segunda-feira, 18 de abril de 2016

NOTAS SOBRE A CONSCIÊNCIA DE FRACASSO E PSICOTERAPIA...

                                                            sem título - by Rosan


                    CONSCIÊNCIA DE FRACASSO...

"(...) Em um mundo em que só encontramos proposições e fórmulas cujas metas são o sucesso, escrever algo que leve o título de "consciência de fracasso" põe quem o escreve em posição diametralmente oposta às demandas prementes da consciência coletiva.

Porém isso que tratamos de refletir é produto de um movimento psíquico 
sobre o que nos pressiona interiormente para que 
o conheçamos e o tornemos consciente - 
isso que aqui chamo de consciência de fracasso.

E o fracasso, como tema a ser discutido, está fora das inquietudes de nosso tempo.
O fracasso e o que lhe diz respeito está fortemente reprimido;
é COMO SE isso fosse a última coisa de que gostaríamos de nos inteirar...

O assunto, sem dúvida, tem a ver com minha prática como psicoterapeuta.
É COMO SE a partir do meu trabalho 
me fosse um pouco mais fácil imaginar que se alguém vem me ver e falar comigo, 
em outras palavras, entrar em terapia, 
é porque algo fracassou em sua vida: 
os moldes em que vivia já não funcionam, fracassaram, desmoronaram.



Sem título - by Rosan


Isto é, na psicoterapia a pessoa que se encontra na minha frente está vivendo um fracasso e, 
apesar dos níveis superficiais em que às vezes aparece, 
usualmente esconde complexidades insuspeitadas.

Uma coisa é chamar isso de fracasso e mover-nos para a consciência dele 
e outra coisa é chamarmos eufemisticamente de crise ou algo do tipo, 
com a desculpa redutora de que é uma crise que pode ser resolvida com facilidade, 
quando na realidade, está alterando uma vida inteira;
e nem sempre esse fracasso ou essa crise promove uma reorientação ou um novo sentido do viver.

Que alguém tenha sofrido um fracasso em sua vida e consequentemente venha para a terapia, 
NÃO quer dizer que perceba nem remotamente esse fracasso e, muito menos, 
que se aproxime dele como sendo um veículo propiciador 
que o mova para isso que chamamos consciência de fracasso.


Psicologia - by Rosan

Muitas vezes pode ocorrer que as expectativas do cliente são de que a psicoterapia
 respalde e reforce suas fantasias de sucesso.

E também ocorre, e é o pior, que grande parte da psicoterapia atual se reduz a apoiar a devoção unilateral do sucesso em que tem vivido o cliente, purificando-o redutivamente de tudo o que se oponha ao sucesso como meta pessoal e coletiva.

E mais:
se ao cliente lhe custa aceitar ou ou mesmo pronunciar a palavra fracasso, 
ao psicoterapeuta ocorre o mesmo. 

Pode ser que nisso sejam os psicoterapeutas os mais aptos a entender o que quero dizer, 
já que me parece muito insensato o psicoterapeuta que se identifique com os seus "sucessos" 
e tem uma atitude triunfalista pois, se age assim, 
não terá outro remédio senão o de identificar-se também com os fracassos, 
a não ser que divida essa mecânica de sucesso e fracasso como quem divide uma maçã 
e conceba ingenuamente que  os sucessos são seus e os fracassos do cliente....

O modelo que proponho é o do psicoterapeuta que está a serviço 
de um processo regido por arquétipos constelados na psicoterapia; 
arquétipos através dos quais a natureza humana se expressa psiquicamente,
e num processo em que nem sempre há  uma concordância
do tempo interno e externo na relação terapeuta-cliente.

Duas alquimias distintas e de complexidades insondáveis
e que, ainda assim,
tornam possível o suceder psicoterapêutico..."

(Rafael López-Pedraza - Consciência de Fracasso em  Ansiedade  Cultural - Paulus, 1997)


Catavento - by Rosan


Neste post me limitei a fazer um pequeno recorte do tema  no âmbito da psicoterapia...
Mas o capítulo inteiro acima citado a meu ver - deveria ser conferido. 

A meu ver, sempre que a imagem excessivamente triunfalista predomina de forma unilateral,  
já traz em seu bojo seu oposto também excessivamente negado......

Rosanna Pavesi/Abril 2016

   




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