Psiqueando...

Nyx/A Noite - Rosan
"Uma Vida Não Basta Ser Vivida. Ela Precisa Ser Sonhada"
(Mario Quintana)
                              
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NESTA PÁGINA:
Sobre Psiquear...
Ser Terapeuta...
Homenagem a James Hillman (12/4/1926- 27/10/2011)
Carl Gustav Jung: Cronologia e Trajetória Intelectual




O Beijo - G. Klimt (detalhe)


PSIQUEAR: O QUE É?

"Psiquear" é um termo usado por Rafael López-Pedraza, cuja origem e significado podem ser melhor apreendidos através de alguns trechos do belo testemunho de Maria Fernanda Palacios, que relato a seguir:


(...) "Foi assim que desde 1976 até 1989 López Pedraza ministrou o Seminário de Mitologia da Escola de Letras. (...) a literatura, antes de ser objeto de estudo, era considerada uma ponte para a vida; uma fonte privilegiada de imagens para aprofundar a vida e aproximar-se desde alí à dinâmica da imaginação, ao substrato coletivo e ao valor arquetípico da experiência e aos vínculos da obra de arte com a religiosidade, o irracional e as patologias do homem moderno.

(...) o seminário nos abria para a compreensão do mito de que fazíamos parte, situava-nos psiquicamente diante de nossos complexos e nossas ansiedades, dava-nos a possibilidade de ler nossa história desde o pano de fundo impessoal dos arquétipos e, assim, sem nos dar conta, nos familiarizávamos com uma aprendizagem diferente: um aprender da alma .(grifo nosso)

(...) López sempre advertia que seu trabalho se orientava para uma psicologia da psique ou desde a psique, e não desde um sistema ou escola psicológica determinada. E creio que essa foi a origem de uma palavra que começou a circular no seminário para descrever o que ali se fazia, "psiquear".
 (grifo nosso) Um verbo que nasceu - como diria Rosenblat - do gênio crioulo e familiar de nossa lingua, para aludir a essa atividade que está a meio caminho entre o estudo e a reflexão, alí onde a alma se conecta com a consciência .(grifo nosso).

"Psiquear", para López (porque López - devo dizer- sempre gostou desta palavra) era um verbo semelhante a "imaginar". Se a psique é quem olha através das imagens e quem pode ver através dos limites precisos e diferenciados das formas arquetípicas, "psiquear" seria, afinal, a razão de ser da aula. "Psiquear" tem a ver com o tom anímico de toda conversa verdadeira, (grifo nosso) e se "psiquear" é a possibilidade de ver através das coisas e talvez, também, porque não, deixar que a imagem nos veja, nos descubra, esse verbo pode ser empregado como sinônimo de tourear, no sentido mais culto da palavra. (...) "psiquear" ou tourear as imagens arquetípicas (...) ".

(Maria Fernanda Palacios,   Prólogo - As sextas-feiras de mitologia: uma recordação pessoal -, em Rafael López-Pedraza, Sobre Eros e Psiquê - Um Conto de Apuleio,  pp.9-10 e p.14 (Petrópolis, RJ: Vozes, 2010).

PS: Sou grata à amiga e colega, Selma P. Coppini, por ter-me introduzido ao termo "psiquear"...aí, foi amor a primeira vista...

Títulos em português do mesmo autor:

Edit. Paulus (São Paulo - SP) - Coleção Eros e Psique:
Rafael López-Pedraza, Hermes e Seus Filhos
_________________, Ansiedade Cultural
_________________, Dioniso no Exílio - sobre repressão da emoção e do corpo

Edit. Vozes (Petrópolis, RJ) - Coleção Reflexões Junguianas:
Rafael López-Pedraza, As Emoções no processo terapêutico
_________________, Sobre Eros e Psiquê - Um conto de Apuleio


Rosanna Pavesi/Set. 2011




SOBRE SER TERAPEUTA...

"Ser terapeuta é, antes que profissão, principalmente uma exigência interior, uma paixão pela alma humana, um modo de viver a sua criatividade, pois a prática da análise é uma arte, a arte de criar alma..."
(M.L. von Franz em a Individuação nos Contos de Fada - p. 12)
(Rosanna Pavesi/jan. 2012)

  
      
HOMENAGEM A JAMES HILLMAN
(12/04/1926 - 27/10/2011)
 Nascido em New Jersey em 1926, James Hillman viveu mais de trinta anos no exterior, principalmente na Europa. Em Paris, foi estudante e redator de noticiarios radiofônicos. Estudou também na Universidade do México mas concluiu seu mestrado em Dublin.
Depois de um ano na Índia, fixa-se em Zurique, onde conclui  doutorado em filosofia e psicologia. Treinado como analista junguiano no C.G. Institute of Zurich, exerce durante onze anos a direção de estudos do próprio Instituto.
Em 1978 volta aos Estados Unidos e funda, em Dallas, o Instituto de Humanidades e Cultura.
Em 1981 foi-lhe outorgado a Medalha da Comuna di Firenze/Itália, pelos elos que estabeleceu entre as novas direções do pensamento psicológico e a psicologia do Renascimento florentino.

Psicólogo, renomado conferencista internacional, autor de uma vasta obra, incluindo inúmeros artigos e mais de vinte livros, traduzidos para diversos idiomas.
Autor seminal, analista junguiano, com sua  psicologia arquetípica e pela criatividade de seu pensamento,  influenciou vidas e mentes em uma ampla gama de áreas e do saber. Hillman lecionou nas universidades de Yale, Princeton, Syracuse, Chicago e Dallas.
Faleceu em Thompson, Connecticut/EUA, onde residia, em 27/10/2011.

Dentre sua vasta obra, citamos alguns dos títulos já publicados em português, sem pretender esgotar a lista: Suicídio e Alma, Édipo e Variações, Conversando com os Deuses, O Código do Ser, A Força do Caráter, O Mito da Análise, O Pensamento do Coração e a Alma do Mundo, Ficções que Curam, Re - visando a Psicologia.

Muitas são as homenagens e tributos à memória de James Hillman feitos por ocasião de seu falecimento, tanto no exterior como no Brasil, quer seja na imprensa, em sites, youTube e  blogs da área psi e outras partes...

The Azure Vault (Rosan)
 Neste blog:

TRIBUTE TO JAMES HILLMAN
Video poético por Eldo Stellucci/Itália
http://youtu.be/qMkDNIYczSM
 
ÚLTIMA ENTREVISTA DE JAMES HILLMAN A SILVIA RONCHEY, PUBLICADA EM
"LA STAMPA" (ITÁLIA) EM 29/10/2011

Para ler o texto integral da entrevista, em italiano, acesse o  link:
http://nonsoloproust.wordpress.com/2011/12/01/james-hillman-1926-2011

A seguir, tradução informal para o português, feita por mim para este blog, de alguns trechos da entrevista acima:

Introdução  de Ronchey:  "Estou morrendo e, como nunca antes, estou  empenhado em viver"... Assim escreveu Hillman no último e-mail que me enviou. E assim o encontrei quando de minha última visita em sua casa em Thompson, Connecticut/EUA, poucos dias antes de seu falecimento.O fantasma de si mesmo, com uma vitalidade incrível..." (...)

Trechos da entrevista:
(...)

Ronchey: "O tempo parece ter parado, os ponteiros do relogio marcando a essência derradeira"

Hillman: "Oh, sim. Morrer é a essência da vida"

Ronchey:  "Como é morrer?"

Hillman:  "Um esvaziamento...A primeira coisa a fazer é esvaziar-se. Mas, poderíamos perguntar, o que é e onde está o vazio? O vazio está na perda. E o que se perde? Eu não perdi no senso comum da palavra "perda ". Não, não há perda alguma nesse sentido.
O que há é o fim da ambição. O fim daquilo que nos mesmos costumamos cobrar de nos mesmos. E isso é muito importante. Não nos cobramos mais nada. Começamos a nos esvaziar de nossas obrigações, de nossos vínculos, das necessidades que acreditavamos importantes.
E quando tudo isso começa a desaparecer, resta uma enorme quantidade de tempo. E depois, então, até o próprio tempo começa a escorregar entre nossos dedos, devagar, até que se vai. Então, vivemos sem o tempo. Que horas são? São as nove e meia... Da manhã ou da noite? Não sei. "

(...)

Hillman:  "Aquilo que, simplesmente, cada dia traz, cada única coisa que realizamos durante esse dia, torna-se muito importante. A pessoa, a observação feita, o cheiro do ar naquele preciso momento... E essas coisas  pedem  aceitação, pedem reconhecimento. Neste momento, ainda não encontro a palavra correta para isso. Mas, encontrar as palavras é fantástico. Encontrar a palavra certa é tão importante... As palavras são como travesseiros: quando colocadas da forma correta, elas aliviam a dor."

Ronchey:  "E o diálogo, ajuda a encontrá-las?"

Hillman: "Sim, e isso me deixa tão feliz... Sabe, ultimamente as pessoas têm me procurado como se reconhecessem, em mim, o chamado daquele vazio de que estava falando. Se eu não estivesse tão vazio, as pessoas não viriam."

Ronchey: "Como uma força que atrai?"

Hillman: "Sim, talvez seja isso..."

Rochey: "Ou um estado de sabedoria?"

Hillman: "Não, não é isso. Talvez uma calamidade... As pessoas procuram algo em que agarrar-se. Querem algo, e penso que seja esta  minha capacidade de cristalizar e formular. Duas palavras que são usadas para descrever uma das últimas fases da alquimia: cristalização e formulação. Atualmente, as pessoas não estão bem, o mundo não está bem. Então, de certa forma, o fato de eu ter enconttrado alguma solidez, atrai as pessoas."

Ronchey: "Mas, estava falando do vazio..."

Hillman: "Sim, esse meu esvaziamento expressa algo que só agora ficou claro para mim e  que pode ser resumido em uma só palavra coagulatio.  Há dois princípios que governam todos os processos alquímicos: a coagulatio e a dissolutio.
Coagulatio em alquimia significa alcançar o ponto de pega, tornar-se mais sólidos, mais definidos, formados, dotados de morphe. Neste momento, o processo total que estou atravessando é a coagulatio de minha vida na dimensão tempo. Mas à coagulatio  segue-se sempre a dissolutio. Que é exatamente o seu contrário: dissolução, as coisas que se separam, se diluem, que perdem a sua capacidade de definir-se.

O que é interessante é que, de repente, isto explica os meus sintomas. Penso o tempo todo, morbidamente, que estou afundando, afundando cada vez mais, que estou me dissolvendo...
Mas as duas coisas, dissolução e coagulação, são inseparáveis. Não é incrível? Nunca tinha pensado nisso antes, até que, pela primeira vez, a palavra coagulatio se apresentou, me veiu à mente, se fez presença...

E há a rubefactio, que permite que a beleza apareça, que a beleza se mostre. Assim, agora, sou uma outra pessoa. Nunca antes eu tinha percebido essas coisas em mim. Ou, talvez, nunca antes soube reconhecé-las. Eu  nunca soube antes, quem eu era..."

Conclusão de Ronchey: (...)"


Uma bela imagem alquímica que Hillman nos deixou... "Eu nunca soube antes, quem eu era..." diz ele... Concordo, talvez morrer seja mesmo a essência da vida...


Rosanna Pavesi/Dez. 2011



                        


CARL GUSTAV JUNG: CRONOLOGIA E TRAJETÓRIA INTELECTUAL


CRONOLOGIA

1875 - 26 de julho: Carl Gustav Jung nasce em Kesswil, Cantão de Turghau, Suiça. Filho do Pastor Johann Paul Achilles Jung (1842-1896) e de Emile Preiswerk (1848-1923).
1884 - Jung ingressa no colégio, em Basiléia. Nesse ano também nasce a sua irmã Gertrud  (falecida em 1935).
1895-1900 - Estuda ciências naturais, e depois medicina, na Universidade de Basiléia.
1900 - 10 de dezembro - Assume o cargo de assistente residente de Eugen Bleuler, então diretor do Hospital Mental Burghölzli (Clínica Psiquiátrica da Universidade de Zurique).
1902-1903- Neste inverno, Jung estuda em Paris com P. Janet
1903 - Casa-se com Emma Rauschenbach ((1882-1955), filha de um industrial de Schaffausen. Mais tarde, Emma adotou seus ensinamentos e valeu-se, ela também, do método psicoterapêutico proposto por Jung.
Tiveram cinco filhos: Agathe, Gret, Franz, Marianne e Helene.
1905 - Qualifica-se como professor em psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Zurique, cargo que ocupa até 1913.
1905 - Torna-se médico senior do Burghölzli.
1907 - Em março, encontra-se com Freud em Viena pela primeira vez.
1909 - Jung deixa o Burghölzli e muda-se para sua casa em Kusnacht, às margens do lago, perto de Zurique e passa a devotar-se mais e mais à prática clínica privada.
1909 - É convidado pela Universidade Clark, de Worcester, Mass. (EUA), para dar palestras sobre seus estudos a respeito do teste de associação de palavras. Freud também é convidado para dar palestras sobre sua obra.Viajam junto.
1910 - Fundação da Associação Psicanalítica Internacional. Jung é o primeiro Presidente, entre 1910 e 1913.
1911-1914 - Rompimento gradual com Freud.
1912 - Jung já era um nome conhecido no mundo intelectual. Dando continuidade aos testes de associação de palavras, descobriu os complexos e a multiplicidade da psique.
1912-1919 - Confronto com o inconsciente, conhecido como "doença criativa".
1916 - Palestra a respeito de  "A Estrutura do Inconsciente". Fundação do Clube de Psicologia de Zurique.
1918-1926 - Estudos do gnosticismo.
1920 - Viagem à Argélia e Tunísia.
1924-1925 - Visita aos Indios Pueblos  do Novo México e do Arizona (EUA).
1925-1926 - Expedição ao Quênia, África Oriental Britânica na época, especialmente aos Elgonyi, no monte Elgon.
1933-1939 - Torna-se Presidente da Sociedade Médica Geral Internacional de Psicoterapia e editor do Zentralblatt für Psychotherapie  und ihre Grenzgebiete.
1933-1951 - Participante e professor das Conferências Eranos, em Ascona.
1934 -  Começa a pesquisar alquimia sistematicamente.
1938 - Viagem à India, a convite do governo britânico. Recebe títulos de doutor honorário das universidades de Calcutá, Benares e Allabad.
1948 - Fundação do Instituto C.G. Jung em Zurique.
1955 - 27 de novembro - Falece Emma Jung.
1961 - 06 de junho - Jung falece de um ataque cardíaco, aos 85 anos, em Küsnacht, às margens do lago de Zurique.




TRAJETÓRIA INTELECTUAL

 Quando Jung nasceu, Sigmund Freud tinha 19 anos, Pierre Janet 16 e Adler 5. Jung foi, portanto, o mais jovem dentre os pioneiros da Psicologia no século XX.
Como Jung viveu na neutra Suiça, não sofreu as vicissitudes políticas e ideológicas que afligiram Freud e Adler. Estado multinacional, a Suiça é formada por três grandes grupos étnicos, que mantêm os idiomas dos países de origem (Alemanha, Françá e Itália) e uma forte identidade nacional. Os suiços exercem seus direitos políticos em três níveis: nas comunidades, nos cantões e na federação.

Jung descendia de uma família de intelectuais protestantes. Seu avô paterno, também chamado Carl Gustav Jung, teve uma carreira de sucesso como médico em Basiléia. Foi reitor de universidade, fundou uma casa para crianças excepcionais, escreveu tratados científicos e peças teatrais. C.G. Jung, "o velho" (como era conhecido), parece ter sido uma figura notável e lendária que Jung não conheceu mas cuja imagem sem dúvida exerceu grande influência sobre ele. Samuel Preiswerk, seu avô materno, distinguiu-se como teólogo, conhecia hebraico e ocupou lugar de destaque na Igreja de Basiléia.

Os pais de Jung foram os últimos filhos de famílias extensas e já nasceram quando os seus respectivos pais tinham empobrecido. Johann Paul Achilles, pai de Jung, tornou-se um modesto pastor protestante e casou-se com Emilie Preiswerk, a mais jovem das filhas de seu professor de hebraico.

Jung aprendeu latim com o pai e, posteriormente, grego também. Não aprendeu hebraíco. Até sua ida a Zurique, Jung viveu em Basiléia que, desde o Renascimento, era considerada o coração da cultura européia: na sua infância, quando andava pelas ruas, Jung podia ver o eminente historiador Jacob Burkhardt (que tanta influência exerceu sobre ele posteriormente) ou então Johann Bachofen, que formulou a idéia dos diversos estágios culturais da humanidade, e ele próprio era infalivélmente identificado como o neto do famoso Carl Gustav Jung , "o velho".

Já em 1895 Jung foi admitido na Zofingia, (seção de Basiléia),  conhecida sociedade estudantil suiça. Frequentador assíduo, ele interessava-se por autores como Swedenborg, Mesmer, Schopenauer, Lombroso, e outros.
Entre os 15 e 18 anos Jung viveu uma crise religiosa. Como nos relata em sua autobriografia, esse período foi marcado por discussões longas e estéreis com seu pai, que marcaram profundamente a sua vivência religiosa, que sempre foi herética. Sua obra é pontuada por uma crítica, às vezes dura, ao cristianismo e ao protestantismo enquanto "religião institucionalizada".




 Jung e a psiquiatria: No início do sec. XX,  o professor Eugen Bleuler dirigia o Hospital Psiquiátrico Burghölzli em Zurique. Bleuler introduziu o teste de associação de palavras no Hospital e encarregou Jung dessa pesquisa. Jung passou a aplicar o teste em larga escala no Hospital. As pesquisas - produto de anos de trabalho - estão reunidas nas O.C./Vol. II - Estudos Experimentais.

Nas esquizofrenias e psicoses - e portanto no quadro das doenças presentes no Borghölzli -  Jung fez outra descoberta que, juntamente com a teoria dos complexos, tornou-se pedra angular da psicologia analítica: a do pensamento fantástico, que se move de imagem para imagem, de sensação para sensação, de forma indizível.
No trabalho com esse tipo de paciente, incapaz de se comunicar por palavras, Jung aprendeu o valor das imagens e, ao buscar o sentido e o significado delas, recusando-se a reduzí-las mecanicamente a uma causa, elaborou um novo método e valia-se dele já no Burghölzli: o método sintético-construtivo, também chamado de hermenêutico, ou de amplificação. Nele, o pensar por imagens -  e não o pensar dirigido através da linguagem - é central. Posteriormente, variando a forma, Jung construiu um método auxiliar denominado "Imaginação Ativa".
Pode-se dizer que as duas pedras angulares da psicologia analítica - a teoria dos complexos e o pensar por imagens - emergiram do trabalho de Jung com os doentes do Burghölzli. Sem essas duas chaves, dificilmente Jung teria elaborado o seu principal conceito: o de individuação.

Com o passar dos anos, a psicologia analítica foi valorizando a arte, o criativo, o lúdico. O tempo valorizado pela psicologia analítica delineou-se aos poucos como o presente e o futuro - e não o passado. As imagens e as fantasias passaram a ser valorizadas como tais e não somente como fruto de condições passadas (método redutivo-causal). As fantasias que estruturam os mitos e, como Jung aponta, as imagens arquetípicas presentes  em cada artefato da cultura, inclusive na ciência - tornaram-se assim a brecha, a passagem, a forma de comunicação entre a psicose (as fantasias psicóticas) e a cultura.




A libido como energia psíquica: Jung reformula o conceito de libido, se  afastando do conceito tradicional de libido para a Psicanálise. Em seu livro Símbolos de Transformação (OC. /Vol. V), considerado aliás o livro de rompimento com a psicanálise, Jung  escreve: "a libido é um apetite em seu estado natural. Do ponto de vista energético, é uma necessidade do corpo, como a fome, a sede, o sono, o sexo, bem como estados emocionais ou afetos, que constituem a essência da libido"(par. 194).
Segundo Jung, o mecanismo psicológico que transforma a energia psíquica é o símbolo.
Jung só volta a rediscutir o conceito de libido/energia psíquica em 1928, em um artigo denominado "Energia Psíquica" (OC/Vol.VIII), ainda mantendo suas idéias-chave mencionadas.




A influência de Carl Gustav Carus: A divergência entre Freud e Jung é um capítulo importante na história da psicanáse e da psicologia analítica; porém há outras considerações relevantes a serem tecidas.
Jung tem forte filiação com os românticos e também sofreu  influência de Nietzsche. Citações frequentes de Goethe, Schiller, Schopenauer, Burckhardt, Otto, W. James, C.G.Carus e muitos outros, ao longo de sua obra, permitem um viés de análise diferente.

Uma das influências intelectuais mais presentes e que permitiu a Jung definir o conceito de inconsciente coletivo é Carl Gustav Carus. (1789-1869), médico que viveu grande parte de sua vida em Dresden, na Alemanha.
Na concepção de Carus, o particular é sempre um aspecto do geral, o microcósmico e o microscópico são o desdobramento de um significante macrocosmos. Carus construiu uma ponte com os filosófos e médicos românticos e por intermédio deles ligou-se a uma tradição mais antiga de pensar o homem e a natureza.

Carus compara a psique a um rio majestoso (o inconsciente) continuamente em movimento, iluminado apenas numa pequena área pela luz do Sol (a consciência). Não só a consciência emerge do inconsciente, mas o inconsciente é a fonte que a alimenta e a enriquece continuamente. Para Carus vida e psique têm tal afinidade que a própria vida é o sujeito da psicologia - a vida é onde a psique age e é revelada. (grifo nosso). Para Carus, o criativo identifica-se com o inconsciente. A psique, e portanto a vida,  é uma eterna metamorfose e a criação e destruição explicam essa contínua transformação.

Todas essas idéias estão presentes em Jung e, assim como para Carus, para Jung também:
                                        o protótipo do inconsciente é o criativo. (grifo nosso)


Notas:
(Amnéris Maroni,  - Jung - Individuação e Coletividade,  - Coleção Logos,  (São Paulo, SP - Editora Moderna, 1999).







Alquimia:
"A seu modo, a pedra filosofal, que começa e termina aqui na Terra, coloca o humano antes do divino, redimindo a carne, a matéria..."(C.G. Jung)


Rosanna Pavesi/Nov. 2011

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