sábado, 14 de setembro de 2013

SOBRE COMO TRATAR A TERRA: O JARDIM DO ÉDEN...

(by G. Klimt)


SOBRE COMO TRATAR A TERRA:
O JARDIM DO ÉDEN...

"... Titio conhecia a terra como as rugas no seu rosto, como conhecia as veias nas costas de suas mãos
- o quintal dos fundos, o pátio lateral, depois a saída para o campo mais próximo,
para os campos médios e distantes.

Quando caminhávamos por esses campos, nossas botas ficavam cada vez mais pesadas,
cheias de lama negra grudada. A parte superior dos músculos da coxa era muito forçada.
Cada vez mais tensão era necessária para desgrudar o último passo e poder dar o seguinte.
Mas isso nós adorávamos - essa pequena luta que não fazia mal a ninguém.

Caminhávamos, com os ouvidos atentos para para a saúde das plantas,
das árvores e das lavouras ao redor.
Aquela mata estava ocupada pelo número necessário de borboletas?
As árvores estavam cheias da quantidade certa de pássaros canoros?
Nós sabíamos que tanto os pássaros quanto as borboletas eram importantes
para o transporte do pólen entre as árvores frutíferas,
para que fosse abundante a colheita de cerejas e houvesse  uma quantidade apreciável
de peras, ameixas e pêssegos a conservar para o inverno.

Enquanto caminhávamos, titio matutava:
 "Já ouvi pessoas perguntando onde fica o jardim do Éden.
Ora! Qualquer lugar que se pise nesta terra é o jardim do Éden.
Toda esta terra, por baixo dos trilhos de trens e das rodovias,
da sua roupagem gasta, de seu entulho, de tudo isso,
é o jardim do Éden, com todo o frescor do dia em que foi criado...


Capins (by Rosan)


Não importa o tamanho do jardim - seja ele de um côvado por um,
tenha ele campos tão imensos que não se veja o fim -
quando se está plantando direito deve-se afagar a terra, sem parar,
remexendo pequenos punhados dela.
Ser delicado... Ser econômico...
É assim que se deve tratar a terra,
com consideração, com delicadeza e presença de espírito."

Foi assim que aprendi que esta terra, da qual dependíamos para nossa alimentação,
nosso ganha-pão, nosso descanso, para a oportunidade de ver a beleza,
deveria ser tratada da mesma maneira que esperaríamos tratar os outros e a nós mesmos.
 O que quer que seja que aconteça a este campo,
de algum modo, também acontecerá a nós..."

(Fonte: Clarissa Pinkola Estés, O Jardineiro que Tinha Fé: Uma Fábula Sobre o Que Não Pode Morrer Nunca, 
Rio de Janeiro, RJ, Rocco, 1996)




Brotos (by Rosan)


Fui criada no campo mas me tornei urbana...
Hoje, morando em uma grande cidade como São Paulo,
meu jardim se resume a orquídeas, samambaias, peperônias
e algumas frutíferas que cultivo em vasos, como carinho, afinco e muita adubação...

Me considero sortuda, tenho algum verde, algumas flores
e passarinhos que me visitam no 15.o andar...
É meu pequeno jardin do Éden no coração da cidade...

Rosanna Pavesi/setembro 2013

Nenhum comentário: