciacão de minha existência e de minha natureza, bem como a minha apreciação e compreensão do mundo externo."


A partir desta perspectiva, o que define o que o ego/eu é, enquanto construto teórico, é a premissa que define o que um ser humano é...
Assim, não é a definição teórica de ego/eu que me diz quem eu sou, mas sim a premissa, a fantasia daquilo que um ser humano é para mim, que define a função do ego/eu e quem eu fantasio que eu sou...

Estamos sempre inseridos em uma fantasia, uma crença, quer chamemos a isso de  Ciência,  Humanismo, Progresso,  Ecologia,  Crescimento, Tecnologia e assim por diante.

Cada fantasia, terá suas premissas, significado e finalidade e sua definição de ser humano...
Ao escolhermos uma, dentre as tantas, nos tornamos inevitávelmente unilaterais...
Perdemos todas aquelas que não escolhemos...

Assim que, talvez, o ideal seria um ego/eu imaginal, um ego/eu que - enquanto orgão psíquico -  possa deslocar-se de uma premissa, de uma fantasia a outra,  um ego/eu múltiplo, plural, multifacetado...

Não mais isto ou aquilo, mas sim
isto e aquilo, e aquilo, e aquilo...


Rosanna Pavesi/março 2012