sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A ESSÊNCIA DO MISTÉRIO...

The  Moon by Crystal Liu - Fonte: WEB


A ESSÊNCIA DO MISTÉRIO...

"Em todo mistério há o oculto que se mostra, sem esgotar a si mesmo e
revelando que, além do que aparece, permanece o abrigo de sua escuridão.



Mistério é o oculto que dá indícios de si - e por isto constitui um mistério.

 O que se esconde por inteiro não chega a se tornar um mistério porque dele não há nenhum vestígio. 

O que se exibe por completo, esse não guarda nenhum mistério dentro de si.


Em todo mistério tem que haver o claro e o oculto:
a lembrança do inacessível que, guardando-se da luz, dá mostras de sua ausência.

No mistério, o inalcançável possui uma face visível que torna presente sua ausência, sem eliminá-la.
O mistério é o ausente-presente.

O ausente, isso é o fundamental em todo mistério, é indissociável do que se apresenta.
O oculto não constitui "um outro", separado do que se revela...
O oculto é o próprio que se mostra, 
o ausente é o que se apresenta como ausência.
No mistério está sempre presente o inatingível, o ausente à percepção do pensamento.

O inaparente não é apenas a face oculta do aparente, mas é no próprio aparente:
os dois são como uma moeda em que uma face se prolongasse na outra sendo nela mesma.
O mistério está todo alí e, no entanto...permanece inatingível!

Talvez como a lua nova, que se oculta mantendo-se inteiramente no céu...e, nascente, 
ainda indica nela a presença do manto da noite, compondo as duas 
- sombra e luz - o mesmo círculo concluso.

Ou como o opaco da pérola, que brilha escondendo seu brilho...

Em todo mistério, descoberto e coberto são um no outro o mesmo
(sem jamais se igualarem)...

Essa é a essência do mistério:
ser descoberto no encoberto...

Mistérios não são desafios nem enigmas, não são imagens nem sombras projetadas,
Mistérios são a sombra luminosa de si mesmos!
Clareá-los significaria fazê-los desaparecer no oculto de si próprios.

Seria como iluminar uma pérola para esclarecer a origem de seu misterioso brilho.
A pérola não pode ser mais clara, óbvia em seu mistério,
do que já é - não tem nada mais a revelar.
Iluminando-a desaparece o mistério...e, com ele, o brilho da própria pérola.

Mistérios não se desnudam, nem se permitem desnudar-se.
Mistérios se auscultam, se descrevem, se indagam...se meditam:
mas não se desvelam...

Mistérios 
são o brilho da pérola, as cores das asas do pavão, o esplendor do pôr-do-sol,
a linguagem do homem.
Misterioso é o ente, o real. O mundo...O ser..."

(Guy Van de Beuque em " Experiência do Nada como Princípio do Mundo"
Faperj-Mauad, 2004)

Um dos textos mais bonitos e instigantes que já li sobre o tema...
Poesia...
Só compartilho, nada tendo a acrescentar...

Rosanna Pavesi/Novembro 2014





domingo, 19 de outubro de 2014

POETANDO...

O Jardim de Afrodite - by Rosan



POETAR...

No poetar do poeta,

como no pensar do filósofo,

se instaura tal mundo,

que qualquer coisa,

seja uma árvore, uma montanha, uma casa,

o chilrear de um pássaro,

perde toda a monotonia e vulgaridade...

(M. Heidegger em Introdução à Metafísica - p.50


Lembramos ainda, de vez em quando,
de poetar?


Rosanna Pavesi/Outubro 2014

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O SONHO, O LIVRO, AS "CHAVES"...

"Envolvente" - by Rosan


AS "CHAVES"...
"O valor das idéias criativas está em que, tal como acontece com as "chaves",
elas ajudam a "abrir" conexões até então ininteligíveis de vários fatos,
permitindo que o homem penetre mais profundamente no mistério da vida.

Acredito firmemente que as idéias de Jung podem assim servir
 à descoberta e à interpretação de novos fatos em muitos campos da ciência
(e também da vida cotidiana), levando o indivíduo, simultaneamente,
a uma visão mais equilibrada, mais ética e mais ampla do mundo.

Se o leitor sentir-se estimulado a se ocupar mais largamente
da exploração e da assimilação do inconsciente
 - tarefa que se inicia sempre por investigar nosso próprio inconsciente -
o propósito desta obra introdutória terá sido plenamente alcançado"
(Marie-Louise von Franz - Conclusão: A Ciência e o Inconsciente em
O HOMEM E SEUS SÍMBOLOS - Edit.Nova Fronteira - 10.a edição -1964)




O LIVRO...


Na primavera de 1959, a convite da BBC, John Freeman entrevistou Jung
para a televisão inglesa.
Esta entrevista alcançou sucesso e o livro O Homem e Seus Símbolos é,
de certa forma,
 e por estranha combinação das circunstâncias, resultado daquele sucesso.

Num primeiro momento Jung declinou o convite de colocar
algumas das suas idéias básicas em linguagem e dimensão acessíveis ao leitor
não especializado no assunto, alegando - com grande firmeza -
 que nunca tentara, no passado, popularizar sua obra,
e não tinha certeza de poder fazer isto com sucesso naquele momento...



O SONHO...

Foi nesta ocasião que Jung teve um sonho da maior importância para ele.
Sonhou que, em lugar de sentar-se no seu escritório para falar a ilustres médicos
e psiquiatras do mundo inteiro que costumavam procurá-lo,
estava de pé num local público dirigindo-se a uma multidão de pessoas
que o ouviam com atenção e que compreendiam o que ele dizia...
A partir disto, mudou de ideia e surgiu o livro O Homem e Seus Símbolos...
O livro se quer uma obra coletiva, e não individual,
 e foi escrito em parceria com um grupo de seus mais íntimos colaboradores.

Jung escreveu o Capítulo 1. - Chegando ao Inconsciente,
onde discorre sobre a importância dos sonhos, sua função, sua análise,
 o simbolismo dos mesmos, a alma do homem, símbolo, arquétipo e outros...


Recebi este livro de presente de uma pessoa muito querida,
num momento especial de minha vida:
Estava prestes a deixar para trás a profissão da primeira metade de minha vida
para iniciar a Faculdade de Psicologia e tornar-me Psicóloga Clínica
e Psicoterapeuta de abordagem junguiana...
Um "chamado" vocacional acolhido e que mudou minha vida...

Assim, li este livro pela primeira vez como leiga e fiquei fascinada...
Não sei se compreendi o que o livro dizia MAS compreendi o suficiente
para ter clareza de qual seria meu caminho dali em diante...

Hoje coordeno uma Oficina de Sonhos em meu consultório, `
experiência fascinante e gratificante...
Às vezes a "chave" aparece, se revela, se oferece.
outras vezes não...
esperamos...
Contamos histórias, ouvimos o discurso da alma, conosco...

Rosanna Pavesi/Outubro 2014