Sobre Sonhos





Nyx/A Noite - Rosan
"Uma Vida Não Basta Ser Vivida. Ela Precisa Ser Sonhada"
(Mario Quintana)

Esta página é dedicada exclusivamente a matérias sobre sonhos, desde os sonhos que sonhamos enquanto dormimos até os sonhos que sonhamos acordados... 
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NESTA PÁGINA:
Sonhos: A Voz da Matéria Cósmica? (M.L.von Franz em conversa com Fraser Boa)
A Pedra e a Pedra de Bollingen
Sobre Sonhos
C.G. Jung: Citações sobre Sonhos
Sobre os Sonhos que sonhamos acordados



Starry Night (foto by Amanda Bellani)


Os sonhos sempre intrigaram a humanidade...
Consultamo-os, às vezes, como oráculos,
às vezes buscamos a interpretação derradeira, a única,
às vezes não lembramos,
às vezes não damos a menor importância...
MAS,
alí estão eles:
sempre nos desafiando,
com seu mistério,
com seu fascínio...



SONHOS: A VOZ DA MATÉRIA CÓSMICA?


(by Rosan)



MARIE-LOUISE VON FRANZ EM CONVERSA COM FRAZER BOA...

PERGUNTA: Se os sonhos são mensagens cuja função é informar a nossa consciência,
por que é que eles, às vezes, são tão obscuros?

RESPOSTA:

"Isso intriga a mim também.
Por que o sonho não nos diz claramente do que se trata?

A resposta que Jung dava é que o inconsciente não o faz porque obviamente não consegue...
Ele não fala a lingua da mente racional.

Os sonhos são a voz da nossa natureza instintiva e animal ou, em última análise,
 a voz da matéria cósmica em nós.

Trata-se de uma hipótese muito ousada, mas eu me aventuraria a dizer que
o inconsciente coletivo e a matéria atômica orgânica
com toda probabilidade são aspectos da mesma coisa.

Assim, em última instância, os sonhos são a voz da matéria cósmica...

Da mesma forma que, como leigos, não conseguimos compreender o comportamento dos átomos
(repare no dialeto chinês que os físicos modernos precisam usar
para descrever o comportamento de um elétron),
precisamos usar o mesmo tipo de linguagem para descrever
as camadas mais profundas do mundo onírico.

Os sonhos nos transportam para mistérios da natureza estranhos à nossa mente racional.
Podemos compará-los à física atômica,
na qual as mais complicadas fórmulas não são suficientes para descrever o que ocorre...".

(Fonte: O Caminho dos Sonhos - Marie-Louise von Franz em conversa com Fraser Boa, Cultrix, São Paulo, SP, 1988)


É uma possibilidade...
Porém não a única...
Vamo simplesmente ficar com os sonhos,
com estas visitações estrangeiras e dar-lhes hospitalidade?
Conversar com nossos visitantes?

Rosanna Paves/Maio 2013


                                                                        A PEDRA         



                                                     "Sou aquele que se senta na pedra ou
                                           eu sou a pedra na qual  ele se senta?" (C.G. Jung)

                          "... a pedra é uma experiência interior, mas não é ego e é preciso
                            muita sabedoria para sustentar este paradoxo" (M.L.von Franz)

                       (Fonte: M.L.von Franz, C.G. Jung - Seu Mito em Nossa Época,
                                            p.215 e pp.226/227 (SãoPaulo: Cultrix)



                                                          PEDRA DE BOLLINGEN



Face Posterior


Face Anterior




Face anterior da Pedra de Bollingen, esculpida por C.G. Jung. A pequena figura no centro é a pupila (você mesmo) que você vê no olho de outra pessoa. A inscrição grega, traduzida por Jung, diz o seguinte:

"O tempo é uma criança - brincando como uma criança - brincando sobre um tabuleiro de xadrez - o reino da criança. É Telésforo, que erra pelas regiões sombrias do cosmos e brilha como uma estrela elevando-se das profundezas. 
Ela indica o caminho para as portas do sol e para a terra dos sonhos". 
(C.G. Jung, Memories, Dreams, Reflections -p.227) 






Cidade de Sonho - Rosan
SOBRE SONHOS...

Desde a Antiguidade os sonhos sempre despertaram o interesse da humanidade.
Na Antiga Grégia havia o processo de incubação de sonhos nos Santuários de Asclépio, o deus da cura.
As pessoas  que procuravam os Santuários estavam  sofrendo e doentes.
Lá chegando, subtemiam-se a ritos de purificação e eram convidadas a dormir no Templo.
Alí deveriam esperar ter "o sonho certo". Tendo o sonho certo, a pessoa despertava curada...

Na Tradição Judaico-Cristã, o sonho aparece muitas vezes em forma de revelação ou profecia, como na história de José do Egito, que escapa da sanha do Faraó antecipando os desígnios de Deus através de sonhos premonitórios.

Através dos séculos, a Religião, a Filosofia, a Medicina e mais recentemente a Psicologia se encarregam de tentar desvendar os segredos desta experiência absolutamente universal do ser humano.

No Universo das Artes, o sonho serve de inspiração a criadores das mais diversas formas de expressão: na literatura, nas artes plásticas, na música, no drama. Mas foi noséculo XX que a expressão onírica tomou forma nos quadros e esculturas surrealistas, no cinema de imagens, nas narrativas não-lineares.

Acolhendo o sonho -  O sonho é feito de um material tênue, delicado, que se revela, ganha vida e atua apenas quando nos importamos com ele, quando nele depositamos nossa atenção e energia. Saber acolher essas "visitações" com interesse e atenção profundos e verdadeiros é fundamental.

Também importante é criar o clima propício, ou seja, a atmosfera adequada, respeitosa e confiante, para que o sonhador possa se depositar, trazendo as suas imagens com a intensidade emocional que elas possuem. Para "sentir o sonho" é necessário despir-se de todo o saber, de toda a leitura, de todas as idéias preconcebidas. É preciso ficar com as imagens, deixá-las falar, se expressar, se desdobrar, ouvir e ver através delas, deixar-se afetar por elas, pois a princípio elas já contêm tudo de que precisam...




                                                              CARL  GUSTAV JUNG 
                                         (Kesswil 26/07/1875 - Kusnacht 06/06/1961)


                                         SOBRE SONHOS: ALGUMAS CITAÇÕES...


"Far-se-ia bem em tratar cada sonho como se fosse algo totalmente desconhecido. Olhe-o de todos os lados, tome-o em sua mão, leve-o com você, deixe que sua imaginação brinque com ele" (CW 10, par.320).

" Qualquer interpretação é uma hipótese, apenas uma tentativa de ler um texto desconhecido" (CW 16, par. 322)

"A arte de interpretar sonhos não se aprende em livros. Métodos e regras são bons quando podemos prescindir deles para trabalhar" (CW 10, par. 325)

"O sonho é uma auto-representação espontânea, em forma simbólica, da situação do in-
consciente ". (CW 8, par. 505)

"Em cada um de nos existe também um 'outro' que não conhecemos. Ele nos fala em sonhos e nos diz quão diferente ele nos vê do que nós nos vemos. Quando, portanto, nos encontramos numa situação difícil, para a qual não há solução, ele pode acender uma luz que muda radicalmente nossa atitude " (CW 10, par. 325) 

"É característico que o sonho quase nunca se expresse de modo logicamente abstrato, mas sempre na linguagem da parábola ou do símile. Essa peculiaridade também é um traço característico das linguagens primitivas... Da mesma forma como o corpo conserva traços de seu desenvolvimento filogenético, também a mente humana os apresenta. Por isso, nada há de surpreendente quanto à possibilidade de que a linguagem figurada dos sonhos seja um vestigio arcaico de nosso pensamento. "(CW 8, par. 474,475).

"O sonho é uma indicação demasiado vaga para ser compreendida enquanto não for enriquecida por associações e analogias e, desse modo, amplificada... "(CW 12,par. 403)

" O conteúdo psicológico dos conteúdos oníricos consiste na trama de associações em que o sonho está naturalmente incluido. Deve-se então tomar como regra absoluta, de início, que todo sonho e/ou fragmento de sonho seja considerado algo desconhecido: tentar uma interpretação deveria vir só depois de uma cuidadosa apreensão do contexto. Podemos então aplicar no texto do sonho o significado encontrado e ver se assim obtemos uma leitura fluente ou se, ainda melhor, aparecerá um significado"(CW 12, part.48).

"Há muitos sonhos  nos quais é possível reconhecer uma estrutura definida, que não é diferente da do drama "(CW 8, par. 561)

"O sonho é um teatro em que o próprio sonhador é cena, ator, ponto, produtor, autor, público e crítico" (CW 8, par. 509).

" Os arquétipos intervêm na formação dos conteúdos conscientes, regulando-os, modificando-os". (CW 8, par. 404)

"Mente o corpo são presumívelmente um par de opostos e, como tal, são expressão de uma só entidade, cuja natureza essencial não se pode conhecer, nem a partir das manifestações materiais experiores tão só, nem de sua percepção interna e direta tão só... (o) ser vivo aparece no plano exterior como corpo material, mas internamente como uma série de imagens das atividades vitais que nele têm lugar. São os dois lados de uma mesma moeda" (CW 8, par. 619)


                "O sonho é uma pequena porta oculta no interior  e mais secreto recesso da alma,  
                                 aberta naquela noite cósmica que era a psique
                             muito antes de haver qualquer consciência do ego, 
                e vai permanecer psique por mais que nossa consciência se estenda."
                                                         (CW 10, par. 304)


Talvez, ao sonhar, estejamos tentando relembrar aquilo que nossas almas sempre souberam... ou como diz J. Hillman : "nossos sonhos recuperam aquilo que o mundo esquece..." (em : Healing Fiction).


                                                                  Rosanna Pavesi/Set. 2011




                                SOBRE OS SONHOS QUE SONHAMOS ACORDADOS...


Cidade de Sonho (by  Rosan)
 Gostaria de propor uma reflexão sobre os sonhos que sonhamos acordados, aqueles sonhos que tecemos para nos e nossa vida, a partir da frase de Mario Quintana que norteia esse blog, a saber:

                              "Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada..."

O que seria sonhar uma vida? Qual a diferença entre uma vida só vivida e uma vida vivida e sonhada?
A meu ver, se só viver não basta, também só sonhar  não basta...Devemos sim sonhar, fazer planos, mas também precisamos ter a coragem de realizá-los, com a ousadia que nossos sonhos reclamam para si...

É sabido que os pais já tecem sonhos a respeito do futuro dos filhos até mesmo antes deles nascerem; de forma que, por certo tempo, "vivemos" dos sonhos que nossos pais projetaram sobre nos... Mas vamos crescendo e somos chamados a tecer nossos próprios sonhos, nos apropriar deles e construir nosso futuro.

Cada etapa da vida possui um foco prioritário, com seus sonhos e projetos e com seus desafios, escolhas e posicionamentos específicos, que vão desde a definição de nossa identidade sexual, vocacional e
 profissional, posicionamentos políticos e religiosos, planejamento de carreira, até a escolha de nosso estilo de vida e estado civil:  casar (ou não), ter filhos (ou não), mudar de cidade ou de país (ou não), mudar de profissão (ou não) e assim por diante.

Às vezes, nos deparamos com "uma pedra no caminho", como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade...Neste caso, é sabio não chutar a pedra, mas sim conversar com ela, perguntar a que veio e ter a coragem de escutar o que a pedra tem a dizer... Pois aquilo que a primeira vista pode parecer um problema, pode ser na verdade uma grande oportunidade. Devemos aprender a acolher a pedra com gratidão...

Em seu livro O Valor do Amanhã  (São Paulo, SP, Edit. Companhia das Letras, 2005) Eduardo Giannetti retoma a fábula da Cigarra e da Formiga e escreve sobre a realidade dos juros e como ela se manifesta em todas as situações da vida prática nas quais os valores presentes e futuros medem forças em nossas escolhas e ações. O autor encerra seu livro com uma bela passagem sobre os sonhos que sonhamos acordados que transcrevo a seguir, por acreditar ser pertinente:

"... Os indivíduos perecem, mas a sociedade a que pertencem - obra aberta que une na mesma trama os valores dos mortos, dos vivos e dos que estão por vir - segue em frente. O passado condiciona, o presente desafia, o futuro interroga.

A previsão lida com o provável e responde à pergunta: O que será?
A delimitação do campo do possível lida com o exeqüivel, e responde à pergunta: O que pode ser?
E a expressão da vontade lida com o desejável e responde à pergunta: O que sonhamos ser?

As relações entre esses modos de conceber o futuro não são triviais: de um lado está a lógica: o desejável precisa respeitar a disciplina do provável e do possível. Mas, do outro lado, está o sonho. Se o sonho desprovido de lógica é frívolo, a lógica desprovida de sonho é deserta. Quando a criação do novo está em jogo, resignar-se ao provável ou ao exeqüível é condenar-se ao passado e à repetição.

No universo das relações humanas, o futuro responde à força e à ousadia do querer. A capacidade de sonho fecunda o real, reembaralha as cartas do provável e subverte as fronteiras do possível.

                                                           Os sonhos secretam futuro. "

É bom lembrar que todas as invenções e descobertas da humanidade foram consideradas, em algum momento, impossíveis...
Quando nossas ações respondem ao apelo de nossos sonhos, encontramos significado em nossa vida e descobrimos sentido em nosso fazer: fazemos com paixão... Quando perdemos nossa capacidade de sonhar, sobram apenas tarefas...
De forma que, talvez, jamais se permitir sonhar acordado, ousar, apostar, arriscar, ou jamais se atrever, possa vir a ser a pior aposta possível.

E se algum sonho ou imagem de fantasia se apresentar, fique com ele/a...Ele/a tem algo a lhe dizer, isso lhe diz respeito... Construa uma ponte entre a realidade psíquica e a realidade terrena pois, afinal, não são dois mundos separados, são apenas as duas faces de uma mesma realidade: a sua...


Quintana tinha razão... Por isto o nome do blog é Oficina de Sonhos, uma Oficina que se quer desejante e participante de "secretar futuro", assim como outros já fizeram no passado e outros ainda  o fazem no presente, cada qual a seu modo...

                               Sim: Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada...


                                                             Rosanna Pavesi/Nov. 2011

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