sábado, 5 de outubro de 2013

O "EU-AGORA" E... O "EU-DEPOIS"...

Sem Título


O "EU-AGORA"...

"Jovem, entusiasta, frequentemente inebriado de desejo, sempre disposto a desfrutar 
o que o momento pode oferecer de melhor... 
generoso, sem dúvida, mas com a vista curta, certa miopia temporal,
e forte inclinação a descontar pesadamente o futuro.
O bem imediato é sua razão de ser...
O eu-agora vive de forma intensa e tende a encarar a vida não em seu conjunto, 
mas como uma sequência de situações-oportunidades isoladas,
sem um fio condutor que lhes dê maior coerência ou unidade.

O "EU-DEPOIS"...

Um adulto desconfiado, frequentemente avinagrado de preocupações,
sempre com um olho na própria saúde e no carnê da previdência...
Cioso de seu horizonte profissional, cauteloso em meio a um mar de dúvidas,
mas capaz de enxergar um pouco mais longe do que o eu-agora,
ainda que ao custo de muitas vezes descontar pesadamente o presente.
O bem remoto é o seu único foco...

O eu-depois, tenta estabelecer uma boa distância crítica de si mesmo, 
faz uso de certa hipermetropia temporal, 
e procura encar sua vida, se não como um todo e do princípio ao fim,
ao menos como uma sequência razoavelmente estruturada e coerente de opções estratégicas.
O eu-depois é, no fundo, o eu-agora visto de longe e de fora,
à luz do seu próprio passado, mas no silêncio das paixões do momento
 e a parte de um ponto futuro.

Excessos e Abusos

Os excessos e abusos podem advir de ambos os lados...

O eu-agora sem a perspectiva disciplinadora do eu-depois é, no limite, 
um "primata" desmiolado e impulsivo - ração de sereias e de seu canto...
Mas o eu-depois, sem o entusiasmo sonhador do eu-agora não passa de
um autômato calculista e previsível - um ente surdo a qualquer chamado
que ameace a sua existência futura em condição indolor de conforto.
O "robô" e o  "macaco" precisam um do outro...

O abuso de poder por parte do eu-agora se apresenta  como astúcia persuasiva 
quando se trata de legitimar a sua forte preferência  pelo bem aparente da gratificação imediata;  
isso tende a suscitar a reação das forças contrárias, algum "golpe autoritário" de eu-depois...
Como é uma via de mão-dúpla, o eu-agora reage, em seguida o eu-depois também,
e assim por diante, numa gangorra infernal... 

Na mente de um jovem, a disputa pela autoridade entre o eu-agora e o eu-depois 
pode resultar tanto:
 (a) na exploração do velho que ele um dia será pelo jovem que ele é, como
   (b) na exploração do jovem que ele é pelo velho que ele imagina um dia ser...
A passagem é estreita..."

(Notas:Eduardo Giannetti em  Auto-Engano, Cia das Letras, São Paulo, SP, 1997)




A Árvore da Vida (by Rosan)


Reconhecer a presença tanto do eu-agora como do eu-depois dentro de nos, a nível intrapessoal , 
em qualquer idade, me parece fundamental...
Porém, a partir da perspectiva de um eu-agora que já se tornou um eu-ontem
no presente de um eu-depois, 
confesso que gosto de ter sido um pouco sensata, porém não muito, quando jovem, 
e de ter feito apostas totalmente "insensatas" quando jovem e já na vida adulta também...
apostas que não respondiam a uma lógica calculista mas sim à força de um sonhar a vida,
 além de simplesmente vivé-la... 
Pessoalmente, não me arrependo...

Finalizando...

Em outro livro do mesmo autor (O Valor do Amanhã, Cia das Letras, São Paulo, SP, 2005), 
há duas frases que me inspiram até hoje e que transcrevo aqui, deixando a reflexão
 por conta de cada eventual leitor desse texto:

"A vida é um intervalo finito de duração indeterminada..."

"O futuro responde à ousadia do nosso querer. 
A capacidade de sonho fecunda o real, re-embaralha as cartas do provável 
e subverte as fronteiras do possível.

OS SONHOS SECRETAM FUTURO...

Fico com a "versão 2005 "...

(Rosanna Pavesi/Outubro 2013)

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