quinta-feira, 15 de setembro de 2016

"SE EU FOSSE EU"...




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SE EU FOSSE EU...

"(...) Sua dificuldade era ser o que ela era, 
o que de repente se transformava numa dificuldade intransponível.

Eu existo, estou vendo, mas quem sou eu?
E ela teve medo.
Parecia-lhe que sentindo menos dor, 
perdera a vantagem da dor como 
aviso e sintoma.

Estivera incomparavelmente mais serena,
porém em grande perigo de vida:
podia estar a um passo da morte da alma,
a um passo deste já ter morrido,
e sem o benefício do seu próprio aviso prévio.




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(...) "Se eu fosse eu" parecia representar o maior perigo de viver,
parecia a entrada nova do desconhecido.
Ser-se o que se é, era grande demais e incontrolável.

Ela sempre se retinha um pouco, se guardava
Por que e para quê?
Para o que estava ela se poupando?

Era um certo medo de sua capacidade, pequena ou grande.
Talvez se contivesse por medo de não saber 
os limites de sua pessoa.

Seu desespero vinha de que não sabia sequer 
por onde e pelo que começar.
Só sabia que já começara uma coisa nova
e nunca mais poderia voltar à sua dimensão antiga.



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E sabia também que devia começar modestamente,
para não se desencorajar.

E sabia que devia abandonar para sempre a estrada principal.
E entrar pelo seu verdadeiro caminho
que eram os atalhos estreitos...

(C. Lispector - "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres")



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A vantagem da dor como aviso e sintoma....

Resistir à tentação de "anestesiar-se" , de "morrer em vida" 
para não sentir dor, para calar a pergunta que persiste:

"Mas, e se eu fosse eu, como seria?" ...

E, pelos caminhos e atalhos estreitos da vida
ter a coragem de descobrir...



Rosanna Pavesi/Setembro 2016

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