Vozes - 1993
SUICÍDIO E ALMA
Escreve J. Hillman no Prefácio à Edição Brasileira:
"... há aspectos sociológicos, climáticos e culturais no assim chamado
"problema do suicídio" variando de lugar para lugar, de nação para nação.
Mais fundamental, porém, é o fato de que o suicídio é inerente à natureza humana em toda parte -
cada um de nós tem opção de pôr fim à vida que vive;
e o suicídio é altamente especifico em cada indivíduo -
cada um de nós contempla o ato em seu próprio estilo.
O fato de a "taxa de suicídio" ser alta em certo País e baixa em outro,
mantém nossa mente enredada em fascinações estatísticas, o que não nos diz absolutamente nada
sobre esse impulso humano e o papel específico que desempenha
na alma de um determinado indivíduo.
Dados sobre o suicídio são de todo irrelevantes no momento de se contemplar a morte
ou quando tentamos compreender a partir do interior o ato suicida
de um paciente, de um professor, do irmão, do amado, de um jovem...
J.Hillman
O que se busca é esta compreensão a partir de dentro,
um método para uma investigação psicológica genuína, que supere moralismos religiosos
e diagnósticos psiquiátricos.
(...) Da compreensão de uma questão essencial - aquela que Camus disse ser a ÚNICA questão -
a possibilidade de ser pôr fim à própria vida.
E então:
o que quer a alma ao imaginar e até realizar esta possibilidade?
Não o caráter nacional ou as estatísticas atuariais dos suicídios,
não a classificação de bilhetes suicidas por idade,
status sócio-econômico e educacional,
não os vários modos de auto-destruição conforme a religião,
a época do ano, as preferências sexuais e os regimes alimentares dessas "vitimas",
nem sequer seus "motivos" e "perfis", - mas o que quer a alma
ao apresentar à mente esta ideia inominável e à vontade a determinação de executá-la?
Pois esta é a questão - e é sempre a mesma pergunta qualquer que seja o tema
(casamento ou divorcio, aborto ou maternidade, segurança ou liberdade):
- o que quer a alma?"
Fonte: WEB
Para a Sociologia, o suicídio é um fenômeno sociológico estabelecido.
Deve ser prevenido e/ou combatido: retorno ao grupo.
Para o Direito é um crime: não matarás.
Para a Teologia é pecado (não matarás) e um ato de orgulho e rebelião.
Para a Medicina trata-se de defender a vida e promovê-la, a vida orgânica, a vida do corpo.
A ALMA: a alma e o corpo podem apresentar exigências conflitantes.
Segundo Hillman, é na alma que se deve procurar a justificativa para um suicídio.
O suicídio afirma a realidade independente da alma, sendo que a alma não é um conceito,
é um símbolo...
Indaga ainda Hillman:
"Talvez a morte orgânica tenha poder absoluto sobre a vida
apenas quando não se permitiu a morte no seio da vida?".
Um livro publicado pelo primeira vez há mais de 25 anos,
que continua instigante a cada nova leitura..
Rosanna Pavesi/Junho 2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário