quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O "MAPA DO AMOR" E O AMOR ROMÂNTICO...

"A Pérola do Amor" by Rosan



O "MAPA DO AMOR"...

"...O "mapa do amor" é uma das maneiras como a psicologia tenta explicar 
os mistérios da paixão.

Crescemos num ambiente parental onde certos aspectos dão prazer,
satisfazem necessidades, revitalizam. 
Estas características formam um esquema que nos cativa quando uma pessoa,
que parece ter os atributos do mapa do amor, cruza o nosso caminho.

Helen E. Fisher em seu livro Anatomy of Love, diz que "À medida que 
crescemos, este mapa inconsciente toma forma e uma proto-imagem 
composta do ser amado ideal aos poucos vai surgindo".

O mapa do amor consiste em camadas.
Estudos multiculturais afirmam que existe um nível coletivo
para os mapas do amor em geral, como por exemplo a boa compleição. 
Nas mulheres, corpos carnudos, bem delineados, ancas fartas, são universalmente
atraentes. Nos homens, bens materiais, carros, sucesso, fama.

Depois, há camadas refletindo tradições, modas e normas da
comunidade local. A teoria dos mapas do amor  sugere que o condicionamento 
ambiental determina o objeto do seu desejo.



Serm Título - by Rosan


Outros psicólogos chamam este objeto de projeção.

Segundo a psicologia analítica (abordagem junguiana), 
a projeção brota de uma fonte arquetípica como parte da essência íntima
de cada alma. 

Na abordagem junguiana, o mapa do amor tem aspectos 
altamente individualizados porque é uma imagem complexa no coração
que "cativa" e o sentimento de que isso é um chamado do destino.

Quanto mais obsessiva e irresistível for a imagem,
tanto mais loucamente nos apaixonamos, o que intensifica a convicção 
de que o destino está realmente chamando.

Dá-se os nomes de anima e animus a este fator arquetípico que
inclina o mapa do amor para uma pessoa determinada. 
Estas figuras podem ter traços superficiais do mapa do amor,
mas não podem ser reduzidas a ele.
Anima e Animus são as palavras latinas para "alma" e "espírito".

Então seu coração pode ficar cativado por esta imagem e há sempre
uma configuração desconhecida estruturando nosso mapa e
permeando-o com experiências de milagre e mistério.



O Beijo - by Klimt


AMOR ROMÂNTICO

A experiência do amor romântico ultrapassa todas as situações,
reivindicando devoção ilimitada.
Para Platão, a mania era uma intervenção dos deuses, especificamente
Afrodite e Eros. 

Pouca coisa na vida parece mais exclusivamente feita para a gente,
mais pessoalmente dirigida à gente do que o momento maníaco do romance.
O romance parece profético, parece destino, carma.
"Só tinha de ser você"... "Só você"... "Procurei, procurei e achei"...

Esta atração "fatal", impessoalmente chamada  de química e ligada a
fenômenos subliminares, tem uma autonomia de força própria,
além da genética e do ambiente.

A fantasia enfeita o mapa ou, mais provavelmente, desenha-o.
Estudos empíricos do amor romântico declaram "que o amor
romântico está inexoravelmente associado à fantasia".

A idealização é essencial a esse amor, não a imitação.
Não a réplica do conhecido, mas a expectativa do desconhecido...
Estamos "totalmente fora do mapa". 
Estamos no terreno da transcendência, onde as realidades usuais 
são menos convincentes do que as invisibilidades...




Bouquet de Noiva by Rosan


(...) Por isto o estilo maníaco do amor romântico diverge dos demais mapas do amor.
O chamado se cristaliza naquela pessoa cujo rosto chama você para aquilo
que parece ser o seu destino.
Esta pessoa se torna uma "divindade exteriorizada", dona do meu destino,
dona de minha alma, como dizem os românticos,

"O enamoramento romântico...se dá... quase por acaso"
A ciência comportamental conclui "que o acasalamento humano é 
intrinsecamente aleatório".
Recorre à sorte para explicar a escolha mais importante de todas,
porque a psicologia enquanto ciência não ousa imaginar o que não pode aferir"

(J. Hillman em O Código do Ser - Objetiva, 1997)


A Pérola do Amor by Rosan



ADENDO...

O filósofo espanhol Ortega y Gasset diz que nos apaixonamos poucas vezes
numa vida longa.
É um acontecimento raro e fortuito e toca muito fundo.

Este amor só acontece por causa da singularidade do objeto. Só esta pessoa.

Nem atributos, nem virtudes, nem voz, nem ancas, nem conta bancária,
nem projeções de paixões anteriores, nem padrões familiares herdados, 
mas simplesmente a singularidade desta pessoa escolhida pelos olhos do coração.

Sem este sentimento de destino na escolha, o romance do amor não funciona.
Pois este tipo de amor não é um relacionamento social nem uma epistase genética,
mas é provavelmente uma herança daimonica,
um dom e uma maldição de ancestrais invisíveis...



O Jardim de Afrodite - by Rosan


Há um belo livro do sociólogo italiano Francesco Alberoni -
Enamoramento e Amor (Cultrix) - para os interessados no tema.

Nem sempre o enamoramento  romântico se torna um "amor para toda a vida",
mas é um fenômeno que - em épocas de "amores fluidos"-  vale a pena pesquisar...

Rosanna Pavesi/Setembro 2017





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