sem título - by Rosan
CONSCIÊNCIA DE FRACASSO...
"(...) Em um mundo em que só encontramos proposições e fórmulas cujas metas são o sucesso, escrever algo que leve o título de "consciência de fracasso" põe quem o escreve em posição diametralmente oposta às demandas prementes da consciência coletiva.
Porém isso que tratamos de refletir é produto de um movimento psíquico
sobre o que nos pressiona interiormente para que
o conheçamos e o tornemos consciente -
isso que aqui chamo de consciência de fracasso.
E o fracasso, como tema a ser discutido, está fora das inquietudes de nosso tempo.
O fracasso e o que lhe diz respeito está fortemente reprimido;
é COMO SE isso fosse a última coisa de que gostaríamos de nos inteirar...
O assunto, sem dúvida, tem a ver com minha prática como psicoterapeuta.
É COMO SE a partir do meu trabalho
me fosse um pouco mais fácil imaginar que se alguém vem me ver e falar comigo,
em outras palavras, entrar em terapia,
é porque algo fracassou em sua vida:
os moldes em que vivia já não funcionam, fracassaram, desmoronaram.
Sem título - by Rosan
Isto é, na psicoterapia a pessoa que se encontra na minha frente está vivendo um fracasso e,
apesar dos níveis superficiais em que às vezes aparece,
usualmente esconde complexidades insuspeitadas.
Uma coisa é chamar isso de fracasso e mover-nos para a consciência dele
e outra coisa é chamarmos eufemisticamente de crise ou algo do tipo,
com a desculpa redutora de que é uma crise que pode ser resolvida com facilidade,
quando na realidade, está alterando uma vida inteira;
e nem sempre esse fracasso ou essa crise promove uma reorientação ou um novo sentido do viver.
Que alguém tenha sofrido um fracasso em sua vida e consequentemente venha para a terapia,
NÃO quer dizer que perceba nem remotamente esse fracasso e, muito menos,
que se aproxime dele como sendo um veículo propiciador
que o mova para isso que chamamos consciência de fracasso.
Psicologia - by Rosan
Muitas vezes pode ocorrer que as expectativas do cliente são de que a psicoterapia
respalde e reforce suas fantasias de sucesso.
E também ocorre, e é o pior, que grande parte da psicoterapia atual se reduz a apoiar a devoção unilateral do sucesso em que tem vivido o cliente, purificando-o redutivamente de tudo o que se oponha ao sucesso como meta pessoal e coletiva.
E mais:
se ao cliente lhe custa aceitar ou ou mesmo pronunciar a palavra fracasso,
ao psicoterapeuta ocorre o mesmo.
Pode ser que nisso sejam os psicoterapeutas os mais aptos a entender o que quero dizer,
já que me parece muito insensato o psicoterapeuta que se identifique com os seus "sucessos"
e tem uma atitude triunfalista pois, se age assim,
não terá outro remédio senão o de identificar-se também com os fracassos,
a não ser que divida essa mecânica de sucesso e fracasso como quem divide uma maçã
e conceba ingenuamente que os sucessos são seus e os fracassos do cliente....
O modelo que proponho é o do psicoterapeuta que está a serviço
de um processo regido por arquétipos constelados na psicoterapia;
arquétipos através dos quais a natureza humana se expressa psiquicamente,
e num processo em que nem sempre há uma concordância
do tempo interno e externo na relação terapeuta-cliente.
Duas alquimias distintas e de complexidades insondáveis
e que, ainda assim,
tornam possível o suceder psicoterapêutico..."
(Rafael López-Pedraza - Consciência de Fracasso em Ansiedade Cultural - Paulus, 1997)
Catavento - by Rosan
Neste post me limitei a fazer um pequeno recorte do tema no âmbito da psicoterapia...
Mas o capítulo inteiro acima citado a meu ver - deveria ser conferido.
A meu ver, sempre que a imagem excessivamente triunfalista predomina de forma unilateral,
já traz em seu bojo seu oposto também excessivamente negado......
Rosanna Pavesi/Abril 2016
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