domingo, 13 de janeiro de 2013

O ALQUIMISTA...


Presentes do Mar (by Rosan)


SOBRE O MEU TRABALHO...

Vocação descoberta tardiamente...
Minha outra grande paixão...

Há quatro H's que norteiam meu trabalho:
Humanidade, Honestidade
Humildade, Humor...

Jung dizia que
 "... o encontro de duas personalidades
assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas:
se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação...".

Verdadeiro...
Foi ao fazer terapia que descobri minha verdadeira vocação
e sofri uma transformação que  mudou minha vida...
Voltei a estudar, me tornei Psicóloga Clinica e Psicoterapeuta de Abordagem Junguiana.

Hoje, exercendo minha profissão  há mais de quinze anos, transcrevo e dedico este poema,
escrito no papel de cliente há muitos anos atrás,
a todos os alquimistas que conheço em minha profissão e dentre os quais gosto de me incluir e, principalmente,
a meus clientes,
sem os quais não haveria nem alquimia nem transformação mútua possível...

E é  sempre bom lembrar que, tanto como terapeutas e/ou como clientes,  
Somos todos humanos...
A mão do alquimista também treme de vez em quando...


A Pérola do Amor (by Rosan)


O ALQUIMISTA

"Este homem não me amou, nem munca me beijou ou abraçou como homem...
Me magoou, sim, mas não fugiu, ou abandonou, nem me entregou, ou criticou

Uma vez somente gritou, outra me censurou, mas também me endossou
Sua mão tremeu, sim, uma vez só
Mas me olhou, me viu, me ouviu, me falou e silenciou

Me olhou como pessoa, com aquele olhar estranho
Impiedoso e tão cortante, eficiente e arrogante, ou alegre e brincalhão,
Às vezes tão profundo, preocupado, as vezes um pouco ausente, ou irreverente,
Mas sempre com muita compreensão...

Me ouviu pacientemente, bocejou de vez em quando, disfarçou tranquilamente,
mas estava ali, presente.

Me falou quando podia, quando eu lhe permitia
Às vezes com carinho, ou com ternura, outras com ironia, compaixão ou alegria.
Me tirou do escuro e, em silêncio, me devolveu à luz,
Me sacudiu, me ensinou, me emprestou sua energia.

Resgatou todo um passado, devolveu-me em poesia mil palavras corriqueiras.
Dissolveu minhas magoas, libertou minhas muitas lágrimas,
desmanchou meus muitos nós,
acariciou meus pensamentos,
 suavizou meus pesadelos...

Companheiro, sem querer, de uma viagem tenebrosa,
mas também maravilhosa
Este homem me ajudou..."
(Rosan - 1991)

Ao transcrever o poema voltei atrás no tempo e, confesso, hoje, a partir de outra perspectiva, fiquei feliz de reencontrar esta parte de mim que pertence à minha primeira experiência de terapia na vida, experiência alquímica que transformou minha vida de forma tão radical ...

Rosanna Pavesi/Janeiro 2013



Coniunctio: Os Noivos Vão à Cidade  (by Rosan)








domingo, 6 de janeiro de 2013

SOBRE O PINTAR COMO FORMA DE EXPRESSÃO: INDAGAÇÕES E DIVAGAÇÕES...


                     Gostaria de iniciar 2013 com dois posts sobre minhas duas "grandes paixões":

                                                          a pintura e meu trabalho...


                                                                     
A Árvore da Vida (by Rosan)


 SOBRE O PINTAR COMO FORMA DE EXPRESSÃO: INDAGAÇÕES E DIVAGAÇÕES


SOBRE O PINTAR...


A Paixão (by Rosan)


O espaço do pintar é o espaço da imaginação, um espaço de liberdade, onde as dimensões espaço-tempo são relativizadas e as possibilidades tornam-se vivenciáveis. 
Este espaço pode ser o espaço da lembrança, mas também o espaço do futuro, inserido no presente como atualidade.

Pintar é um ritual pessoal, individual, podendo servir de continente e salvaguardar a estabilidade da personalidade quando em transição de uma situação psicológica, ou existencial, para outra.
Como ritual, a pintura é uma jornada da alma através das imagens, um ato de re-criação do próprio eu em transição...
Ao pintar, buscamos re-ligar emoção, significado e ação.

O gesto, 
 torna-se um gesto simbólico, um gesto de integração fisiopsiquíca, um gesto estruturante
 e também um gesto de amor, um amor dirigido à nossa alma.
Quando pintamos, não há segredos,
 mas sim um profundo mistério.

Ao pintar, buscamos lançar uma ponte entre os dois mundos
que Jung denomina respectivamente de Florescente e Flamejante:

O Flamejante: o mundo de Eros... É um impulso para o alto, é vertical, representa a criatividade, a espontaneidade, o movimento, a mutação, a chama, a paixão, o transcendente...

O Florescente: o mundo da Árvore da Vida... é o impulso para o horizontal, a expansão, o imanente, a conservação da vida, o espírito da civilização, a trivialidade do cotidiano com toda sua poesia...

Pintar é uma tentativa de reconciliar estes dois mundos:
Temos uma tela em branco que pede para ser preenchida,
e somos confrontados com o desafio de dar substância a um impulso, a uma imagem interna,
dentro dos limites de um espaço demarcado...
tem que caber alí, na tela, assim como o impulso criativo tem que caber na vida cotidiana,
 assumir uma forma, encontrar seu caminho, penetrar o mundo...

Se olharmos para as imagens pintadas como uma série, assim como fazemos às vezes com os sonhos,
podemos observar que, frequentemente, elas se modificam ao longo do processo,
podendo desdobrar-se em diversos quadros,
cada qual enfocando um dado especto de um mesmo tema,
 facilitando sua compreensão e o escoamento da emoção ligada à imagem.
As imagens parecem possuir sua própria intencionalidade, finalidade e significado específico,
dirigido a quem as pintou...

Isto parece confirmar o fato de que a energia sempre sabe quais os caminhos a percorrer,
qual o gradiente correto para cada momento.
A imagética da alma parece possuir seus próprios caminhos e propósitos,
 trazendo à tona os conteúdos da psique em seu próprio ritmo e tempo,
estruturando-os em imagens, evocando reflexões sobre o momento de vida específico de quem as pinta
e isso sempre, a nosso ver, com o intuito de esclarecer, guiar, iluminar
os recantos mais escuros da psique, tornando-os acessíveis à nossa consciência.

Uma vez que a energia dificílmente troca de meta se não se transforma,
uma das funções das imagens é justamente promover tal transformação.

As imagens pintadas não necessitam necessariamente ser simbólicas no sentido coletivo ou universal...
Elas podem tornar-se símbolos pessoais, possuindo um conteúdo simbólico para quem as pintou...
Os símbolos são os dínamos que transformam uma modalidade de energia em outra.

Ao pintar, os anseios ganham forma, contornos, cor, limites, expressão...
 eles comunicam, eles dizem, simbolizam...
A qualidade da pintura é importante mas, mais importante ainda,
é o impulso transbordante de vida que está por detrás dela.

A pintura pode também funcionar como elemento facilitador de contatos revitalizantes com a psique, conduzindo à expansão da criatividade e ampliação de potencialidades,
permitindo a revelação, expressão e comunicação de conteúdos psiquícos,
estimulando transições e mudanças e propiciando, muitas vezes,
descobertas surpreendentes.

Eu pessoalmente, pinto por necessidade e por amor...
por necessidade:
 de expressar "coisas" que somente consigo expressar através da pintura;
 por amor:
 amor à psique, amor às imagens...
amor ao discurso da psique, ao longo do tempo, conosco...
Uma grande paixão...
Um grande amor...


(Notas: Rosanna Pavesi, - A Psique em Busca de Expressão - Pintura e Vocação na Metanoia,  em "Jung e Corpo"- Revista do Curso de Psicoterapia de Orientação Junguiana Coligada a Técnicas Corporais, Ano III, N.o 3, 2003)


Rosanna Pavesi/Janeiro 2013


No próximo post: meu trabalho...