domingo, 20 de setembro de 2015

AS VIRTUDES DA CAUTELA: UM APELO AO DESPERTAR DE NOSSAS RESPOSTAS ESTÉTICAS...

                                                              O Bosque - by Rosan


AS VIRTUDES DA CAUTELA...

Trechos extraídos do belo artigo de James Hillman - com o mesmo título - publicado 
originalmente em Resurgence - n. 213- August 2002.

"(...) Ao diminuir a velocidade e questionar os meios mais evidentemente eficientes, 
a precaução incita inovações e experimentos.

Um convite a Hermes, o de mente mercurial, para testar maneiras previamente não imaginadas 
de se chegar aos mesmos fins e que estejam de acordo com esses fins. 

A necessidade causada pela cautela, na verdade, se torna a mãe da invenção...

Sou um psicólogo e, como tal, preciso oferecer um chão psicológico à cautela. 
Três tipos de fundos de cena, 
são particularmente interessantes de serem lembrados:

O primeiro é a máxima hipocrática: PRIMUM NIHIL NOCERE:

Antes de qualquer ação, ou plano de ação, antes de mais nada, considere o lado ruim antes do bom.
Considere os riscos ao invés dos benefícios.
 Aborde os piores cenários possíveis e estenda na integra a noção de "fazer mal".
É importante lembrar que toda intervenção nos modos do mundo 
sempre atrai uma sombra 
e que a Terra tem suas próprias virtudes e forças, ou seja lembrar que 
a natureza pode estar agindo de maneiras que nossa falta de precaução não nos deixa perceber.
A cautela hipocrática traz consigo um fundo de animismo antigo, 
de respeito pela dignidade e poder dos fenômenos. 
Solicita uma escuta atenta dos fenômenos...

O segundo é o daimon de Sócrates:

Em vários trechos dos escritos de Platão, Sócrates é descrito como alguém que se detém
 diante de uma ação devido à intervenção de seu daimon.
Este daimon, espírito, anjo, voz interior, gêmeo invisível, 
este "fator psíquico autônomo" (Jung), espírito cauteloso...
Segundo Sócrates, o espirito acautelador nunca diz a alguém o que fazer, 
só o que não fazer...
Ele age unicamente como cautelar e fala de maneira peculiar: 
não estatística nem cientificamente, 
mas como anedota ou superstição, sintomaticamente como augúrios, pistas e sussurros;
até mesmo através de eventos corporais como espirros, bocejos e soluços.

O terceiro é o background endêmico das sociedades ocidentalizadas em qualquer lugar,
a depressão...

A depressão, quer da psique, quer da economia, é desesperadamente
 temida nas sociedades ocidentalizadas e todas as medidas possíveis são  mobilizadas
 contra ela.
A pressão que sentimos, as drogas que tomamos, as expectativas que nutrimos 
e os ditados da expansão econômica global, 
são todas medidas anti-depressivas.

A precaução, desta perspectiva, tem pouco valor.
Sugerir cautela numa sociedade maníaca é entendido por ela somente como depressão e, 
por isso, o princípio da cautela deve ser introduzido em termos maníacos, 
como inovador, progressista, penetrante, visionário 
e benéfico em escala mundial."

Além dos backgrounds hipocrático, socrático e depressivo à psicologia da cautela, 
Hillman acrescenta um quarto pano de fundo: A Beleza.

Diz ele:
 " A Beleza pára o movimento, nos arrebata; retemos a respiração, 
ficamos surpresos ou maravilhados, espantados ou mesmo aterrorizados 
e o mesmo é verdadeiro também com relação à feitura...

A beleza recai sobre nós num relance, nos agarra e solta. O horror faz o mesmo.
A resposta estética é dada com a psique, como um daimon interno acautelador 
que nos detém,  como o humor depressivo que recusa a ação.

A beleza porém impele à ação...
Isto é, a resposta estética simples conduz ao protesto estético contra a feiura por um lado e, 
por outro, ao desejo estético de preservar, proteger e restaurar o belo,
MAS
 a beleza, bem  como  a cautela, não foi feita para ficar quieta...
A beleza só quer que nós detenhamos por um momento o insensato e insensível impulso 
para a frente afim de abrir os sentidos ao provocar a resposta estética.

Nossos narizes, assim como nossos olhos e ouvidos
 também são instrumentos políticos, protestadores.
Uma resposta estética é uma ação política...

Nos posicionar a favor de nossas respostas,
essas reverberações estéticas da verdade na alma,
pode ser o principal ato cívico do cidadão, 
a origem da cautela e do próprio princípio de precaução com seus avisos para
parar, olhar e escutar..."

(James Hillman)


Não sou uma pessoa cautelosa por natureza... muito pelo contrário...
Com o tempo, aprendi sobre os backgrounds hipocrático, socrático 
e depressivo numa sociedade maníaca..
Aliás descobri que nossa sociedade é maníaca com Hillman...
As coisas foram se clareando...

Hoje, ainda dou "grandes saltos", porém aprendi que o ditado
NÃO é " Não salte", mas SIM "Olhe antes de saltar.."

E eu olho...




Rosanna Pavesi/Setembro 2015















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