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Sem título - by Rosan
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SOBRE SÍMBOLO...
A) -
SÍMBOLO SEGUNDO C.G. JUNG
“(...) Em minha concepção, o
conceito de símbolo é bem distinto do simples conceito de sinal.
Significado simbólico e semiótico são coisas bem diversas.
A roda alada do uniforme do ferroviário NÃO é
um símbolo da ferrovia,
mas sim um sinal de que a pessoa integra o serviço
ferroviário.
O símbolo, no entanto,
pressupõe sempre que a expressão escolhida
seja a melhor designação ou fórmula
possível de um fato relativamente desconhecido,
mas cuja existência é
conhecida ou postulada.
(...) Enquanto um símbolo for vivo,
é a melhor expressão possível de alguma coisa.
E só é vivo enquanto cheio de
significado.
Mas, uma vez brotado o sentido dele, isto é, encontrada aquela
expressão
que formula melhor a coisa procurada, esperada ou pressentida
do que
o símbolo até então empregado,
o símbolo está morto, isto é, só terá
valor histórico.
Uma expressão usada para
designar coisa conhecida continua sendo apenas um sinal
e nunca será um
símbolo.
É totalmente impossível, pois, criar um símbolo vivo, isto é, cheio
de significado,
a partir de relações conhecidas.
(...) Na medida em que toda
teoria científica encerra uma hipótese,
portanto é uma descrição antecipada de
um fato ainda essencialmente desconhecido,
ela é um símbolo.
(...) Depende da atitude da
consciência que observa se alguma coisa é símbolo ou não.
É bem possível, pois,
que alguém estabeleça um fato que não pareça simbólico à sua consideração, mas
o é para outra consciência (símbolo individual X símbolo social X símbolo
universal).
(...) O símbolo vivo formula
um fator essencialmente inconsciente e,
quanto mais difundido (universal) este
fator, tanto mais geral o efeito do símbolo,
pois faz vibrar em cada um a corda
afim. (...)
Como o símbolo vivo tem que conter em si o que é comum a um grupo
humano bem grande
para, então, atuar sobre ele, (o símbolo) deve abarcar
exatamente o que pode ser comum a um grupo humano bem amplo.
Jamais poderá ser
algo muito diferenciado e inefável, porque isto só o entende uma minoria,
mas
tem que ser algo tão primitivo cuja onipresença esteja fora de dúvida.
Só quando o símbolo alcançar
isto e o apresentar como a melhor expressão possível,
terá eficácia geral.
Nisto consiste a eficácia poderosa e, ao mesmo tempo, salvífica de um símbolo
socialmente vivo.
(...) Os puros produtos da
consciência, bem como os produtos exclusivamente inconscientes,
NÃO são de per
si símbolos categóricos, mas cabe à atitude simbólica da consciência
de quem
observa atribuir-lhe o caráter de símbolo.
(...) O símbolo é sempre um
produto de natureza altamente complexa,
pois se compõe de dados de todas
as funções psíquicas.
Portanto (o símbolo) não é de natureza racional e nem
irracional.
Possui um lado que fala à razão e outro inacessível à razão (algo sempre
“escapa...).
A carga de pressentimento e de significado contida no símbolo
afeta
tanto o pensamento quanto o sentimento.”
(Fonte: Tipos Psicológicos – XI
Definições – C.G. Jung – OC VI – par. 903-917 – Vozes, 1991).
Mais...
“(...) O que chamamos símbolo
é um termo, um nome,
ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida
diária,
embora possua conotações especiais além do seu significado evidente e
convencional.
Implica alguma coisa vaga, desconhecida ou oculta para nós.
(...) Assim, uma palavra ou
uma imagem é simbólica quando implica
alguma coisa além de seu significado
manifesto e imediato.
Esta palavra ou esta imagem têm um aspecto “inconsciente”
mais amplo,
que nunca é precisamente definido ou de todo explicado.
E nem
podemos ter esperanças de defini-la ou explica-la.
Quando a mente explora um
símbolo,
é conduzida a ideias que estão fora do alcance da nossa razão.
Por existirem inúmeras coisas
fora do alcance da compreensão humana
é que frequentemente utilizamos termos
simbólicos como representação de conceitos
que não podemos definir ou
compreender integralmente.
Esta é uma das razões por que todas as religiões
empregam uma linguagem simbólica
e se exprimem através de imagens.
MAS este uso consciente que
fazemos de símbolos é apenas um aspecto
de um fato psicológico de grande
importância:
o homem também produz símbolos, inconsciente e espontaneamente,
na forma de sonhos.
Geralmente, o aspecto
inconsciente de um acontecimento nos é revelado através de sonhos,
onde se
manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica.
(...) Quando nos esforçamos
para compreender os símbolos,
confrontamo-nos não só com o próprio símbolo como
com a totalidade do indivíduo que o produziu. Nesta totalidade inclui-se um
estudo do seu universo cultural.
(...) Há símbolos naturais,
distintos dos símbolos culturais.
Os primeiros são derivados dos
conteúdos inconscientes da psique e,
portanto, representam um número imenso de
variações das imagens arquetípicas essenciais.
Os símbolos culturais, por outro
lado, são aqueles que foram empregados
para expressar “verdades eternas” e que
ainda são utilizados em muitas religiões.
Passaram por inúmeras transformações
e mesmo por um longo processo
de elaboração mais ou menos consciente,
tornando-se assim
imagens coletivas aceitas pelas sociedades civilizadas."
(Fonte: O Homem e Seus
Símbolos –1. – Chegando ao Inconsciente – C.G. Jung – Ed. Nova Fronteira –
10.a Edição.)
Pode-se considerar o símbolo
como o produto da união de opostos, uma síntese,
uma união dos contrários. É o terceiro elemento, é algo novo...
(vide
Função Transcendente mais adiante).
Symbolen: o símbolo reúne aquilo que foi
partido.
Ao lidar com material
inconsciente (sonhos, fantasias, etc.), as imagens podem ser tratadas
tanto semioticamente, como signos sintomáticos que indicam fatos
conhecidos ou cognocíveis, como
simbolicamente, como expressão de algo essencialmente desconhecido.
A atitude simbólica é, no
fundo, construtiva, no sentido de que dá prioridade à compreensão do
significado ou propósito dos fenômenos psicológicos, em vez de procurar um
explicação redutiva.
É também importante averiguar o efeito do
símbolo sobre o sentimento, suas impressões sensoriais, seu significado, seu
conteúdo ideacional, o investimento de energia psíquica no mesmo...
De acordo com Jung, o símbolo
possui a capacidade de transformar e redirecionar a energia psíquica, através daquilo que ele chamou
de Função Transcendente.
A Função Transcendente é,
em sua essência, um aspecto de auto-regulação da psique
e se manifesta, tipicamente, de modo simbólico.
O símbolo é o produto desta Função, que é
experimentada e vivenciada
como uma nova atitude em face de si mesmo e da
vida.
Esta Função, cujo produto é o
símbolo, é chamada de Transcendente
porque vai além dos opostos, os
transcende,
nada tendo a ver com transcendência espiritual no sentido geral
do termo.
B) –
SÍMBOLO PARA J. HILLMAN:
SIMBOLIZAR: Ver imagens simbolicamente, ou
transformar imagens em símbolos.
SÍMBOLO: Contém, no mínimo, uma ideia
principal e uma imagem.
Ambos, a imagem e a ideia, têm em comum algo da
experiência humana
que é durável através do tempo.
Ele (o símbolo) condensa um
grupo de convenções que tende à universalidade.
A convencionalidade no
agrupamento similar de ideias numa imagem
é a chave para o
reconhecimento dos símbolos.
O símbolo traz o profundo, o
poder da história e da cultura, a generalidade do universo,
a generalidade da
experiência humana, verdades inexprimíveis e banalidades.
Ser ele poderoso ou trivial depende da
qualidade da imagem.
Segundo Hillman, há dois
caminhos:
a)
– Abordar as imagens via símbolos
(simbolicamente):
quando, onde, generalidade, convencionalidade
da imagem.
O símbolo generaliza e descreve as possibilidades simbólicas,
a
fenomenologia dos arquétipos da psique objetiva.
b)
– Abordar os símbolos via imagens,
(imagisticamente):
o como, as particularidades, as peculiaridades
da imagem.
Na investigação sobre imagens, há uma valoração das imagens;
todas
as imagens se revestem de valor arquetípico.
Qualquer imagem que é tomada
como símbolo, tomada em sua dimensão universal,
deixa de ser imagem.
- Seria correto tratar o sonho
só como imagem?
A prática dos sonhos como
imagens suspende nossa teoria que se baseia na abordagem simbólica. Pode ser
vista como uma tentativa de voltar para o desconhecido,
que até alguns
anos atrás estava centrado no símbolo, “explorando” a imagem.
- Com os sonhos:
totalidade
presente na imagem; tudo que está ali é necessário/ tudo que é necessário está
ali;
fidelidade à imagem na sua apresentação precisa.
(ex.: cisne grande, não
pequeno, vivo, não morto, etc.).
- Dissolver a substância
nominativa em metáfora:
Ex. a “flecha” nomeando e/ou simbolizando uma coisa
X
a “flecha” como uma ação veloz e como qualificação multifacetada.
- NÃO traduzir a imagem em
coisas e/ou conceitos.
Ficar com a árvore, não com o conceito e/ou o símbolo da árvore.
(Notas:: Trilogia das Imagens: Image-Sense, Spring 1979; An Inquiry into Image; Further Notes on
Image – James Hillman)
Do meu ponto de vista, tanto
abordar as imagens via símbolos – os seja simbolicamente –
quanto abordar os
símbolos via imagens – ou seja imagisticamente – tem seu valor.
O universal e o particular...
Posto que ambos estão presentes nos seres humanos e em nossos sonhos.
Penso que o importante é saber quando estamos
amplificando um símbolo
e quando estamos particularizando uma imagem e fazer bom uso dos
dois caminhos...
Por fim creio que, assim como com o símbolo,
também nenhuma
imagem, possa ser alcançada em sua totalidade.
A vitalidade, o
vigor psíquico de uma imagem e/ou de um símbolo reside justamente
naquilo que
foge, que escapa, que resiste a ser “des-velado” por completo...
Que é o que
intriga, instiga nossa curiosidade, que alavanca, que toca, que afeta...
QUE É VIVO...
Rosanna Pavesi/setembro 2014